24 de janeiro de 2010

Ricardo Rocha: "Não espero nada daquilo que faço"

Nasceu em 1974 e é neto de Fontes Rocha. A relação com a guitarra portuguesa é inevitável, tendo lançado recentemente o seu segundo álbum em nome próprio, 'Luminismo'.

A guitarra portuguesa pode ser considerada um dos instrumentos mais emblemáticos da música portuguesa. Mas ao longo da história foram muito poucos os nomes que fizeram deste um instrumento autónomo do fado. Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral foram duas excepções. A eles junta-se Ricardo Rocha, que lançou recentemente o seu segundo disco a solo, Luminismo.

Neto do também guitarrista Fontes Rocha (que acompanhou Amália Rodrigues durante mais de 30 anos), a guitarra portuguesa foi desde cedo um instrumento do qual "não houve hipótese" de se desviar. Começou a tocar por volta dos três anos, e aos 13 já acompanhava fadistas. Mas esta relação tão próxima com o instrumento não o impede de referir os problemas que aí encontra: "É um instrumento muito débil e muito difícil de se tornar autónomo, tem uma série de factores que provocam uma certa limitação e um desconforto, o que não é uma sensação muito agradável", disse.

Mas foi a guitarra portuguesa que escolheu em tenra idade, mesmo contra a resistência da família: "Não havia uma única pessoa na família que estivesse de acordo com o facto de eu tocar guitarra, até o meu avô, e agora que olho para trás vejo que tinham razão", contou.

Nem a atenção que teve com o primeiro disco, Voluptuária (2003), que recebeu vários prémios, entre os quais o Prémio Carlos Paredes, Prémio Amália Rodrigues ou Prémio Revelação Ribeiro da Fonte, alteram a forma como analisa o seu ofício: "Tenho sempre a sensação que o que fui fazendo na guitarra provavelmente não vai dar em nada, é algo que falha sempre, mas ao menos fica como um registo, um documento histórico." E acrescentou: "(Depois de gravar) parto sempre do princípio de que não vai ter aceitação nenhuma e que vai passar completamente ao lado, porque um facto muito claro e real é que a música instrumental em Portugal é tratada abaixo de cão e por isso nunca se pode estar à espera de nada. Sempre assim foi, é e será."

Por facilitismo, é por vezes comparado a Carlos Paredes, "a pessoa que mais lamento não ter conhecido", sendo que foi através dele que teve "o primeiro contacto com a guitarra". E a admiração estende-se às versões que fez de vários temas de Paredes nos seus dois discos.

No início da adolescência começou a acompanhar fadistas, uma fase onde sentiu "muitas dificuldades": "Ao princípio tinha uma dificuldade enorme, e detestava, porque não conseguia reconhecer os fados, para mim era tudo igual, e conseguir tocar e associar o nome às músicas... demorei imenso tempo", confessou. Tocou com regularidade em três casas de fados, a Parreirinha, de Argentina Santos, o Nove e Tal, de Nuno da Câmara Pereira, e o Embuçado, de João Ferreira Rosa, o último espaço onde tocou com frequência, mas também "aquele de que mais gostei".

Hoje sente que a sua postura na música "é ainda algo tradicional, do século passado, o que não é compatível com a forma como as coisas se passam hoje em dia, por isso o desenquadramento é inevitável". Refere que nunca teve objectivos delineados para a sua carreira: "Não tenho aquela ansiedade artística da qual toda a gente sofre actualmente, sendo que isso é um vírus com um efeito devastador, porque inverte aquilo que se está a fazer em nome da visibilidade". Mas reconhece que a falta de ambições "não abona" a seu favor.

Aliás, Luminismo já estava pronto desde 2006. No entanto, a editora que na altura estava para o lançar "perdeu o interesse, mas não me disseram nada... e como não estou à espera de rigorosamente nada daquilo que faço, acabo por ficar paralisado e não faço nada".
fonte ~ dn

Sem comentários: