29 de março de 2010

"Guia": novo disco de António Zambujo

“Guia” é o nome do mais recente álbum do fadista que será apresentado, pela primeira vez ao vivo, em Guimarães no Centro Cultural Vila Flor.

“Guia” é o nome do mais recente disco de António Zambujo, cujas músicas serão apresentadas, pela primeira vez ao vivo, no próximo dia 10 de Abril, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Quarto álbum da sua carreira, “Guia” dá continuidade à melancolia luminosa que caracteriza a música de António Zambujo.

Neste concerto serão interpretados originais de compositores e letristas nacionais e brasileiros, como Vinicius de Moraes, Márcio Faraco, Rodrigo Maranhão, Ricardo Cruz, o próprio Zambujo, João Gil, João Monge, Aldina Duarte, José Agualusa, Maria do Rosário Pedreira, entre outros.

Em “Outro sentido”, António Zambujo canta e sente o fado à sua maneira, apontando outras direcções para a sua música. Em 2008, o disco é também editado em toda Europa e EUA pela prestigiada editora Harmonia Mundi, sob a etiqueta da sua filiada World Village. “Outro sentido” foi considerado pela revista Songlines “Top of the World Album”, um dos melhores do ano na área da world music. No mesmo ano, a editora MP,B, através do seu director João Mário Linhares, resolve editar “Outro Sentido” no Brasil. A edição brasileira conta com três faixas adicionais com participações de Roberta Sá e Trio Madeira Brasil, de Zé Renato e de Ivan Lins. 2009 foi um ano marcado por diversos concertos. A tournée pela Europa, apresentando "Outro Sentido", incluiu países como a Noruega, Suécia, Finlândia, França, Holanda e Áustria. Em Junho de 2009, inicia a primeira tournée no Brasil, aquando do lançamento do disco neste país. Os concertos dados em 2009 no Brasil levaram a que fosse eleito um dos "10 Melhores Shows Internacionais do Ano" pela Secção de Cultura, do jornal O Globo, ao lado de músicos como Elton John, Burt Bacharah, Terence Blanchard (trompetista), Kiss, Youssou N'Dour e Angelique Kidjo. De volta a Portugal, António Zambujo fecha o ano de 2009 com a digressão nacional que incluiu sete cidades de norte a sul do país.

O ano de 2010 arranca com o lançamento do quarto disco da sua carreira. "Guia" é apresentado em estreia mundial no Centro Cultural Vila Flor, no próximo dia 10 de Abril, às 22h00. António Zambujo é o Guia nesta sua estrada, que é a do fado, passa pelo cante alentejano, sempre visitando outras influências musicais, porque afinal o fado também pode ser contemporâneo. Em palco vai estar acompanhado por Paulo Parreira, na guitarra portuguesa, José Conde, no clarinete, e Ricardo Cruz, no contrabaixo.

28 de março de 2010

Aduf : Perto do Poente

Um ano após a morte de João Aguardela, A Naifa está de regresso

"Depois de um ano de luto, A Naifa volta à luta". É assim que começa o comunicado de imprensa que dá conta do regresso d' A Naifa aos palcos e às edições, um ano após a morte do músico João Aguardela.

Em Maio, A Naifa - agora com Sandra Baptista (viúva de João Aguardela) no baixo e Samuel Palitos na bateria - lança um livro / DVD biográfico dos seus primeiros quatro anos de carreira.

No livro, expõem-se os poemas que deram origem às canções dos três discos do grupo e as imagens das respectivas capas, bem como fotografias de mais de 100 concertos e o testemunho dos fãs.

No DVD, encontra-se um concerto ao vivo gravado na digressão de 2008 e um documentário de 2006.

Também em Maio, a banda de Luís Varatojo e Maria Antónia Mendes enceta uma digressão nacional intitulada Esta Depressão que me Anima. (datas abaixo).

7 de Maio - Barreiro, Auditório Augusto Cabrita
8 de Maio - Centro Cultural do Cartaxo
13 de Maio - Teatro Municipal de Faro
14 de Maio - Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre
15 de Maio - Teatro Aveirense
22 de Maio - Teatro Faialense, Horta
26 e 27 de Maio - Teatrão, Coimbra
28 de Maio - Centro Cultural Vila Flor, Guimarães
29 de Maio - Centro Cultural das Caldas da Rainha
5 de Junho - Castelo São Jorge, Lisboa

Mentor dos projectos A Naifa, Megafone e Sitiados, João Aguardela morreu em Janeiro de 2009, vítima de cancro. Tinha apenas 39 anos.
fonte ~ blitz

16 de março de 2010

Três Cantos: Canto Dos Torna-Viagem [Três Cantos, 2009]

Melodia 1

Foi no sulco da viagem
Já sem armas nem bagagem
Nem os brasões da equipagem
Foi ao voltar

Pátria moratória
No coração da história
Que consumiste a glória
Num jantar

Foi como se Portugal
P'ra bem e p'ra seu mal
Andasse em busca dum final
P'ra começar

Ávida violência
Reverso da inocência
Sal da inconsciência
Que há no mar

Império tão pequenino
De portulano caprino
Bolsos de sina e de sino
Em cada mão

Pátria imaginária
De consistência vária
Afirmação diária
Do teu não

As malas do portugueses
São como os olhos das rezes
Que se mastigam três vezes
Em cada chão

Cândida ignorância
Grande desimportância
Os frutos da errância
Já lá estão

Melodia 2

Ai Senhora dos Navegantes me valei
De África, do sal e do mar só eu sobrei
Foi p'ra me encontrar que amanhã já me perdi
Longe vai o tempo que eu já não estou
aqui

Ai Senhora dos Talvez-Muitos-Mais- Sinais
Socorrei estes desperdícios coloniais
Foi na noite fria que o dia me cegou
Inda agora fui, inda agora cá não estou

Ai Senhora dos Esquecidos me lembrai
O caminho que p'ra lá vem e p'ra cá vai
Etecetera e tal, Portugal é nós no mar
Inda agora vim e estou longe de chegar

Ai Senhora dos Meus Iguais que eu subtraí
Foi pataca mim e não foi pataca a ti
Se é tão grande a alma na palma do meu ser
Algum dia eu vou finalmente acontecer

Melodia 3

Porque não tentar outro ponto de vista
A história dos outros quem a contará
Se qualquer colónia sem colonialista
São os que já estavam lá

Tentemos então ver a coisa ao contrário
Do ponto de vista de quem não chegou
Pois se eu fosse um preto chamado Zé Mário
Eu não era quem eu sou

Os navegadores chegaram cá a casa
E foi tudo novo p'ra eles e p'ra mim
A cruz e a espada e os olhos em brasa
Porque me trataste assim?

Não é culpa nossa se quem p'ra cá veio
Não se incomodou ao saber do horror
A história não olha a quem fica no meio
E o que foi é de quem for

José Mário Branco

Congresso Identidades - A Música Tradicional Hoje

O meio musical tradicional português questiona-se, revitaliza-se, identifica-se.
Tudo isto em debate no Congresso Identidades, dia 13 de Maio, na Marinha Grande, numa iniciativa promovida pelas Associações Tócandar e Uxu Kalhus. E de forma a ser um encontro de ideias, opiniões e vivências o mais participativo possível, somos convidados (mesmo quem não possa estar presente) a preencher a ficha de inscrição-questionário, uma vez que o programa do congresso ainda está em aberto e será construído a partir das respostas. Tradicionalizas?

14 de março de 2010

Ana Laíns : Condição [Quatro caminhos, 2010]

Ana Laíns: Voz de um outro fado

Ribatejana de 30 anos, Ana Laíns completa uma década de carreira feita de pé na estrada e força de vontade. Canta fado, mas segue um caminho orientado por uma bússola diferente.
Entre os olhares hostis lançados pelos conservadores e o deleite da crítica internacional, Ana percorre o seu trilho, protegida pela sua voz. Ao primeiro disco Sentidos editado em 2005, segue-se o mais recente Quatro Caminhos, lançado pela editora Difference e produzido por Diogo Clemente. Nele canta poemas de Natália Correia, Ruben Darío e Carlos Drummond de Andrade, com composições de Amélia Muge e José Manuel David, entre outros. Se o que canta é fado ou uma afronta aos puristas, não é isso que a define. Só sabe que é cantando que se sente completa e melhor na sua pele.

Jornal de Letras: Comparando o primeiro disco, percebe-se que percorreu um caminho diferente...

Ana Laíns: Não sinto que seja diferente. Acho que é o prolongamento do primeiro, sendo que neste trabalho as minhas certezas são mais coesas. No primeiro disco, que é como um cartão de visita, demonstrei que musicalmente não me cingiria a um caminho específico. Depois de um percurso de muitas incertezas, de questionar a viabilidade da minha linha, conclui que não podia deixar de dizer o que sou. Acredito que o fado na sua vertente tradicional está de óptima saúde e com excelentes representantes na nova geração. O meu percurso foi outro, e o que digo tem de ser coerente com o que sou. Quatro Caminhos é o espelho dessa verdade.

Porquê Quatro Caminhos?

É o reflexo do que penso sobre a vida e a minha abordagem sobre ela. Quis falar disso, da vida e de todas as suas possibilidades, várias perspectivas e caminhos possíveis. Nada é demasiado concreto ou fechado. A Amélia [Muge] escreveu um poema que é bem representativo da forma pouco objectiva e pragmática como vejo a vida. Por isso o nome do disco só poderia ser este, e o tema Quatro Caminhos abre o disco tendo o papel de prefácio.

A música "Não sou nascida do fado" tem letra de sua autoria. O que quis transmitir com estas palavras?

Canto com frequência em casas de fado e num dia, em particular, saí de uma delas (não quero mencionar o nome), completamente desiludida. Tenho alguma dificuldade em lidar com a forma fechada e obsessiva de pessoas que defendem o purismo desta forma de expressão. Depois desse episódio escrevi esta letra que me saiu em catadupa. Não nasci do fado, porque sou Ribatejana, de Montalvo, e na minha família não há fadistas. Cantei o meu primeiro fado aos 15 anos e é nessa altura que começo a frequentar as tertúlias. O amor foi crescendo e com ele o entendimento de tudo o que representava esta forma de estar, ser e sentir, maior do que simplesmente cantar.

Comemora 10 anos de carreira este ano, tem conseguido viver da música?

Comecei como cantora profissional no Casino do Estoril. Seguiram-se outros projectos na área da música onde fiz de tudo um pouco. O Casino da Figueira da Foz é a minha casa e onde conheci muitos dos músicos e cantores com quem aprendi e que me deu espaço e confiança para crescer como cantora, até hoje. Fui cantando por todo o mundo, tive projectos de música tradicional portuguesa, cantei jazz, fui vivendo e aprendendo.

Quais são as suas referências musicais?

Tudo o que ouvimos pode transmitir-nos e ensinar-nos qualquer coisa. Esta forma ecléctica de ver o trabalho dos outros fez de mim uma cantora de muitas cores. Claro que existem cantores que admiro mais que outros. Carlos do Carmo, Amália, Fernanda Maria, Maria Teresa de Noronha, Carlos Ramos, entre outros. Na actualidade admiro e aprendo muito com a Cristina Branco, o Camané e a Ana Moura.

Foi considerada a "diva de um fado diferente" pela crítica internacional. Como se sente sob esse título?

Prefiro pensar que alguém se deixou tocar pela minha forma de fazer música, compreendendo que o fado está lá sem passar despercebido. Temo não ter discernimento ao ler estas críticas. Pessoalmente sinto essa abertura por parte das pessoas que vão aos meus concertos. Existe curiosidade em perceber o que está para além do Fado. É bom saber que as pessoas gostam de me ouvir.
fonte ~ JL

13 de março de 2010

We're not old ladies singing, we're musical instruments



WE`RE NOT OLD LADIES SINGING, WE`RE MUSICAL INSTRUMENTS é uma obra que reúne diversas amostras audiovisuais da presente paisagem sonora popular portuguesa para, através da exploração de um sentido musical experimental, descontextualizar tradições e práticas antropológicas, e trabalhar os registos criados como instrumentos, nunca perdendo de vista a cultura imaterial a que se referem.
Uma visão de Tiago Pereira.

Ada de Castro: 50 anos de Fado

Ada de Castro mora em Lisboa, mais exactamente em Campo de Ourique mas não é aqui que tem as suas raizes. Nasceu no Castelo, perto de Alfama, berço de muito Fado e de muitos que o cantam.

"Sou uma mulher simples que ama o Fado e que tudo tem feito para o cantar bem. Sou das fadistas castiças que cantam com voz velada e um cheirinho de rua".
E Ada continua a descrição do que tem sido a sua vida de fadista:"Cantei a primeira vez como profissional no Faia, que era do pai do Carlos do Carmo, um homem muito simpático. Gostaram muito de mim e fui continuando a cantar. Só canto fados meus. Também apadrinhei muitas marchas sempre diferentes e foi sempre uma coisa de que gostei muito".
E Ada continua a falar embalada pelas recordações mas sem qualquer laivo de melancolia: " sabe para mim há uma figura máxima no Fado, a Maria Severa, e a partir daí vem Amália e depois vêm mais umas outras. Por exemplo fala-se pouco de Hermínia Silva uma pessoa que fez parte da minha vida porque a minha avó foi sua contemporânea e falava-se muito dela. Mas este país esquece os grandes artistas. Veja a Laura Alves. Ninguém fala dela e foi uma das melhores actrizes portuguesas".

Aqui o Hardmusica decidiu perguntar-lhe se se considera uma Diva uma vez que está incluida no rol das divas agora editado pela Fonoteca: " de modo nenhum. E penso que não há divas no Fado. Diva para mim é talvez a Maria Callas na ópera, a Piaff na canção. Diva é uma nome que não se aplica ao Fado e a haver seria a Severa."
Perguntámos a Ada de Castro como via ela o papel do Museu do Fado no panorama artístico actual mas a fadista não quiz adiantar muito sobre esta questão embora seja um local onde vai sempre que é solicitada.
"Ada de Castro, acha que lhe vão fazer uma festa como têm feito a outras colegas?"
Resposta imediata " Não". Com mais calma elucidou: "Mas se me quiserem fazer eu vou com toda a certeza. Mas ser eu a pagar para ter uma festa isso não!"

Mas esta fadista tem um talento em que a voz não entra: gosta de pintar. Autodidacta, recusa-se a ter lições porque "gosto de pintar o que quero, como quero e quando quero e se tivesse lições perdia a espontaneidade que ponho nas minhas pinturas"

Ada de Castro faz neste sábado, 13 de Março, 50 anos de actividade artística como fadista.
Cantou em várias casa de fado e actuou em inúmeras casas de espectáculo do país.
Visitou profissionalmente vários países, tendo actuado quer ao vivo quer nas televisões dos mesmos: Espanha, Dinamarca, Suécia, Bélgica, Holanda, Japão, China, França, Itália, Brasil, Argentina, Uruguai, EUA, Canadá e toda a antiga África Portuguesa, foram locais onde deixou a sua voz e o seu Fado.

No Mónaco actuou nos jardins do palácio Grimaldi para toda a família do príncipe Reinier incluindo a princesa Grace.
No Brasil actuou em todos os Estados da Federação a convite do Governo Brasileiro, isto em 1968.
Gravou para várias editoras, não só em Portuga,l mas também no Brasil e Holanda, detendo entre fados e marchas um total de 550 números gravados.
São inúmeros os prémios recebidos como em 1962, o oscar pela melhor fadista, prémio RTP, outro oscar em 1968 como melhor fadista do ano, em 1964 um elefante de ouro,em 1982 mais um oscar como melhor fadista do ano e por aí adiante.
Um pormenor que Ada conta com muita graça:" Veja só. Sou do Benfica e tenho uma placa de agradecimento do Sporting". E lá estava ela!
fonte ~ hardmusica