15 de agosto de 2008

Dois mil e duzentos ranchos folclóricos têm o seu pico de actividade em Agosto

Guimarães, 14 Ago (Lusa) - Agosto é mês de trabalho para os dois mil e duzentos grupos de folclore existentes em Portugal. Serão mais de cem mil praticantes amadores que têm como único "pagamento" os passeios e as viagens ao estrangeiro feitas em grupo.

Dois deles, Marta e Júlio, vão ter este sábado, em Viana do Castelo, a prova da entrega voluntariosa com que os praticantes se dedicam ao folclore. O seu casamento vai contar com a bênção do Rancho Folclórico das Lavradeiras de Vila Franca.

Os noivos dançam no rancho e, no dia da boda, serão os cantadores e as cantadeiras, nos seus trajes minhotos, a animar a missa e a festa do matrimónio.

"No grupo toda a gente trabalha de graça, com ensaios uma vez por semana e espectáculos três fins-de-semana por mês", disse à Lusa Rafael Rocha, presidente da associação cultural que dá nome ao rancho.

"É claro que, quando um dos cinquenta membros do grupo precisa, nós vamos todos ajudar", referiu ainda Rafael que, não sabe bem há quantos anos atrás, entrou para o rancho "para ver se conseguia namorar com uma rapariga".

O namoro não avançou, mas o "amor" pelo folclore permaneceu e são vários os casamentos entre membros do grupo, que têm como padrinhos os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai.

"Eles vinham muitas vezes a Viana do Castelo e aceitaram apadrinhar as Lavradeiras de Vila Franca", disse, com orgulho, Rafael Rocha.

Com dois mil e duzentos grupos legalmente existentes em Portugal, o folclore é uma das áreas culturais que envolve "mais praticantes e mais adeptos".

"Em muitas aldeias e vilas, os grupos folclóricos são o motor de toda a actividade social", explicou Fernando Ferreira, presidente da Federação do Folclore Português (FFP).

"Sem as viagens dos grupos, sem as actuações no estrangeiro, havia pessoas que morriam sem sair da terra onde nasceram", frisou.

Com cerca de 50 elementos por grupo, entre músicos, dançarinos e cantadeiras, o folclore movimenta milhares de pessoas que trabalham gratuitamente.

"Os ranchos têm a vertente cultural que é muito importante, mas têm também a vertente social que é tanto ou mais importante que a recolha e divulgação de tradições", disse Fernando Ferreira.

Dos dois mil e duzentos grupos folclóricos existentes em Portugal, 600 são federados na FFP, 400 estão em processo de adesão e os restantes "não podem ou não querem fazer parte"da entidade que supervisiona o folclore.

"Somos muito exigentes com os grupos que pedem adesão à federação", salientou Fernando Ferreira.

"O folclore é um património que representa uma comunidade e se não for fiel aos usos e costumes dessa comunidade, pode ser um grupo de dança, mas não pode ser um grupo de folclore", referiu o presidente da FFP.

Para manter a fidelidade à tradição, a federação tem vindo a organizar cursos de formação sobre folclore.

A próxima acção de formação é destinada aos ensaiadores dos grupos e deverá ter início no mês de Setembro.

E para que um grupo seja considerado representante do folclore português, há coisas "simples" que têm que ser respeitadas: "Nada de maquilhagem, nada de relógios de pulso, cabelos pintados e saias curtas", exemplificou Fernando Ferreira.

O grupo folclórico de Mafamude, em Vila Nova de Gaia, tal como o de Viana do Castelo, não é federado.

Mesmo assim, em 27 anos de vida, Maria Albina, fundadora do grupo, garante que nunca faltaram convites para actuações.

Pela primeira vez, os 60 elementos do grupo estão a actuar no estrangeiro.

"Tivémos sempre medo de sair de Portugal sem ter tudo combinado e, desta vez, em Barcelona, saímos de Gaia já com o nome dos sítios onde íamos dormir e comer", disse "Bininha", a presidente do grupo.

A viagem a Espanha acaba por ser uma prenda para o grupo que ensaia uma vez por semana e tem actuações quase todos os sábados ou domingos.

"Vamos a muitos convívios sem ganhar um tostão, vamos pela festa, mas há sítios como as Caves do Vinho do Porto onde nos pagam cada actuação que fazemos", referiu Maria Albina.

fonte ~ rtp

Grupo Folclórico de Vila Verde
regadinho