Desgarrada, tal e como reza o dicionário, é aquela canção popular que se caracteriza por ser entoada alternadamente por duas ou mais pessoas, ao desafio, sendo a letra geralmente improvisada.
Canta-se pois ao desafio em Portugal, e não só. Na Galiza, este género é denominado "regueifa" e era cantado antigamente nos casamentos. Em verdade, a regueifa era o bolo de casamento que os noivos ofereciam a quem, de entre os moços, for o melhor cantador a desafiar aos outros, sempre improvisando, a reclamar a regueifa. Por extensão é que o cantar ao desafio na Galiza é chamado regueifa, e os seus cantadores regueifeiros.
Hoje em dia ficam alguns (poucos) regueifeiros velhos na zona de Bergantiños -infelizmente acaba de falecer o "Calviño"-. Mas desde a Associação ORAL estão a tentar revitalizar esta tradição, organizando work-shops e encontros, e estão a consolidar-se cantadores novos como Luís "O Caruncho" ou "Pinto de Herbón", que estão a puxar da regueifa com muita força.
Se formos para a América do sul, temos, quer no Brasil, quer na Colómbia, os "repentistas". Os repentistas são as pessoas que cantam aquilo que sai num "repente", isto é, num impulso, sem pensar. Assim tão lindamente é definido o improviso por aquelas bandas onde, ainda hoje, é uma tradição em toda a sua vigência.
Em Portugal não é só no Minho que se canta ao desafio. "... por vezes chegava lá à festa uma daquelas pessoas que tinha jeito para cantar ao desafio. Na altura encontrava-se com outra pessoa das mesmas características ... e vê lá, que da alegria do encontro começavam a sair quadras, era uma maneira da saudar, de começar o encontro na festa.." Eis o que nos contavam em S. Pedro do Sul, na Beira Alta, a Rosa Branca e o Zé Fernando, elementos do grupo Alafum.
Os beirões chamam a este género "fado beirão" ou "fado à desgarrada", mas normalmente abreviam para fado. E, tal como os minhotos, apreciam o segundo sentido no fado. Mas reconhecem que, para a desgarrada não há como os minhotos, com a sua alegria e a sua facilidade para a piada.
Na zona de Lisboa também há desgarrada, mas em forma de fado, fado castiço. Também é divertido, mas não é tanto no improviso.
No Alentejo canta-se ao desafio em duas formas diferentes: ao baldão e ao despique. No cantar ao despique parte-se de um "mote" e daí se pega num tema que se desenvolve. O cantar ao baldão já o próprio nome diz: à balda, isto é canta-se, vai-se respondendo e vai-se improvisando. Na Madeira chamam-lhe também despique e é muito parecido com o minhoto.
Nos Açores há também uma forma de cantar que é "As Velhas", que se adapta a um improviso.
Fernando Peneiras
Sem comentários:
Enviar um comentário