15 de setembro de 2009

Amália sings fados & flamencos

A CNM à edição do álbum original acrescentou quatro faixas bónus gravadas no ano seguinte nos mesmos estúdios norte-americanos, os Angel. Neste conjunto de faixas surge o Fado Modesto ("Antigamente") com letra de Frederico de Brito, a nova letra de "Canção do mar" de Ferrer Trindade de autoria de David Mourão-Ferreira e dois temas mexicanos: "Falaste corzón" e "Por un amor".
A interpretação de Amália é primorosa plena de sentimento e sem qualquer esforço, em voz plena e sem gritar, todas as notas no seu tempo, revelando um extraordinário compasso. O acompanhamento na primeira gravação de 1954 é de Jaime Santos (guitarra portuguesa) e Santos Moreira (viola). No ano seguinte Amália volta aos Angel Studios acompanhada por Domingos Camarinha (guitarra) e, novamente, Santos Moreira.
A primeira gravação resultou no LP "Amália sings Fados from Portugal, Flamenco from Spain", e Amália canta já uma versão bilingue (inglês e português) de "Coimbra", o "Fado da Saudade", "Uma casa portuguesa", "Lisboa não sejas francesa", e os flamencos, sem traição do sotaque, "Tani", "No me tires indiré", "Dice cascabeles" e a Zambra do Sacro-Monte, "Lé ré lé".
O final de "Coimbra" é fabuloso sem hesitações nem excessos, a pasagem do português para o inglês é feita sem soberssaltos ou hesitações; grande à vontade no "Lisboa não sejas francesa" e "Uma casa portuguesa", nenhum deles de sua criação, mas que se tornariam para todo o sempre seus.
É porém um deleite para os ouvidos do século XXI esta impecável edição em CD da Amália na força plena de voz e capacidade interpretiva, com todas as sílabas ditas e as "voltinhas" que só ela sabia dar e fazernos impressionar (oiça-se o Fado Modesto), não há mais fadista (!). E, extraordinariamente arrepiamo-nos igualmente ao escutar os temas mexicanos que julgamos de uma mexicana tratar-se, mas a criatividade é tão única que imediatamente percepcionamos que se trata da grande Amália. Só ela era capaz de dar aquele acento grave em "Falalste C..." ou o desalento sentido em "Por un amor".
O "arrozoado" de "Lé Ré Lé" é absolutamente granadino e segue num perfeito ziguezague "gitano" noutros temas espanhóis, sem arabismos desnecessários, ou falsetes, toda melodia e entrega absoluta de voz e emoção. Bem vindo este CD que nos permite ouvir a Amália em perfeitas condições, na idade das "meninas" de agora, e perceber a diferença: o que é entrega e autenticidade e o que não passa de "pastiche". Parabéns à CNM e viva Amália.
fonte ~ hardmusica

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