28 de fevereiro de 2008

José Barros | Mar Eterno

José Barros
Mar Eterno
Ocarina, 2006

Dizia o escritor Virgílio Ferreira, em tom poético-filosófico, que "da minha língua vê-se o mar", como uma alusão ao ponto de união da lusofonia.

Entre encontros e experiências partilhadas, vão-se desfiando histórias ao sabor do tempo, num exercício de memória colectiva, sustentado pela música. Assim é o disco Mar Eterno de José Barros, o errante navegante que neste trabalho discográfico apresenta-se pela primeira vez a solo, como um despir artístico, numa procura sincera das raízes da sua música. De facto, mais que uma homenagem à força inspiradora do mar, trata-se duma ode lusófona de expressão pessoal, evocando influências musicais de distintas geografias, como Angola, Moçambique, Cabo Verde e Galiza, sobre a música tradicional portuguesa. Deste modo, estabelece-se um verdadeiro diálogo intercultural, através da sonoridade profundamente acústica, que resulta na fusão de estilos e de instrumentos: guitarra portuguesa e de doze cordas, o cavaquinho português e cabo-verdiano, a braguesa e as percussões portuguesas e africanas.

Sendo um trabalho de autor, a maioria das composições são de autoria própria de José Barros, que conta igualmente com a colaboração amiga de Osvaldo Dias (Vaiss), produtor do disco e compositor do tema Frutos Tropicais, bem como de Eugénio Tavares, o reputado compositor de mornas, que neste disco assina a belíssima Canção ao Mar. Por outro lado, a travessia marítima também se faz ao som das vozes da fadista Mafalda Arnauth, da cabo-verdiana Nancy Vieira e de José Manuel David e Rui Vaz (Gaiteiros de Lisboa), reforçando o diálogo cultural.

Também é de referir o alto valor literário do disco, que inclui poemas de Fernando Pessoa Mar Português, Natália Correia As flores d’amigo, Amilcar Cabral Regresso, Camilo Pessanha Porque o me-lhor, destacando-se a presença do poema Dizemos Rosalia de Celso Emilo Ferreiro, reinvidicando, assim, a integração da Galiza no mundo cultural lusófono.

Sara Louraço Vidal, 2008

Alinhamento:

  1. quem canta lê
  2. a ilha do fim do mundo
  3. porque o melhor
  4. mar português
  5. regresso
  6. nem sempre o mar revolta (para a tina)
  7. canção ao mar
  8. as flores d'amigo
  9. frutos tropicais
  10. dizemos rosalia (para a uxia)
Gravado, misturado e masterizado no estúdio JBN. Ribeira de Sintra, entre Fevereiro e Setembro de 2005.
Produção - José Barros ; Direcção musical e arranjos - Osvaldo Dias; Gravação, misturas, edição e masterização - João Magalhães, José Barros e Vaiss; Ilustração da capa e grafismo - Ivone Ralha; Fotografias - Rui Moreno

josé barros e navegante
s. joão

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