28 de junho de 2007

Mário Correia: Prémio Europeu Agapito Marazuela 2007

Mário Correia, investigador, criador e o impulsionador do centro de música tradicional Sons da Terra em Sendim, foi reconhecido com o Prémio Europeu de Folclore Agapito Marazuela, na sua 13º edição. Este galardão é convocado pela Associação Cultural Ronda Segoviana, e foi-lhe entregue no dia 9 de Junho em San Quince. Mário Correia, de nacionalidade portuguesa, é uma das figuras mais destacadas do panorama actual da música tradicional lusa. Com este prémio, o jurado quis reconhecer o grande trabalho de difusão do folclore português através da rádio e da televisão, assim como na meia centena de discos de recolhas de música tradicional portuguesa, uma dúzia de livros e centos de artigos, entre outros frutos do seu trabalho. Com base desde 2001 no centro de música tradicional Sons da Terra na localidade portuguesa de Sendim, Mário Correia procurou os pontos coincidentes que existem nas culturas de Portugal e Espanha.
Com este galardão, o prémio Agapito Marazuela adquire dimensão europeia, e incorpora ao seu nome o adjectivo de europeu em sinal de apoio à candidatura de Segovia como Capital Europeia da Cultura de 2016. Isto pressupõe uma maior presença de candidaturas europeias entre os diversos aspirantes. O jurado foi composto, entre outros, pelo catedrático de Antropologia da UNED, Honorio Velasco; o científico do Instituto de la Lengua Española, Luis Díaz-González-Viana; o folclorista Luis Martín Díez, membro de Nuevo Mester de Juglaría, e a jornalista María Luisa García. O prémio é uma representação em bronze do busto de Agapito Marazuela, realizada por García Moro.
fonte ~ interfolk, nº 33

27 de junho de 2007

Rão Kyao | Porto Alto

Rão Kyao
Porto Alto


Ouvir a música de Rão Kyao é sinónimo duma liberdade de viajar por sonoridades e paisagens, que podem ser tão distantes como a Índia ou o Oriente mais longínquo, entre outras coordenadas geográficas. O último trabalho discográfico Porto Alto não é excepção, tendo como base as nossas raízes culturais.

Apesar de ser um disco de composição própria, tem a rara qualidade de nos "ensinar" diversas morfologias musicais portuguesas, sem camuflagens pseudo-inovadoras, comprovando que a simplicidade da sonoridade tradicional também pode ser eficaz e cativante, como é o caso de Castro Verde ou Rabela de Vilarinho. No entanto, uma tradição perde o seu sentido quando estancada no tempo e na memória, sendo passível de novas formas, rumos e encontros. Por este motivo, neste último disco percebemos facilmente
que as melodias ciganas e árabes cruzam-se com a nossa tradição musical, convidando-nos a percorrer trilhos por esse Portugal profundo e a saborear os aromas do Pão, do Azeite e do Vinho.

E deixamo-nos embargar pelos sentidos, dando asas à imaginação de percorrer vales e montanhas, (re)habitar aldeias esquecidas no pulsar do tempo, sentir o suor do trabalho na terra... Tudo isto, num lento viajar à descoberta das nossas raízes culturais, juntamente com o atrevimento de saltar fronteiras, numa curiosidade de conhecer o "mais além" que nos influencia, sem qualquer tipo de receio ou constrangimento. Pelo contrário, esta viagem sensorial faz-se demasiado curta, deixando-nos sedentos de futuras sonoridades, marcadas pelo sopro da flauta e pela visão peregrina de Rão Kyao.

© Sara Louraço Vidal, 2007

Alinhamento
  1. Dança dos montes (mp3)
  2. Rodinha na Eira
  3. Saudando o Sol
  4. Castro Verde
  5. A lua e os lobos
  6. Porto de Alfama
  7. Balada do pão
  8. na apanha da azeitona
  9. Pelo vinho da alegria
  10. Lamento redentor
  11. Nas margens do Guadiana (Intro e 1º Movimento)
  12. 2º Movimento
  13. Rabela de Vilarinho
  14. Um canto transmontano
Produção: Luis Pedro Fonseca
Gravado, Misturado e Masterizado nos Estúdios Xangrilá em Dezembro de 2003 e Janeiro de 2004

26 de junho de 2007

Dulce Pontes | O coração tem três portas

Dulce Pontes
O coração tem três portas
Ondeia, 2007

Pleno de carga emocional e vocal, Dulce Pontes apresenta-nos o seu último trabalho discográfico “O coração tem três portas”, passados 4 anos sobre o seu encontro com Enio Morricone.

Enraizando-se na sonoridade tradicional portuguesa, esta reconhecida cantora a nível internacional afirma a sua faceta mais fadista, homenageando figuras tão importantes do imaginário do Fado, tais como Fernando Maurício, Amália Rodrigues e Hermínia Silva. No entanto, apesar de nos iniciar nos primeiros temas com uma interpretação mais tradicionalista, como que invocando tempos antigos, gradualmente vamos entrando num novo conceito musical sobre o Fado, muito próprio e característico de Pontes, que assume o papel de produtora, responsável pelos arranjos, pianista, compositora e directora musical deste novo disco duplo: o primeiro gravado ao vivo em tour mundial, e o segundo explorando a envolvencia acústica da Igreja de Sta Maria em Óbidos e do Convento de Cristo em Tomar (Portugal). E como se fosse pouco, somos ainda convidados a ver um DVD com imagens do concerto em Istambul, bem como uma entrevista e o making-off do CD2.

Longe do tipicismo dos bairros históricos de Lisboa, podemos ouvir a preocupação em criar novos ambientes sonoros e em inovar na estética tradicional, através de arranjos musicais mais complexos e completos, consolidando a madurez e a potencia vocal de Dulce Pontes, que não se cinge somente em recuperar a expressão do Fado, mas igualmente do Folclore lusitano em geral. De facto, o lirismo, o barroquismo ou a simplicidade conjugam-se alternadamente não só a nível musical, como também a nível instrumental, seja pelo trinar despido da guitarra portuguesa, pelo embalo do violoncelo e da harpa, ou pelo despertar da gaita e da percussão, entre outras presenças.

Não é um disco de nostalgia nem de resignação, mas antes uma declaração de vida contagiante, na qual a emoção perpassa por cada som e silêncio, e onde as portas são-nos abertas para fazer-nos comungar dos sentimentos que nos são transmitidos. É uma entrega artística e espiritual sem reservas, onde a indiferença não tem sentido.

© Sara Louraço Vidal, 2007