6 de dezembro de 2007

O fado é a melhor forma de expressão

Kátia Guerreiro tem 32 anos. É reconhecida pelo público como uma das mais bonitas vozes da actualidade. A médica, que é também fadista, regressa hoje a público, com um concerto no Convento de São Francisco.

DIÁRIO AS BEIRAS(DB) - Quando é que começou a cantar fado?
KÁTIA GUERREIRO (KG) - Foram amigos que me foram desafiando para cantar, porque gostavam de me ouvir. Um dia, fui a uma casa de fados, com alguns deles, que me denunciaram e, perante uma audiência de luxo do mundo do fado, fui obrigada a cantar. A partir daí, recebi convites para participar em pequenas actuações, até que o João Braga me contacta para cantar no 1.º aniversário sobre a morte de Amália, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Fui. Tinha acabado o curso de Medicina e pensava que a minha vida estava determinada nesse sentido. Afinal, não. Nunca mais parei, apesar de prosseguir como médica.

DB - Como define o papel que o fado tem na sua vida?
KG - O fado ganhou um papel de equilíbrio das minhas emoções e de ajuda no auto-conhecimento.

DB- Recorda-se da sensação que teve dos primeiros sucessos?
KG - Recordo-me da enorme surpresa que foi, para mim, cantar em sítios tão longínquos e ser acarinhada e tratada como uma enorme artista.

DB - Tem sido muito falada pela crítica internacional. Qual a sensação de saber que também é reconhecida no estrangeiro?
KG - Na verdade, acho que sou mais falada no estrangeiro do que em Portugal, mas não tenho qualquer ressentimento por isso. Sei que ando a construir uma carreira segura e com crescimento gradual.

DB - De todos os álbuns, qual foi o que lhe deu maior gozo ?
KG- Todos me deram. É difícil eleger um. Talvez no último me tenha envolvido mais com os autores de poemas e músicas, tendo eu também participado na composição de alguns temas. Mas tive também um gosto especial no “Nas Mãos do Fado” . Porém, o “Fado Maior” foi o primeiro e, talvez, o das descobertas... Não sei dizer...

DB - Já começaram as comparações com a Amália? Como é que as encara?
KG - Sim. Desde o primeiro dia, em que fui ao Coliseu, e um crítico escreveu que “um fantasma pairou no Coliseu”, o que me assustou imenso. Mas, no fundo, percebo que, após o desaparecimento de um grande valor como Amália, todos procurem encontrar um substituto. Não tenho medo das comparações, pois sei que estarei sempre a perder, mas o facto de o fazerem acaba por ser gratificante.

DB - A Medicina é compatível com a música?
KG - Claro que é. Há médicos escritores e pintores, sempre houve. A música acaba por ser apenas uma vertente artística diferente dessas, mas não menos interessante, para um médico.

DB - Muitos fadistas consideram que o fado tem uma dimensão existencial. Identifica-se com essa ideia?
KG - Quem pensar no fado como um ofício não é fadista. Tem de se ser muito especial para se cantar o fado com verdade. Eu não me lembro de, alguma vez, ter entrado no palco sem me entregar completamente ao que fazia. Vai para além do ofício, vai para além da obrigação. E só assim é que as pessoas se sentem tocadas. Quando não é verdade, o público não se deixa enganar por muito tempo.

DB- Volta agora, com este espectáculo, aos concertos ao público. Quais as expectativas?
KG - Que o público que me vai ouvir receba o que faço de forma genuína e que se entregue. E é assim que acontece fado.

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