2 de junho de 2009

Fados dos tempos das grafonolas na era digital

A nova colecção 'Arquivos do Fado' devolve aos nossos dias gravações originalmente lançadas em discos de 78 rotações. Amália Rodrigues, Ercília Costa e Maria Alice surgem nos três primeiros volumes.

Gravações de finais dos anos 20 e inícios dos anos 30 de Ercília Costa e de Maria Alice, e um conjunto de temas originalmente registados por Amália Rodrigues nos anos 50, correspondem aos três primeiros volumes de uma nova série de edições discográficas que a partir de hoje chega às lojas. Com o título Arquivos do Fado, a série, com coordenação executiva de José Moças e João Afonso e editada pela Farol, apresenta fonogramas históricos digitalmente restaurados.

Estamos assim, além do reencontro com gravações históricas de Amália Rodrigues, perante o reencontro com duas vozes marcantes do fado na primeira metade do século XX. Ercília Costa (1902-1985) foi a primeira fadista portuguesa a ter grande exposição internacional, tendo realizado digressões em França, Estados Unidos e Brasil, e mantido também uma carreira como actriz de revista e, mais tarde, no cinema. As suas gravações são quase todas anteriores a 1950 e, por isso, um tanto esquecidas nos nossos dias. No disco agora editado são recuperados o seu histórico Fado de Alfama, entre outros, em gravações de 1920 e 1930.

Maria Alice (1904-1997) foi outra das primeiras vozes do fado a conhecer gravação. Cantou em diversas casas de fado e chegou a actuar no Brasil. O disco desta colecção que lhe é dedicado recorda-a em gravações efectuadas entre 1929 e 1931.

Já o volume dedicado a Amália Rodrigues revela outra etapa na história do fado, recuperando uma série de gravações editadas em discos de 78 rotações originalmente lançados entre 1953 e 58, e que correspondem a uma etapa de grande projecção internacional da sua carreira.

Esta nova colecção surge após mais de uma década de investigação entre colecções privadas, arquivos públicos e alfarrabistas. Como explica depois Maria de São José Côrte-Real no booklet de um dos volumes da colecção, "a qualidade sonora dos fonogramas originais das grandes empresas discográficas da época a operar em Portugal e no Brasil (...) foi agora refinada". Os discos foram submetidos a um processo de tratamento áudio que mantém as características técnicas das gravações de então, "de modo a oferecer a máxima fidelidade possível relativamente ao som captado na época".

O objectivo principal desta nova série é o de "dar a conhecer ao grande público uma parte significativa e totalmente desconhecida das gravações realizadas em Portugal desde o seu ponto de partida", no início do século XX.

Os três primeiros volumes, que hoje chegam ao mercado, evocam três das maiores vozes femininas do fado na primeira metade do século.

Nuno Galopim

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