

som [s. m.] O que soa aos ouvidos. vadiar [à] Andar ociosamente de uma parte para outra, andar à tuna.
Numa época em que a vontade de cantar a música dos outros saltou dos bares para os estúdios, Paula Oliveira e Bernardo Moreira repetem uma ideia já ensaiada há dois anos no primeiro álbum conjunto. Porquê?
«O disco aparece como consequência do outro, que vendeu bastante. As pessoas ficaram com muita vontade de nos ouvir, espero eu. Achei importante dar continuidade ao projecto. Sempre cantei música de outras pessoas e, provavelmente, vai continuar a ser assim. Há tanta coisa que eu gostava de cantar que nem cheguei a colocar a hipótese de criarmos de raiz o álbum. É um prazer incrível mas isto sempre aconteceu. Os fadistas gravam continuadamente o mesmo repertório. Na música clássica, passa-se exactamente o mesmo. Se calhar, está tudo inventado, não sei. Mas eu preciso de referências. Um dia, talvez tenha um disco só com inéditos meus mas, para já, não penso muito nosso.»
Na escolha de canções, ressalta imediatamente uma aposta exclusiva em repertório nacional. Do fado ao jazz, a pop fica de fora, por opção premeditada. A Operação Triunfo também ajudou à escolha final.
«Ouvi centenas de temas, alguns deles na Operação Triunfo. Já conhecia muitos outros também. Fizemos uma pré-selecção de 30 a 50 canções. Depois, fomos descobrindo que algumas nos levavam a melodias, outras a poesias. A pop ficou de fora porque seria necessário simplificar a música e não foi esse o objectivo. Já cantei muita música estrangeira mas é mais difícil. Há um «swingar» muito próprio em português. Quanto a problemas com direitos, só tivemos dificuldades por causa de um poema do Alexandre O`Neill mas falei com a viúva dele que me pediu apenas para lembrar o nome dele sempre que cantasse esse tema.
Ligada há vários anos ao mundo do jazz, Paula Oliveira é alguém com um conhecimento deste mundo, que permite aferir da real vitalidade deste género em Portugal.
«Como cantora, movimento-me num curcuito pouco televisivo. Admito que a Operação Triunfo me dê alguma visibilidade, o que poderá ser capitalizado no «Fado Roubado». Quando aceitei o convite para participar no programa, o disco já estava a ser feito portanto não houve qualquer interferência. Dar o salto depende de muitos factores, principalmente o empenho. Há vários nomes no jazz com muito talento. Joana Machado, Marta Hugon, Joana Rios e a própria Jacinta que foi minha aluna há vários anos…O circuito está a crescer. Há mais festivais, mais apostas, o que aumenta o investimento.»
Por falta de tempo?
Não, por falta de inspiração. Estou a gerir a minha carreira, as minhas músicas, a tentar ser criativo naquilo que fiz e não repetir a forma de expressão que tinha, mas não estou efectivamente a escrever muita coisa. Isso é muito chato para mim, que escrevia uma canção por dia e agora, há dois ou três anos a esta parte não escrevo.
Talvez precise de viajar...
Não, acho que a criatividade é como a 'tesão', quando a perdes não tens tanta (risos).
O que é que está a ser preparado para o Campo Pequeno? Na reunião do Quarteto 1111, está confirmado o Tozé Brito?
Sim, está confirmado. Da última vez, no MusicBox, ele estava nos EUA. Vamos tocar A Lenda de El-Rei D. Sebastião, João Nada, Domingo em Bidonville, No Reino do Blá, Blá, Blá e talvez mais um ou outro. Nós dominamos o nosso pequeno e curto, mas 'grande' repertório.
E outros convidados?
Apesar de me dar com muitos músicos, convidei aqueles com quem falo mais, o André Sardet e o Luís Represas.
Com quem partilha a paixão pelos cavalos...
Pois, faço concursos hípicos com o Luís, dou aulas da bateria ao filho dele, estou a compilar o álbum José Cid e os Poetas, que vai ser entregue à Casa do Gil de Margarida Pinto Correia. É um álbum muito acústico e que vai surpreender porque mostra um lado meu que as pessoas não conhecem tanto, mas que está feito e que está gravado. Por isso estou muito ligado à família Represas. O André Sardet é sobrinho da minha vizinha mais crescida em Coimbra. Houve um tempo em que ele andava 'desanimadote' e fui-lhe encaminhando algum traba-lho que não podia aceitar e dizendo-lhe: «Espera que vais lá.» E depois, de dois anos a esta parte, aconteceu. Vai também tocar comigo, apesar de não estar no cartaz, o Amadeu Magalhães, digno representante da música popular portuguesa (gaita-de-foles e flauta).
Lembra-se da primeira música que escutou?
Foi certamente fado. Toda a minha família era muito musical e muito fadista. No entanto, o meu avô, não Cid, do lado Tavares, era músico, chegando a tocar guitarra com o célebre fadista Hilário de Coimbra. E também tocava piano, foi ele que me ensinou a tocar com a mão esquerda. Foi com ele que percebi que se podia tocar com as duas mãos. A meio dos anos 50 fui vocalista de uma banda jazz e cantava os standards. Por sorte, o fado e o jazz têm muitas coincidências. O fado é mais poético, o jazz é mais musical. Ambos têm muitas formas de expressão. No fado tens de cantar com sentimento, no jazz com feeling. No fado, se souberes cantar, cantas com balanço cujo exemplo maior é a Hermínia Silva, e quase todos os bons intérpretes de jazz têm swing. Podes improvisar, cantar de forma diferente, mas há muitas coincidências.
E se tivesse nascido 20 ou 30 anos mais tarde?
Não seria certamente o mesmo, porque a vida é muito dificultada às novas gerações. Primeiro por que é tudo muito mais competitivo, depois porque já está muita coisa feita. O próprio sistema não os ajuda... Ainda agora me apareceu um rapaz de Salvaterra de Magos a escrever e a tocar lindamente, com um nível que nós não tínhamos na nossa geração, por que eles são mais profissionais. Custa-me que haja novas gerações a caminharem para uma parede que se afasta cada vez mais delas. Por portas fechadas e por dificuldades económicas.
Não é um paradoxo ser monárquico e anarquista?
É um certo paradoxo, porque foram os anarquistas que efectuaram a maior parte dos regicídios. Entretanto, as monarquias evoluíram e são muito mais actuais, culturais e nacionalistas do que as repúblicas. Acho que uma opção monárquica é sempre melhor do que uma opção republicana.
Este álbum, constituído exclusivamente por temas do repertório de José Afonso, surge depois de um ciclo de espectáculos que Cristina Branco realizou este ano no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, em Lisboa.
"Vim para estúdio mais amadurecida e experimentada nos temas que têm arranjos do Ricardo Dias mas em que afinal todos os músicos participaram.
"Canto Zeca Afonso pelo ideal que representa de humanidade, simplicidade e pela qualidade do seu trabalho", disse a cantora à Lusa.
"Qualquer músico tem de, obrigatoriamente, passar por Zeca Afonso e reflectir sobre aquilo que ele nos deixou", acrescentou.
Um trabalho idêntico ao que realizou sobre Amália Rodrigues, com o facto de a música de José Afonso a ter acompanhado desde sempre, disse.
A escolha das músicas "não será a mais óbvia" afirmou a cantora, todavia em "Abril" encontramos temas emblemáticos de Zeca, como "Menino d'Oiro" ou "Venham mais cinco".
No total são 16 canções, abrindo o álbum com "Menino d'Oiro" e encerrando com "Chamaram-me cigano", passando por "Redondo vocábulo" deque Cristina tinha já feito uma recriação num álbum anterior, "A morte saiu à rua" ou "Índios da Meia Praia".
"É curioso que desde o meu primeiro álbum o José Afonso esteve sempre presente, a sua poesia e música foram para mim sempre recorrentes", acrescentou.
Ao lado de Cristina Branco, Prémio Amália Rodrigues Internacional 2006, estão os músicos Ricardo Dias (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo), Alexandre Frazão (bateria) e Mário Delgado (guitarras).
"Uma panóplia de músicos de excepção", disse Cristina Branco, que salientou ainda a participação de João Moreira (trompete) e "a experiência emocionante de cantar" com do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra.
"Este álbum - afirmou - é também uma viagem pelo imaginário contestatário, do gira-discos, do canto amigo".
Por outro, acrescentou a artista, "cantar Zeca Afonso é procurar uma autenticidade, nós não trazemos nada de novo, frise-se, apenas queremos lembrar".
Este novo álbum, com a etiqueta da Universal Music, será ponto de partida para uma ronda de espectáculos pelo país, a partir de 07 de Dezembro, que culminará na sala principal do Teatro S. Luiz, em Lisboa.
Dia 07 de Dezembro Cristina Branco canta José Afonso no Teatro Gil Vicente em Coimbra, dia 13 em Viana do Castelo, no Sá de Miranda, no dia seguinte em Santa Maria da Feira, no Europarque, dia 15 em Braga no Theatro Circo e, finalmente, dia 17 em Lisboa no Teatro S. Luiz, onde tudo começou.
José Afonso, falecido a 23 de Fevereiro de 1987, aos 57 anos, foi, com Adriano Correia de Oliveira, umas das figuras centrais da canção de intervenção em Portugal.
O cantautor destacou-se também como intérprete da balada e do fado de Coimbra. Enquanto compositor procurou inspiração na música popular portuguesa, que usou como "canção de combate" ao regime deposto em 25 de Abril de 1974.
"Galinhas do mato" foi o seu último álbum de originais, publicado em 1985.
Cristina Branco conquistou já vários galardões em Portugal, França e Países Baixos. Até hoje editou já nove álbuns e o DVD "Cristina Branco live - a tribute to Amália Rodrigues".