"Eu senti a necessidade de trabalhar por mim tão somente. Claro que o Paredes é uma referência para todos nós, pois é o mestre, mas eu tinha de largar o Paredes e criar um projecto meu", disse a instrumentista à Lusa.
"Quero explicar que tenho um projecto, isso para mim é essencial. Representa um esforço muito grande, que consegui também graças aos músicos que me acompanham", acrescentou.
Com Luísa Amaro (guitarra portuguesa), estão António Eustáquio (guitolão), Gonçalo Lopes (clarinetes), Baltazar Molina (percussões orientais) e Mário Laginha tem participação especial numa faixa.
"Laginha toca cinco minutos de improviso, numa rajada", na faixa seis, intitulada "Meditherranios", que foi a última a ser gravada, dados os compromissos do pianista.
"Se ele não participasse o disco sairia na mesma, mas ele é um músico que estimo, admiro e muito respeito", observou.
Na opinião da guitarrista, Laginha "é um convidado que marca a diferença e é muito bonito o diálogo entre a guitarra portuguesa e o piano".
Quanto ao guitolão, um instrumento imaginado por Carlos Paredes que integra o CD, "está a fazer a sua história e depende muito de quem o toca e a forma como o toca", asseverou Luísa Amaro, para quem a sua inclusão "faz sentido pelo António Eustáquio e por a sua sonoridade se aproximar da do alaúde árabe".
O CD "Meditherranjos" é constituído por nove faixas, todas compostas por Luísa Amaro, com excepção da que conta com a participação de Laginha, "mas pode ser entendido como uma peça só, toda ligada", e é desta forma que será apresentado ao público, a 13 de Fevereiro, no Museu do Oriente, em Lisboa.
Dia 13 marca também o lançamento do CD/Digibook para o mercado, voltando Luísa Amaro e os seus músicos ao palco do Museu no dia seguinte.
"Trata-se de um Digbook porque pedi a vários amigos, como o arabista Adalberto Alves, a etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco e o escritor Urbano Tavares Rodrigues para escreverem textos acerca de determinadas faixas", esclareceu a compositora.
Os textos estão traduzidos em inglês, francês e alemão, tendo em vista o mercado externo e os festivais de músicas do mundo onde "o som da guitarra portuguesa é bebido de outra forma", já que "é duro" ser-se concertista em Portugal.
"Muitas pessoas gostam mas quando vêm ter comigo dizem sempre, `se tivesse uma voz`. Não há essa cultura de ouvir música em Portugal", acrescentou Luísa Amaro.
O CD remete para a tradição musical do Mediterrâneo, definindo-o Luísa Amaro nestes termos: "É uma viagem e um reencontro com a música oriental, designadamente árabe que faz parte de nós, mas temos passado ao lado" dela.
Este é o segundo álbum de Luísa Amaro, depois do editado em 2004, "Canção para Carlos Paredes" com o qual pretendeu homenagear o falecido mestre da guitarra e compositor. "Em 2004, pouco depois da morte do Paredes, fiz a minha homenagem ao mestre e fechei um ciclo", disse.
Gravado em três dias, "Meditherranjos" esteve "em maturação" durante quatro anos, com vários espectáculos que foram "essenciais" para fazer "respirar" as músicas compostas e permitiu aos músicos "um maior à-vontade".
"Há também a componente dança que existia nesses espectáculos e que me ajudou a imaginar ambientes, como acontece na faixa `Crisálida`", referiu. Outros temas do álbum são "Egiptânia", "Devaneios", "Kalipha", "Lusitânia", "Jogral", "Mouriscas" e "Jardim da sereia".
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