7 de abril de 2008

A Naifa | Uma inocente inclinação para o mal

A Naifa
Uma inocente inclinação para o mal
Lisboa Records, 2008

Após dois trabalhos discográficos aclamados pela crítica – “Canções subterrâneas” (2004) e “3 minutos antes da maré encher” (2006) - o grupo A Naifa volta a afiar o panorama musical português com mais uma obra subversiva sobre a estética do Fado, que estará disponível no mercado a partir do dia 31 de Março.

O título “Uma inocente inclinação para o mal” pode sugerir uma intenção de desconstrução dos seus cânones estabelecidos, e, neste sentido, esta pequena maldade inocente é consentida por um desejo de renovação e adaptação do Fado às sonoridades mais contemporâneas e vanguardistas, ao mesmo tempo que se reivindica a aculturação que a música portuguesa tem vindo a sofrer nos últimos anos.

A Naifa é precisamente um dos grupos pioneiros nesta busca de modernidade inovadora, e, de facto, a fusão entre o acústico e o eléctrico tem sido a sua imagem de marca, misturando o som da voz e da guitarra portuguesa com os samplers, bateria e baixo eléctrico. Neste sentido, assistimos a uma continuidade sonora muito pessoal do grupo, que em conjunto desenvolve um cruzamento de diferentes linguagens musicais: música electrónica, pop, reggae e fado, que, comparativamente aos trabalhos anteriores, neste disco ganha especial protagonismo, tanto pelas cadências melódicas, como pela maior expressão da guitarra portuguesa.

Por outro lado, este projecto de música urbana sempre se destacou pela qualidade literária dos poemas musicados, mas se nos discos prévios havia um processo de selecção minuciosa nos livros de poesia, este trabalho abordou um método de criação distinto. Em oposição à procura e à recolha por parte do grupo, foi a letrista Maria Rodrigues Teixeira quem foi ao encontro dos músicos após um concerto em Tondela, estabelecendo uma simbiose consolidativa do ambiente de A Naifa, ou seja, o facto de conhecer o seu trabalho, permitiu-lhe idealizar “histórias-retratos” que se integram plenamente na filosofia do grupo. Por outro lado, ao serem poemas escritos com uma intenção musical, em certa medida proporcionou um resultado mais natural e fluído.

Este é um disco que emana uma forte personalidade de ironia e crítica sobre uma sociedade cada vez mais desnorteada, ou não fosse a sua inocente inclinação para o mal...

Sara Louraço Vidal

Alinhamento:

  1. um feitio de rainha
  2. filha de duas mães
  3. na página seguinte
  4. esta depressão que me anima
  5. um rapaz mal desenhado
  6. dona de muitas casas
  7. o ferro de engomar
  8. apenas durmo mal
  9. pequenos romances
  10. na aula de dança
  11. o ar cansado dos meus vestidos
  12. nas tuas mãos vazias
  13. uma ligeira indisposição
  14. apanhada a roubar
pérola estúdios 4 e 5
setembro 2007 / fevereiro 2008
produção - joão aguardela e luis varatojo; gravação - antónio bragança; mistura - luis varatojo e antónio bragança; masterização - tó pinheiro da silva.


señoritas



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