31 de dezembro de 2007

Escola Guitarra do ISEC (Coimbra) lança CD de estreia

Intitulado «Guitarra de Coimbra», o CD inclui um conjunto de temas instrumentais interpretados pelos alunos desta escola que funciona no ISEC, resultando de dois anos de aprendizagem.

Além de sete temas de Carlos Paredes, em que se incluem «Canção Verdes Anos» e «Memórias», o CD inclui ainda peças de Artur Paredes, Afonso Correia Leite e Gonçalo Paredes.

De acordo com Alexandre Cortesão, professor e fundador da Escola de Guitarra, o ISEC fez uma tiragem de dois mil exemplares do CD, tendo oferecido uma cópia a todos os caloiros que entraram este ano lectivo no estabelecimento.

«Não se pode dizer que é uma obra-prima, mas tem qualidade», salientou o músico, presidente da Associação Cultural «Coimbra Menina e Moça».

Segundo o professor, «até hoje nenhuma escola de guitarra pôs os seus alunos a tocar em público e a publicar um CD».

A Escola de Guitarra do ISEC nasceu de um protocolo assinado em 2005 entre o ISEC e aquela Associação Cultural, podendo ser frequentada por alunos, docentes e não docentes deste estabelecimento de ensino integrado no Instituto Politécnico de Coimbra.

O CD, que conta com o acompanhamento em três temas dos professores e fundadores da escola - Alexandre Cortesão e António de Jesus -, foi apresentado publicamente quinta-feira à noite no Café Santa Cruz, em Coimbra.

Segundo uma nota do presidente do conselho directivo do ISEC, Jorge Bernardino, a gravação do CD «é o resultado de dois anos de aprendizagem, em que os alunos frequentaram aulas de guitarra com a duração de apenas duas horas semanais».

Alexandre Cortesão adiantou hoje à agência Lusa que, este ano, estão a começar a sua aprendizagem na Escola de Guitarra do ISEC 30 alunos, apesar de a execução do fado de Coimbra não ser tarefa fácil.

«É preciso espírito de sacrifício e força de vontade. Calcar em cordas de aço não é fácil», observou.

A prioridade no ensino da Canção de Coimbra na Escola de Guitarra do ISEC tem sido dada a músicos como Carlos Paredes, Flávio Rodrigues e João Bagão, mas - de acordo com o docente - estão também a ser introduzidos nomes como António Portugal, Pinho Brojo ou Jorge Tuna.

O músico lamenta a «pouca divulgação» da Canção de Coimbra nos órgãos de comunicação social e nomeadamente na rádio e manifesta-se aberto à interpretação por mulheres. «Sempre houve raparigas a tocar guitarra e viola. A cantar, não tenho nada contra, mas que o cante bem», opinou.
fonte ~ lusa

27 de dezembro de 2007

Diabo a Sete | Parainfernália


Diabo a Sete
Parainfernália

Açor/Megamúsica, 2007


É com o espírito endiabrado que descobrimos a sonoridade do grupo Diabo a Sete, no seu primeiro trabalho discográfico Parainfernália, que eles próprios definem como uma reinvenção da música tradicional portuguesa.

Efectivamente, este septeto de Coimbra apresenta uma abordagem bastante característica e um entendimento inovador no modo de recuperar as raízes musicais, transformando-as em melodias actuais e não simples memórias dum passado, por vezes, não muito distante.

As almas inquietas de Diabo a Sete pretendem ir mais longe e romper com os padrões estéticos mais puristas e classicistas, compaginando o tradicional e o folk com o rock e o reggae, tanto a nível dos arranjos, como dos instrumentos utilizados (do cava­quinho e da sanfona ao baixo eléctrico e à bateria), sem desvirtuar a beleza intrínseca das notas soltas pelos cancioneiros populares de norte a sul do país: desde o Algarve ata Trás-os-Montes, passando pela ilha da Madeira.

Por outro lado, à parte deste trabalho de recolha, os temas originais do grupo também são uma constante de natural encanto, denotando o conhecimento que os elementos de Diabo a Sete têm sobre a música étnica e a influência que outros reconhecidos músicos exercem sobre eles, como por exemplo Brigada Victor Jara ou Júlio Pereira. O certo é que, actualmente, confirmam-se como um dos grupos mais prolíferos no panorama musical português, conquistando público e crítica. Ademais, podemos considerar que este disco é o responder a uma necessidade sentida nos concertos de perpetuar a sua energia, especialmente após à participação no concurso Eurofolk 2006 em Málaga, no qual marcaram presença até à final, ganhando, assim, uma maior projecção mediática, inclusivamente a nível internacional.

A expressão Diabo a Sete significa disparate e confusão, qualquer coisa incontrolável, e conscientemente ou não, este grupo vai revolucionando o folk em Portugal, imune a todo o tipo de exorcismos e conjuros.

Sara Louraço Vidal, 2007
Alinhamento | ouvir
  1. Baile da meia volta
  2. En tu puerta estamos cuatro
  3. Chin glin din
  4. Dança dos camafeus
  5. Parati
  6. Vira-pedras
  7. Diabos no corpo
  8. Para lá do Marão
  9. Valsa da Joana e do João
  10. Ponte Nova do Algarve
  11. Guardunha
  12. O padrinho
Gravações e misturas efectuadas entre Dezembro de 2006 e Março de 2007 nos Estúdios Toste em São Mamede de Infesta.

17 de dezembro de 2007

"Há um certo clubismo no fado"

O fado voltou a viver uma relação positiva com as pessoas. É de novo valorizado, aclamado...

Acima de tudo penso que foi dignificado. Com boa poesia, boa música, actual, de autores contemporâneos que se interessaram. E também tem sido valorizado pelo mediatismo que certas pessoas têm conseguido bastante lá fora. Ou seja, quanto mais atenção existir para as coisas, às vezes mais qualidade conseguimos ter nos mecanismos que usamos. E essa dignidade que se trouxe a uma música tão simples, ao mesmo tempo, faz com que as pessoas percebam que têm de prestar atenção.

O sucesso internacional das novas vozes do fado também contribuiu para esta redescoberta pelos portugueses?

Fez o seu trabalho de auto-estima. Temos valores. Além do futebol, além de uma quantidade de coisas que são o nosso passaporte, temos, na música, o fado.

Cantou fado para Bill Clinton, quando era presidente...

É importante realçar aí a importância que teve o nosso então Presidente Jorge Sampaio que foi das primeiras pessoas a levar consigo o fado nas suas viagens. Um pouco da tal dignidade de que falava há pouco talvez também venha daí. Mas cantar para Bill Clinton foi e será sempre um momento de referência. Se bem que esteja sempre à procura do próximo momento...

Podemos falar de uma geração de 90 no fado. O que a distingue de outras, no passado?

Esta geração até se subdivide em várias. E antes desta já havia uma outra, que é a do Camané e da Mísia. E depois há a geração pós-Amália Rodrigues. Agora, as diferenças são brutais. Nem que isso venha da realidade em que cada geração viveu, os seus valores, o sentido de conceito de família, de sociedade...

O fado é ainda uma expressão tradicional?

A palavra "tradicional" é talvez a mais perigosa. Afinal, o que é a tradição hoje em dia? Se formos para a tradição de sermos seres humanos, aí sim, esta continua a ser a tradição de verter as emoções, seja a chorar ou a rir. Agora a tradição cultural... Às vezes será que nós sabemos?... Muda...

E está a saber adaptar-se a essas mudanças?

Tenho confiança que sim, porque está a surgir um repertório forte. Temos originais que marcam. E isso, para mim, é o grande emblema. Acho é que estamos sempre numa fronteira muito delicada. É um perigo estar no extremo do conservadorismo ou no do experimentalismo.

Procura um meio termo?

Tenho essa sensação sobre o perigo de perdermos as referências. Não se pode. Para mim é como sair de casa dos pais. Queremos o nosso espaço. Mas temos de lá voltar sempre, porque é lá que estão as nossas referências, o nosso fio de prumo. No meu caso, dou por mim, mais que nunca, a fazer música que é influenciada pelo fado mas que, acima de tudo, é a minha sensação fadista. O fado tem que correr outros caminhos e linguagens, mas em termos viscerais tem de ter esse sabor a fado. Nem que seja na atitude.

Daí as suas parcerias com os Corvos, ou com Amélia Muge?

Sim. É essencial. A música continua a ser comunicação.

O que diz da abordagem de Carlos Saura ao fado em Fados?

Ainda não vi o filme... Mas vou ver.

Mas o que pensa do tipo de cruzamentos do fado com outras músicas como se vê nesse filme (e não só)?

O prazer puro de fazer música é tão bonito... Tenho isso com o Ramon [Maschio]. Falamos a mesma linguagem, mas com um sotaque diferente. Isso, na música, tem um sabor fantástico.

O fado é uma música de elite?

Começou com cada pessoa com o seu próprio núcleo, mas não diria de elite. Até porque esta diversidade de pessoas tem trazido diferentes públicos. Alguns cruzam-se, mas há um certo clubismo.

Há clubismo no fado?

É uma coisa que me faz confusão. É preciso ir à Holanda para os ver falar sobre as várias fadistas sem serem redutores. Só em Portugal se fala por comparação. Talvez seja importante... Mas pergunto para quê? Se gosto de ver concertos de outras fadistas, não é para me comparar... Gosto de me aperceber das diferenças e saber o que cada pessoa tem para me dar. Somos tão diferentes e há lugar para todos nós.

O que a levou ao fado como profissional?

Cantava já no meio fadista, mas com uma colagem gigante à Amália. A minha dúvida era sobre o que haveria de cantar para o grande público me querer ouvir. E o João [Gil] descobriu que tinha uma ou outra coisa escrita. E aí tudo ganhou uma outra forma.

para maria

«Amo contar a história mais do que cantar»

Depois das oito noites de sucesso no Jardim de Inverno, Abril

regressa esta noite ao São Luiz. A cantora leva, desta vez, ao palco principal do teatro, a sua homenagem a Zeca Afonso, o mestre que nunca conheceu e a quem continua a chamar «um amigo do gira-discos».

Margarida Caetano | mcaetano@destak.pt

Não ouve Zeca só de agora. Este disco andava atrasado?
Se quer que lhe diga, comecei a ouvir Zeca muito antes de ouvir Amália. Ouvia-o em adolescente, senão mesmo em criança. A Amália surgiu na minha vida muito mais tarde. Só que de facto foi ela que me tocou. Se comecei a cantar foi pela mão ou voz da Amália, pela sua capacidade de contar histórias. Isso interessou-me de sobremaneira. O Zeca teve o papel de ser um amigo dos gira-discos, como eu digo no livrinho que conta do Abril. Os discos dele estavam sempre ali, sempre à mão, sempre se ouviram e trautearam temas dele na minha casa.

Dois mestres, dois tributos?
Fiz o mesmo com a Amália, se bem que a minha homenagem a ela foi aprender a cantar fado mais tradicional, que era uma coisa que nunca tinha feito antes. Mas depois pensar, não posso cantar Amália e não cantar também Zeca Afonso porque ele também me ensinou a crescer.

Amália, já o disse, ensinou-lhe fado e histórias. E Zeca, foi mestre em quê?
A ensinar-me a simplicidade. E, de facto, acho que aprendi bem e fui uma boa pupila. Acho que a súmula é um disco do Zeca no feminino.

Quer explicar melhor essa ideia?
Tem a delicadeza que só uma mulher lhe poderia dar. Sou muito orgulhosa disso. Enquanto o gravava cheguei a achar que me estava a colar demasiado à imagem do Zeca, só que ele tem uma linguagem tão depurada e simplificadora das coisas que não há outra forma de se cantar, senão daquele jeito e maneira!...

Depois de se ouvir esse receio diluiu-se?
Completamente! Eu estou ali toda. Nesse sentido é um disco muito Cristina Branco.

Um CD chegou para recolher todos os embriões do Zeca?
Seleccionei 20 e no final decidi gravar 16. Os que ficaram de fora, e que eu amo de igual forma, faço-os ao vivo. Creio que os que estão lá são, para mim, os fundamentais. No caso do Zeca nada é supérfluo, mas considero-os menos importantes no seu reportório. Há uma ordem cronológica e à vida do Zeca, enquanto homem e cantor, desde a ruptura com o fado de Coimbra, passando por África e pelas baladas. Está ali um bocadinho de cada momento.

Recorda-se do instante em que Zeca morreu e Portugal soube?
Perfeitamente! Os meus pais ficaram incomodadíssimos. Era um nome e uma voz presente entre nós e, apesar de ser só o cantor do meu gira-discos, foi a primeira vez em que convivi de mais perto com a morte. E, como eu, vi muitas pessoas chorarem, lá fora na rua, nos cafés e na tv.
É tão dramático perceber o quão importantes algumas pessoas são na nossa vida...É como se as conhecêssemos. Nunca nos apertamos a mão, nunca falámos nem privámos com elas, e no entanto, quando nos desaparecem do presente, percebemos que nos fazem falta.

Aconteceu o mesmo quando Amália morreu.
Aí, então, lembro-me perfeitamente. Eu até já cantava! Recebi a notícia, fora de Portugal, e fez-me imensa confusão.

Fado, lágrimas, discos de homenagem: sente-se uma eterna órfã?
Sei que sinto uma perda inestimável que o fado não consola e as lágrimas não exprimem. Há qualquer coisa de mim que se perde no instante da morte de alguns outros. Foi igual quando morreram Álvaro Cunhal e Eduardo Prado Coelho.

Este último, aliás, seu admirador atento e confesso.
Apostou e acreditou em mim desde o início. Foi muito importante no meu percurso de cantora.

"Abril" é tudo menos um álbum curvado de mágoas.
Porque o Zeca era o contrário disso! Era quase uma criança. A começar pela forma como gostava de brincar com as palavras. Apesar de ter uma relação íntima com a doença e ser até um pouco hipocondríaco, era muito ligado à vida. A expressão maior da sua liberdade era ser quase sardónico consigo mesmo.

Até parece que o conheceu. Quem é que lhe contou tantas coisas do Zeca?
Esta é a parte gratificante de concertos em espaços intimistas como o do S. Luiz.

Refere-se aos espectáculos no Jardim de Inverno, a convite do Jorge Salavisa?
Sim. Fui cheia de vontade de amar o Zeca em palco, com tudo o que tinha para dizer a partir do que aprendera dele. E depois, durante aquelas noites que lá estive, vi surgir entre aquelas quatro paredes pessoas que no fim vinham partilhar comigo mais qualquer coisa que desconhecia. Porque todos os amigos do Zeca ali estiveram: políticos, amigos íntimos, colegas de profissão e luta, família, todos. Foram momentos impressionantes de harmonia, consenso, coisas a que nunca na vida tinha assistido. Foi preciso estar a cantar Zeca para as ver acontecer!

Esta noite, no regresso ao S. Luiz, espera reviver um momento idêntico?
Há coisas únicas, mas aprendi que quando o assunto é o Zeca, toda a gente tem sempre alguma coisa para dizer. É como se nos sentássemos todos à mesma mesa a saborear uma pessoa decisiva na cultura portuguesa.

Percebe-se que preparou "Abril". Foi crucial?
Não gosto de cantar nada levianamente. Li muitos livros e falei com quase todos os jornalistas que o entrevistaram, amigos, etc. Foi importantíssimo para absorver a sua energia e música. Cantei-o de forma muito mais tranquila.

Na digressão sobre Amália, já ia cantando este novo CD.
Depois de cantar um poema do pré-revolução do Pedro Homem de Mello, abro a 2.ª parte com ele. Explico que estava preso, quando fez o "Redondo Vocábulo", o que foi a ditadura e qual a importância da liberdade para todos nós. Gosto de narrar a história.

Já o disse: aprendeu a contar com ‘A Cantadeira'?
(Risos) Toda a gente a venera pelo seu grande potencial. Eu amo a Amália pelo outro lado. Não a parte sombria. Gosto de a imaginar na tranquilidade de absorver os poemas, a contemplá-los e a tentar perceber o que tem de si para lhes dar. É assim que eu quero ser porque, no fundo, é assim que eu sou. Mais do que a experiência vocal que possa ter adquirido em todos estes anos de palco, quero respeitar quem escreve e compõe. Quero nunca desvirtuar o que quiseram dizer. Amo contar a história mais do que cantar.

Daí que os seus concertos tenham cada vez menos música?
Exacto. Já se canta quando se conta. Os músicos cada vez tocam menos. Eu cada vez canto menos. Sendo que a música nunca desaparece, mas (a começar por mim) ninguém tem que fazer muitos floreados porque a história está toda ali. Quando existe sinceridade e convicção naquilo que se está a fazer não é preciso fazer grande folclore à volta. Gosto que a minha música seja como a água: vá passando.

8 de dezembro de 2007

Janita Salomé | Vinho dos Amantes


Janita Salomé
Vinho dos Amantes

Som Livre, 2007

Dizem que o vinho do Porto, quanto mais velho, melhor. A música de Janita Salomé parece entrar no mesmo sistema de amadurecimento, apresentando-nos este ano o seu mais recente trabalho "Vinho dos amantes", sonoramente coerente e bem estruturado. Nele somos convidados a sermos partícipes dum banquete etílico de melodias rurais e urbanas, que tanto nos situam no sossego alentejano do Redondo, vila natal do músico e compositor, como recordam a aridez do norte de África ou geografia urbana de Coimbra.

De feito, as referências ao vinho e aos seus efeitos são o eixo central deste disco, que se assume como uma ode à vida, de preferência embriagada pela poesia, virtude e amor, transformando cada segundo e sentido numa intensidade plena de emoções, que o vinho agudiza como unha hipérbole natural.

E é também de poesia que este disco é feito, reunindo palavras delicadas e sarcásticas em torno do "néctar dos deuses", escritas por poetas sempre actuais: Camilo Pessanha, Hélia Correia, José Jorge Letria, Charles Baudelaire e António Aleixo, entre outros.

Por outro lado, este disco é um explorar de novas sonoridades, o humor e a melancolia portugueses, mas sem perder a musicalidade que mais e melhor o define, ou seja, o jeito próprio de cantar do Alentejo e as evocações arábico-andaluzes. Aliás, é de referir que Janita Salomé vem desenvolvendo um importante labor de recolha da tradição musical alentejana, plasmada na sua vasta carreira musical, desde Melro (1980), passando por Cantar ao sol (1983), Lavrar em teu peito (1985), Olho de fogo (1987), A cantar à lua (1991), Raiano (1994), Vozes do sul (2000) e Tão pouco e tanto (2003), tendo colaborado com destacáveis músicos portugueses, tais como Zeca Afonso, Júlio Pereira, José Mário Branco e Brigada Victor Jara, entre outros, aclamado pela crítica e ganhador de vários prémios.

Venha vinho diz o dito popular, e venham mais discos do Janita!

Sara Louraço Vidal, 2007
Alinhamento
  1. Maçãs de Zagora
  2. A Estrela do Vinho
  3. Escadinhas do Alto
  4. Embriagai-vos
  5. O Vinho dos Amantes
  6. Fragmentos
  7. No Banquete
  8. Ode ao Vinho
  9. Quadras
  10. O Mapa Errante
  11. Caminho III
Produção musical: Janita Salomé e Mário Delgado
Produção executiva: Janita Salomé e Vachier&Associados
Gravado, misturado e masterizado por Artur David no Estúdio Praça das Flores entre Maio e Agosto de 2006.
maçãs de zagora
vinho dos amantes, 2007

7 de dezembro de 2007

Um Homem no Fado

Carlos Manuel Moutinho, vulgo Camané, já todos os críticos o adjectivaram, é o Príncipe do fado, o descendente de Amália, o autêntico do fado… Todas estas definições descrevem Camané que, de facto, é a alma e a voz do fado. É difícil encaixar, se é que é possível colocar alguém em caixas, o Camané. Será que é um dos membros da nova geração de fadistas a que pertencem Mariza e Mafalda Arnauth, ou da geração tradicional de Amália e Carlos do Carmo, resistindo como o último dos nobres desta arte? Como Camané diz, o fado é uma música de uma profundidade enorme e deve ser conhecida por todos, mesmo que tenham preconceitos. Façam como os estrangeiros quando ouvem fado. Fechem os olhos e deixem-se levar pelos sentimentos que em nós desperta. A guitarra que se junta a voz e à palavra, criando uma das mais ricas tradições mundiais, porque poucas músicas se podem gabar de cantar Pessoa, Camões, Garrett, Pedro Homem de Mello e Sophia de Mello Breyner, entre outros. E, porque se dizem que Portugal é um país de poetas, o fado nasceu para os cantar.

A entrevista decorreu aquando da vinda de Camané a Santa Maria da Feira, ao Cine-Teatro António Lamoso. O resultado foi uma conversa franca e de extrema sensibilidade e honestidade nas respostas de Camané.

Quais são as diferenças entre actuar em Casas de Fado, onde começou a sua aprendizagem como fadista, e actuar em auditórios? Já chegou mesmo a actuar nos festivais de Verão, como o Sudoeste, embora no projecto Humanos.

Tenho cantado em diversos espaços. Ainda há tempos, com o Carlos do Carmo, tocamos para 25 mil pessoas em Lisboa, cantei para 12 mil pessoas no anfiteatro Keill do Amaral, e para muitos outros milhares nos festivais de Verão. Mas são casos pontuais porque o habitual é tocar em auditórios com um máximo de 700 a 800 pessoas. A verdade é que já não canto em Casas de Fados há muitos anos. Estas foram muito importantes para mim porque há uma grande empatia que se cria entre quem canta e quem ouve. Esta empatia é sempre uma incógnita. Correr bem ou não também tem a ver com o público, que nunca é o mesmo. São espaços completamente diferentes, mas acho que se pode criar uma melhor empatia com o público num palco de que numa Casa de Fado porque hoje são essencialmente sítios turísticos. Já não são o que eram.

Perderam a sua autenticidade?

Muitas delas. Mas continuam a existir noites fantásticas em Casas de Fado que foram o meu sítio para aprender, a minha oficina. No entanto, o espectáculo em palco foi a melhor opção que eu tomei para o meu trabalho, apesar de ter sido um trabalho difícil criar um circuito onde pudesse mostrar aquilo que faço e abandonar as Casas de Fado.

Nos últimos anos fala-se, ouve-se e discute-se o fado cada vez mais. Acha que Portugal mudou de atitude perante o fado?

Algumas pessoas sim. Eu continuo a acreditar e a sentir que existem muitas pessoas que têm –e assumem - uma imagem muito preconceituosa do fado. Isto tem a ver com uma certa ignorância perante o fado, porque as pessoas ainda não se aperceberam que tem uma música com uma personalidade melódica fortíssima e que resiste há 150 anos. O fado está cheio de personalidade e representa um património riquíssimo. O problema é que o fado mexe com muitos fantasmas e vergonhas das pessoas, o quem faz com que ainda não tenha o devido valor em alguns meios intelectuais portugueses.

P:Esse preconceito de que fala vem do pós-25 de Abril e das décadas de 1980 e 1990, ou já é anterior à revolução?

R:Já vinha de antes. Esse preconceito existiu sempre, mas evidenciou-se no pós-25 de Abril devido a uma suposta ligação do fado ao antigo regime, o que nunca aconteceu. Houve um aproveitamento político do fado dado que as casas de fado acabavam por ser um local frequentado por pessoas ligadas ao regime e onde estas gastavam o seu dinheiro. No fundo as Casa de fado viviam dos clientes que pudessem gastar e pagar os seus elencos e por isso talvez existisse uma relação próxima entre os membros do regime e os donos das casas de fado. O antigo regime também se aproveitou de pessoas como a Amália mas depois, em democracia, os Governos de todos os partidos políticos também o fizeram e aproveitaram-se da dimensão artística e pessoal que a Amália tinha no mundo. Foi sempre um erro conotar o fado ao antigo regime, o que criou muitos problemas a diversos artistas que sofreram injustamente por causa disso.

P:Como é que surge a ligação do Camané ao fado? Nasce-se fadista?

R:As duas coisas. A minha ligação ao fado já vem desde o meu bisavô, ou até antes. Os meus pais ouviam em casa e eu tinha acesso aos discos da Amália, do Marceneiro, e de todos que cantavam. Eu ouvia-os compulsivamente quando tinha sete anos e tinha essa música como a minha principal. Ao início achava-a estranhíssima, mas depois assimilei-a, bem como a característica de canto. E isso é algo que já nasce de nós e tornou-se cada vez mais evidente que o fado nasceu comigo. Quando o comecei a ouvir assimilei todas as suas características e mesmo quando já não o cantava e ouvia outros estilos musicais, isto quando tinha 14 ou 15 anos, ao cantar bossa nova e rock eu tinha sempre aquela nuance do fado na minha voz. Eu queria ser cantor, mas não sabia o que queria cantar. Apercebi-me então que só poderia cantar fado, não sendo possível fugir porque a minha característica de canto já era essa. Era no fado que me sentia como peixe na água. Aos 17 anos decidi ser fadista mesmo já tendo cantado de forma demasiado exposta aos 10 e 11 anos depois de ter ganho a Grande Noite de Fados, no que foi a minha primeira abordagem ao fado. Depois procurei outros caminhos musicais, mas voltei ao fado.

P:Hoje em dia fala-se muito na existência de duas gerações do fado. Onde é que o Camané se encaixa? Ou serve de elo de ligação?

R:É possível que seja a ligação visto que eu cresci no meio do fado e não me considero da nova geração porque o meu percurso no fado tem muitos mais anos.

P:O Camané já cantou Antero de Quental, António Botto, David Mourão-Ferreira, Manuela de Freitas, Amélia Muge, entre outros. Como se escolhe um poema para ser fado? É uma escolha natural ou é procurada?

R:Há uma procura. O Antero, o Botto e o Pessoa são poetas clássicos, não precisam de ser cantados porque a sua poesia vale por ela própria. Mas dignificam o meu trabalho. Existem muitas quadras ao gosto popular, do Pessoa, que fazem todo o sentido ser cantadas. Outros poemas não, porque têm uma subjectividade muito grande. São poemas de grande reflexão apesar do fado, enquanto música, obrigar à reflexão e aos sentimentos, mas de uma forma mais simples. É esta procura que aparece nos poemas que eu canto. Eu também já cantei muito Pedro Homem de Mello porque gosto muito dele e está muito ligado ao mundo do fado. Foi descoberto para o fado pela Amália e fascinou-se por ela. Desenvolveu um trabalho excelente. Ele tinha poemas muito bons e que a Amália não cantou porque ela não gostava de cantar poemas que tinham temas como a morte ou certas palavras que a Amália não gostava de dizer. E eu procuro os poemas que nunca ninguém cantou. Quer o Pedro Homem de Mello quer o David tinham muitos poemas por onde escolher e eu tive a sorte de os encontrar. Faz-me sentido essa procura. Mas também há palavras que não gosto de utilizar na minha forma de cantar.

P:Ao nível da produção todos os seus álbuns foram assinados pelo José Mário Branco. Como é trabalhar com ele?

R:É fantástico e tenho aprendido muito. Quando comecei a gravar queria encontrar um som próprio para o meu fado e que fosse autêntico. Tive que ir à procura de alguém que entendesse isso e que não o quisesse desvirtuar, o que acontece muito. Eu não deixaria que comigo isso acontecesse. O Zé Mário teve essa percepção e entendeu o fado da forma como eu também o vejo. Por outro lado queria um rigor e um ambiente musical que fosse transportado para os meus discos porque chateava-me ouvir discos de fado e todos eram iguais, porque tinham os mesmos músicos e introduções. Eu queria fazer algo diferente e tive que pedir ajuda ao Zé Mário, enquanto músico de grande sensibilidade e de grande rigor e criatividade. Só podia ser ele a fazer essas coisas e o meu encontro com ele foi fabuloso.

P:Vai sair agora o seu novo álbum, após um hiato de 6 anos. Que novidades é que já podem ser reveladas?

R:Tenho algumas canções que já estão prontas. Uma do Sérgio Godinho, outra do Mário Laginha, que eu já cantei, e outras que ainda faz sentido preservar e manter em segredo até o álbum estar pronto porque ainda vão fazer parte de uma escolha final, em que vou ter que decidir quais delas é que vão ficar. Vou também cantar poemas da Manuela de Freitas e de outros poetas actuais. Em princípio vão existir dois fados do Jacinto Lucas Pires já que eu gostei muito dos poemas.

P:Além do projecto Humanos, cantou com o Sérgio Godinho, Xutos & Pontapés e, por duas vezes, em Outras Canções e Outras Canções II, percorreu outros universos musicais como a bossa nova, a canção francesa e a Brodway. Necessita dessa diversidade?

R:Necessidade pessoal, sim! Eu gosto muito de estar sempre a trabalhar e esses projectos foram um prazer enorme. A necessidade, essa está no fado. O projecto Humanos foi feito em grupo. Tive pessoas a fazerem muitas coisas e a ajudarem-me imenso. Tinha a “papinha toda feita”, músicos que estavam a produzir o disco e que me diziam que apenas tinha que cantar e criar um ambiente para essas canções que o resto eles tratavam. Deu para confiar porque eles são muito bons. O Rafa, o Hélder Gonçalves, a Manuela, o David, o João Cardoso, o Serginho e todos os outros que estavam no projecto. As músicas foram distribuídas de forma brilhante e eu nunca conseguiria chegar lá se não fosse por todos os outros membros.

P:Em Outubro, saiu o filme Fados de Carlos Saura. Como surge a sua participação no filme?

R:Fui convidado e foi um projecto em que gostei imenso de participar. É um filme que apresenta o fado numa visão de alguém que não é português e que tem um sentido estético muito bonito. Por tudo isto valeu a pena participar no filme.

P:Tem sido sempre muito elogiado. O Miguel Esteves Cardoso chamou-o de Príncipe do Fado, João Lisboa do Expresso escreveu que “se andam à procura de uma nova Amália fiquem a saber que é homem e chama-se Camané”. Como é que lida com estes elogios? São postos de parte ou recebidos com um sorriso de quem vê o seu trabalho reconhecido?

R:É isso mesmo. Levam-me a fazer sempre o melhor possível e continuar a fazer o meu trabalho sem ceder, sem aligeirar, e sem andar à procura de me exibir. Ser eu próprio e continuar a sê-lo. Foi e é assim que as coisas foram acontecendo. Eu não sei viver de outra maneira.

P:Como sempre? Como dantes?

R:Exactamente.

fonte ~ jornal labor

triste sorte

6 de dezembro de 2007

O fado é a melhor forma de expressão

Kátia Guerreiro tem 32 anos. É reconhecida pelo público como uma das mais bonitas vozes da actualidade. A médica, que é também fadista, regressa hoje a público, com um concerto no Convento de São Francisco.

DIÁRIO AS BEIRAS(DB) - Quando é que começou a cantar fado?
KÁTIA GUERREIRO (KG) - Foram amigos que me foram desafiando para cantar, porque gostavam de me ouvir. Um dia, fui a uma casa de fados, com alguns deles, que me denunciaram e, perante uma audiência de luxo do mundo do fado, fui obrigada a cantar. A partir daí, recebi convites para participar em pequenas actuações, até que o João Braga me contacta para cantar no 1.º aniversário sobre a morte de Amália, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Fui. Tinha acabado o curso de Medicina e pensava que a minha vida estava determinada nesse sentido. Afinal, não. Nunca mais parei, apesar de prosseguir como médica.

DB - Como define o papel que o fado tem na sua vida?
KG - O fado ganhou um papel de equilíbrio das minhas emoções e de ajuda no auto-conhecimento.

DB- Recorda-se da sensação que teve dos primeiros sucessos?
KG - Recordo-me da enorme surpresa que foi, para mim, cantar em sítios tão longínquos e ser acarinhada e tratada como uma enorme artista.

DB - Tem sido muito falada pela crítica internacional. Qual a sensação de saber que também é reconhecida no estrangeiro?
KG - Na verdade, acho que sou mais falada no estrangeiro do que em Portugal, mas não tenho qualquer ressentimento por isso. Sei que ando a construir uma carreira segura e com crescimento gradual.

DB - De todos os álbuns, qual foi o que lhe deu maior gozo ?
KG- Todos me deram. É difícil eleger um. Talvez no último me tenha envolvido mais com os autores de poemas e músicas, tendo eu também participado na composição de alguns temas. Mas tive também um gosto especial no “Nas Mãos do Fado” . Porém, o “Fado Maior” foi o primeiro e, talvez, o das descobertas... Não sei dizer...

DB - Já começaram as comparações com a Amália? Como é que as encara?
KG - Sim. Desde o primeiro dia, em que fui ao Coliseu, e um crítico escreveu que “um fantasma pairou no Coliseu”, o que me assustou imenso. Mas, no fundo, percebo que, após o desaparecimento de um grande valor como Amália, todos procurem encontrar um substituto. Não tenho medo das comparações, pois sei que estarei sempre a perder, mas o facto de o fazerem acaba por ser gratificante.

DB - A Medicina é compatível com a música?
KG - Claro que é. Há médicos escritores e pintores, sempre houve. A música acaba por ser apenas uma vertente artística diferente dessas, mas não menos interessante, para um médico.

DB - Muitos fadistas consideram que o fado tem uma dimensão existencial. Identifica-se com essa ideia?
KG - Quem pensar no fado como um ofício não é fadista. Tem de se ser muito especial para se cantar o fado com verdade. Eu não me lembro de, alguma vez, ter entrado no palco sem me entregar completamente ao que fazia. Vai para além do ofício, vai para além da obrigação. E só assim é que as pessoas se sentem tocadas. Quando não é verdade, o público não se deixa enganar por muito tempo.

DB- Volta agora, com este espectáculo, aos concertos ao público. Quais as expectativas?
KG - Que o público que me vai ouvir receba o que faço de forma genuína e que se entregue. E é assim que acontece fado.

2 de dezembro de 2007

António Pinto Basto celebra 35 anos de carreira com novo disco e espectáculo no Casino Estoril

O fadista António Pinto Basto celebra 35 anos de carreira com a edição de um novo disco, Bodas de coral, e a sua apresentação, domingo, no Casino Estoril.

O álbum, editado pela Zona Música, é apresentado no âmbito do ciclo O fado volta ao casino que decorre desde Setembro todos os domingos, pelas 22h, no Teatro-Auditório daquele equipamento lúdico-cultural.

O álbum marca a estreia de Pinto Basto, aos 55 anos, como letrista, com o tema Madrigal para Amália, uma homenagem a Amália Rodrigues.

«Certo dia encontrei-me com a Amália, ao cumprimentá-la, ela com aquele seu sorriso simpático e maroto, fez-me uma festa na cara e disse-me: 'Ah, se eu tivesse menos 50 anos…'. Não pude ficar indiferente e retorqui-lhe com este poema que mais tarde lhe fiz chegar às mãos e que se completa agora com música também de minha autoria», explicou.

Esta não é aliás a única música que assina no CD. De sua autoria são ainda Gostava (Vasco Telles da Gama) e O castanheiro (João de Vasconcellos e Sá).

O álbum que apresentará domingo à noite totaliza 15 temas com letras de Manuel Alcobia, Rosa Lobato Faria, Castro Infante ou Tiago Torres da Silva, entre outros, interpretadas em fados tradicionais como o Proença, Zé Negro, Franklin de quadras ou Triplicado.

«Há necessariamente um regresso ao tradicional, aquilo que ficará para sempre e que permite adaptarmos letras diferentes», disse.

«Por outro lado - acrescentou - são as músicas que todos sabem e que se cantam nas noites de fado amador».

A acompanhar Pinto Basto no teatro-auditório estarão os mesmos músicos que gravaram o álbum: José Luís Nobre Costa na guitarra portuguesa, Francisco Gonçalves na viola e Armando Figueiredo na viola-baixo.

Mas ao palco sobem também alguns convidados, alguns nomes com quem Pinto Basto realizou duetos ao longo dos 35 anos de carreira: Teresa Siqueira, José Gonçalez, Maria João Quadros, José da Câmara e Teresa Tapadas.

«Ausentes, por se encontrarem fora e em trabalho, estarão Paula Varela Cid, Dulce Guimarães, Maria Armanda e o duo uruguaio Nelson & Leonor», afirmou.

Foi nos 35 anos de carreira que o criador de Ó Portela se inspirou para intitular o álbum.

«Convencionou-se celebrar os 35 anos de casamento como bodas de coral, pois há 35 anos que estou casado com o fado, tudo começou em 1970, e este álbum está na forja há já dois anos», explicou.

«Ainda estudava engenharia quando comecei a gravar EP e a aparecer na televisão a cantar fado», recordou.

De 1974 até 1988 decidiu não gravar mas não deixou de se apresentar em público, quer em Portugal quer no estrangeiro.

Em 1988 editou o seu primeiro LP, Rosa branca, que foi disco de Ouro pelas vendas, tendo nesse ano realizado mais de 120 espectáculos.

Na década de 1990 surge o seu terceiro LP, Confidências à guitarra e prossegue as digressões tanto em Portugal como pelo estrangeiro.

Nesta década além de pela primeira vez ir ao Canadá, inicia um périplo com a Orquestra Chinesa de Macau.

No final desta década apresenta-se em S. Paulo e Rio de Janeiro, no Brasil.

Volvidos 35 anos, António Pinto Basto considera que «o fado vive um momento alto, nas está mais industrializado, mas dentro do 'showbiz', o que lhe retira um certa maneira doméstica de ser e fazer».

Quanto ao futuro «há vários espectáculos em agenda».

«Um deles que me dá muito gosto - continuou - é para os alunos do 8.º ano do Colégio Militar que demonstra que há interesse dos jovens pelo fado».

Quanto à experiência como letrista, considera que «ficará por aqui».
fonte ~ sol

fado do grupo de forcados amadores de évora

28 de novembro de 2007

Curso de Gaita-de-fole do leste transmontano e de Flauta de Tamborileiro | Lisboa

A Associação Gaita-de-Foles organiza, a partir de Janeiro de 2008, um curso de iniciação à Gaita-de-fole do Leste Transmontano, com a duração de 6 meses, destinado a alunos com prática anterior em Gaita-de-fole. Nele serão ensinadas técnicas de execução, ornamentação e repertório próprio dos gaiteiros tradicionais de uma área geográfica específica, procurando-se ilustrar a diversidade de géneros musicais que caracterizam as práticas instrumentais aí presentes. A História recente das gaitas-de-fole em Trás-os-Montes é uma temática presente no Curso, com a referência aos estudos/trabalhos realizados no âmbito da Etnomusicologia e com espaço ainda para audição de registos sonoros de diferentes períodos do século XX. O curso resulta de uma parceria com a Casa da Comarca da Sertã, em Lisboa, numa iniciativa que pretende contribuir para a formação de uma nova geração de tocadores capazes de perpetuar/recriar uma prática musical que urge revitalizar. As pré-incrições estão abertas até 21 de Dezembro de 2007 e o número de vagas é limitado. > + info

Também a partir de Janeiro de 2008, terá lugar a abertura de um curso de iniciação à Flauta de Tamborileiro (flauta de três buracos e tamboril) com a duração de 6 meses, numa iniciativa que pretende contribuir para a formação de uma nova geração de tocadores de um conjunto instrumental com longa tradição em Portugal. Nele serão ensinadas técnicas de execução e de coordenação entre a flauta pastoril e o tamboril, além de repertório variado, com destaque para as práticas musicais de Trás-os-Montes, onde este tipo de flauta é, conjuntamente com a gaita-de-fole, um instrumento musical preponderante. No curso haverá ainda espaço para uma abordagem sucinta da sua História em Portugal, lançando-se igualmente um olhar sobre outras áreas geográficas da Península Ibérica onde o instrumento é tocado actualmente, o que permite uma melhor contextualização das práticas musicais portuguesas. O curso resulta de uma parceria com a Casa da Comarca da Sertã, em Lisboa, decorrendo nas suas instalações. As pré-incrições estão abertas até 21 de Dezembro de 2007 e o número de vagas é limitado. > + info

24 de novembro de 2007

Entrevista com Paula Oliveira: Lusitânia Ensemble

O segundo volume das versões assinadas pela cantora Paula Oliveira (conhecida por ser professora na Operação Triunfo) e pelo contrabaixista Bernardo Moreira já está disponível. «Fado Roubado» é o título e as explicações ficam por conta de uma das melhores vozes portuguesas.

Comecemos pelo título. «Fado Roubado» implica um assalto mas, neste caso, o crime compensa. E convém lembrar que nem só de fados se faz este encontro entre Paula Oliveira e Bernardo Moreira.
«O título é uma provocação. A explicação da palavra «fado» tem a ver com a inclusão de alguns fados no disco. Para mim, cantar a nossa língua é sinónimo de nostalgia e o fado reflecte esse estado de espírito embora eu não me considere uma fadista. Já o ser «roubado» tem a ver com o quanto eu amo a música dos outros. É um tributo. Tinha que inclui também o José Afonso e o Carlos Paredes. Ambos têm uma história marcante. São homenagens e há também um encontro de gerações.»

Numa época em que a vontade de cantar a música dos outros saltou dos bares para os estúdios, Paula Oliveira e Bernardo Moreira repetem uma ideia já ensaiada há dois anos no primeiro álbum conjunto. Porquê?
«O disco aparece como consequência do outro, que vendeu bastante. As pessoas ficaram com muita vontade de nos ouvir, espero eu. Achei importante dar continuidade ao projecto. Sempre cantei música de outras pessoas e, provavelmente, vai continuar a ser assim. Há tanta coisa que eu gostava de cantar que nem cheguei a colocar a hipótese de criarmos de raiz o álbum. É um prazer incrível mas isto sempre aconteceu. Os fadistas gravam continuadamente o mesmo repertório. Na música clássica, passa-se exactamente o mesmo. Se calhar, está tudo inventado, não sei. Mas eu preciso de referências. Um dia, talvez tenha um disco só com inéditos meus mas, para já, não penso muito nosso.»

Na escolha de canções, ressalta imediatamente uma aposta exclusiva em repertório nacional. Do fado ao jazz, a pop fica de fora, por opção premeditada. A Operação Triunfo também ajudou à escolha final.
«Ouvi centenas de temas, alguns deles na Operação Triunfo. Já conhecia muitos outros também. Fizemos uma pré-selecção de 30 a 50 canções. Depois, fomos descobrindo que algumas nos levavam a melodias, outras a poesias. A pop ficou de fora porque seria necessário simplificar a música e não foi esse o objectivo. Já cantei muita música estrangeira mas é mais difícil. Há um «swingar» muito próprio em português. Quanto a problemas com direitos, só tivemos dificuldades por causa de um poema do Alexandre O`Neill mas falei com a viúva dele que me pediu apenas para lembrar o nome dele sempre que cantasse esse tema.

Ligada há vários anos ao mundo do jazz, Paula Oliveira é alguém com um conhecimento deste mundo, que permite aferir da real vitalidade deste género em Portugal.
«Como cantora, movimento-me num curcuito pouco televisivo. Admito que a Operação Triunfo me dê alguma visibilidade, o que poderá ser capitalizado no «Fado Roubado». Quando aceitei o convite para participar no programa, o disco já estava a ser feito portanto não houve qualquer interferência. Dar o salto depende de muitos factores, principalmente o empenho. Há vários nomes no jazz com muito talento. Joana Machado, Marta Hugon, Joana Rios e a própria Jacinta que foi minha aluna há vários anos…O circuito está a crescer. Há mais festivais, mais apostas, o que aumenta o investimento.»

fonte ~ Davide Pinheiro

José Cid em entrevista ao Destak

O controverso autor de '20 Anos', 'Domingo em Bidonville', 'Nossa Senhora do Tejo', e outros êxitos de 'Ontem, Hoje e Amanhã' volta a ter sobre si as luzes da ribalta. Amanhã, o Campo 'será' Pequeno para assistir à reunião especial do Quarteto 1111 e receber um dos maiores autores de sempre da música portuguesa. O Destak esteve à conversa com o 'grande' José Cid.

Atravessa uma fase dinâmica e criativa?
Dinâmica sim, criativa nem por isso. Infelizmente nem tenho escrito.

Por falta de tempo?
Não, por falta de inspiração. Estou a gerir a minha carreira, as minhas músicas, a tentar ser criativo naquilo que fiz e não repetir a forma de expressão que tinha, mas não estou efectivamente a escrever muita coisa. Isso é muito chato para mim, que escrevia uma canção por dia e agora, há dois ou três anos a esta parte não escrevo.

Talvez precise de viajar...
Não, acho que a criatividade é como a 'tesão', quando a perdes não tens tanta (risos).

O que é que está a ser preparado para o Campo Pequeno? Na reunião do Quarteto 1111, está confirmado o Tozé Brito?
Sim, está confirmado. Da última vez, no MusicBox, ele estava nos EUA. Vamos tocar A Lenda de El-Rei D. Sebastião, João Nada, Domingo em Bidonville, No Reino do Blá, Blá, Blá e talvez mais um ou outro. Nós dominamos o nosso pequeno e curto, mas 'grande' repertório.

E outros convidados?
Apesar de me dar com muitos músicos, convidei aqueles com quem falo mais, o André Sardet e o Luís Represas.

Com quem partilha a paixão pelos cavalos...
Pois, faço concursos hípicos com o Luís, dou aulas da bateria ao filho dele, estou a compilar o álbum José Cid e os Poetas, que vai ser entregue à Casa do Gil de Margarida Pinto Correia. É um álbum muito acústico e que vai surpreender porque mostra um lado meu que as pessoas não conhecem tanto, mas que está feito e que está gravado. Por isso estou muito ligado à família Represas. O André Sardet é sobrinho da minha vizinha mais crescida em Coimbra. Houve um tempo em que ele andava 'desanimadote' e fui-lhe encaminhando algum traba-lho que não podia aceitar e dizendo-lhe: «Espera que vais lá.» E depois, de dois anos a esta parte, aconteceu. Vai também tocar comigo, apesar de não estar no cartaz, o Amadeu Magalhães, digno representante da música popular portuguesa (gaita-de-foles e flauta).

Lembra-se da primeira música que escutou?
Foi certamente fado. Toda a minha família era muito musical e muito fadista. No entanto, o meu avô, não Cid, do lado Tavares, era músico, chegando a tocar guitarra com o célebre fadista Hilário de Coimbra. E também tocava piano, foi ele que me ensinou a tocar com a mão esquerda. Foi com ele que percebi que se podia tocar com as duas mãos. A meio dos anos 50 fui vocalista de uma banda jazz e cantava os standards. Por sorte, o fado e o jazz têm muitas coincidências. O fado é mais poético, o jazz é mais musical. Ambos têm muitas formas de expressão. No fado tens de cantar com sentimento, no jazz com feeling. No fado, se souberes cantar, cantas com balanço cujo exemplo maior é a Hermínia Silva, e quase todos os bons intérpretes de jazz têm swing. Podes improvisar, cantar de forma diferente, mas há muitas coincidências.

E se tivesse nascido 20 ou 30 anos mais tarde?
Não seria certamente o mesmo, porque a vida é muito dificultada às novas gerações. Primeiro por que é tudo muito mais competitivo, depois porque já está muita coisa feita. O próprio sistema não os ajuda... Ainda agora me apareceu um rapaz de Salvaterra de Magos a escrever e a tocar lindamente, com um nível que nós não tínhamos na nossa geração, por que eles são mais profissionais. Custa-me que haja novas gerações a caminharem para uma parede que se afasta cada vez mais delas. Por portas fechadas e por dificuldades económicas.

Não é um paradoxo ser monárquico e anarquista?
É um certo paradoxo, porque foram os anarquistas que efectuaram a maior parte dos regicídios. Entretanto, as monarquias evoluíram e são muito mais actuais, culturais e nacionalistas do que as repúblicas. Acho que uma opção monárquica é sempre melhor do que uma opção republicana.

fonte ~ destak

O meu piano


Nossa Senhora do Tejo

17 de novembro de 2007

Carlos do Carmo "À Noite"

No próximo dia 22 Novembro, sairá ao mercado o novo trabalho discográfico de Carlos do Carmo, intitulado "À Noite".
O Expresso avança três músicas em primeira mão, para descobrirmos, na íntegra, a nova expressão dum dos fadistas mais emblemáticos da sua geração e do panorama musical actual.

Escritas do Maio - Escrever com José Afonso

A AJA tem o prazer de vos apresentar o livro "Escritas do Maio - Escrever com José Afonso".
Trata-se de uma obra que resulta da colaboração entre a editora Profedições e a Associação José Afonso. Uma unidade didáctica que, centrada na pessoa e na obra de José Afonso, apresenta propostas de trabalho, não só na área da língua portuguesa, mas em outros aspectos da educação e formação dos alunos. Indispensável aos educadores sociais e professores.
À venda na AJA.

10 de novembro de 2007

Mariza, menina e moça

A fadista Mariza não arrecadou o Grammy Latino para o qual estava nomeada, mas juntou, na noite de anteontem, 14 mil pessoas, que esgotaram o Pavilhão Atlântico, em Lisboa.

A notícia foi dada pela própria fadista na parte final da sua actuação "Como vêem, fiz bem em escolher ficar aqui", disse, interpretando logo de seguida um fado emblemático, "Oh, Gente da Minha Terra", de Amália Rodrigues e Tiago Machado.

O concerto abriu com a exibição de imagens do filme "Fados", de Carlos Saura, actualmente em exibição nas salas.

Depois disso, a fadista passou em revista vários dos seus sucessos, desde "Cavaleiro Monge" a "Transparente", passando por "Primavera" e "Meu Fado, Meu Fado".

A fadista foi acompanhada pela Sinfonieta de Lisboa e pelos seus músicos habituais Luís Guerreiro (guitarra portuguesa), António Neto (viola), Vasco de Sousa (viola-baixo) e Viky e João Pedro Ruela (secção rítmica).

Mas houve mais. É que o espectáculo contou com vários convidados amigos da fadista. A saber Carlos do Carmo, Filipe Mukemba, Tito Paris, Ivan Lins e Rui Veloso, com os quais interpretou diversos temas.

Alturas existiram em que a fadista abandonou o palco para dar lugar aos seus amigos. A intervenção mais aplaudida foi, como é natural, a de Carlos do Carmo - o fadista cantou "Canoas do Tejo" e conseguiu pôr 14 mil vozes a cantar "Lisboa Menina e Moça", naquele que foi um dos momentos mais emocionantes de toda a noite.

Tito Paris também lá esteve, já que o concerto pretendia celebrar a lusofonia. O músico cantou "Saudade", de Cesária Évora, em dueto com a protagonista ptrincipal da noite.

Minutos depois, foi a vez do brasileiro Ivan Lins dar um ar da sua graça, com "Madalena", "Passarela no ar" ou "Começar de novo".

Rui Veloso juntou-se à festa quase no final, interpretando peças como "Transparente", "Jura" e "Não queiras saber de mim".

O concerto durou duas horas. Não faltaram fados como "Loucura" (logo a abrir), "Barco Negro", "Maria Lisboa", "Cavaleiro Monge", "Feira de castro", "Primavera" ou, entre muitos outros, "Meu Fado meu".

Recorde-se que este espectáculo aconteceu poucos dias depois de Mariza ter regressado de uma digressão nos Estados Unidos, onde actuou em salas como o Carnegie Hall de Nova Iorque ou Disney Concert Hall de Los Angeles. Pelo meio, a fadista portuguesa participou no famoso programa televisivo de David Letterman. Os seus concertos no outro lado do Atlântico não passram propriamente despercebidos, tendo recebido o aplauso de grande parte da crítica.

Para um futuro próximo, a fadista tem agendados concertos em Bruxelas (amanhã) e na Holanda Amesterdão (dia 18) e Tilburg, três dias depois.

Em meados de 2008, Mariza deverá lançar mais um disco. Em princípio, o álbum será produzido por Javier Limón, um conceituado produtor espanhol e compositor de flamenco. Este será o quarto álbum de originais de Mariza, sucedendo a "Transparente", "Fado Curvo" e "Fado em Mim". A fadista tem ainda editados os álbuns ao vivo "Live in London" e "Concerto em Lisboa".

Apesar de não ter recebido o Grammy, Mariza Mariza já foi distinguida com vários galardões, como, por exemplo, o European Border Breakers Award ou o Prémio Amália Rodrigues.

3 de novembro de 2007

10 músicas de José Afonso para guitarra acústica

"Abril" de Cristina Branco com lançamento em Novembro

Cristina Branco define o seu novo álbum, "Abril", a editar a 05 de Novembro, como "uma perspectiva feminina de José Afonso, que não procura trazer nada de novo e apenas lembrar".

Este álbum, constituído exclusivamente por temas do repertório de José Afonso, surge depois de um ciclo de espectáculos que Cristina Branco realizou este ano no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, em Lisboa.

"Vim para estúdio mais amadurecida e experimentada nos temas que têm arranjos do Ricardo Dias mas em que afinal todos os músicos participaram.

"Canto Zeca Afonso pelo ideal que representa de humanidade, simplicidade e pela qualidade do seu trabalho", disse a cantora à Lusa.

"Qualquer músico tem de, obrigatoriamente, passar por Zeca Afonso e reflectir sobre aquilo que ele nos deixou", acrescentou.

Um trabalho idêntico ao que realizou sobre Amália Rodrigues, com o facto de a música de José Afonso a ter acompanhado desde sempre, disse.

A escolha das músicas "não será a mais óbvia" afirmou a cantora, todavia em "Abril" encontramos temas emblemáticos de Zeca, como "Menino d'Oiro" ou "Venham mais cinco".

No total são 16 canções, abrindo o álbum com "Menino d'Oiro" e encerrando com "Chamaram-me cigano", passando por "Redondo vocábulo" deque Cristina tinha já feito uma recriação num álbum anterior, "A morte saiu à rua" ou "Índios da Meia Praia".

"É curioso que desde o meu primeiro álbum o José Afonso esteve sempre presente, a sua poesia e música foram para mim sempre recorrentes", acrescentou.

Ao lado de Cristina Branco, Prémio Amália Rodrigues Internacional 2006, estão os músicos Ricardo Dias (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo), Alexandre Frazão (bateria) e Mário Delgado (guitarras).

"Uma panóplia de músicos de excepção", disse Cristina Branco, que salientou ainda a participação de João Moreira (trompete) e "a experiência emocionante de cantar" com do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra.

"Este álbum - afirmou - é também uma viagem pelo imaginário contestatário, do gira-discos, do canto amigo".

Por outro, acrescentou a artista, "cantar Zeca Afonso é procurar uma autenticidade, nós não trazemos nada de novo, frise-se, apenas queremos lembrar".

Este novo álbum, com a etiqueta da Universal Music, será ponto de partida para uma ronda de espectáculos pelo país, a partir de 07 de Dezembro, que culminará na sala principal do Teatro S. Luiz, em Lisboa.

Dia 07 de Dezembro Cristina Branco canta José Afonso no Teatro Gil Vicente em Coimbra, dia 13 em Viana do Castelo, no Sá de Miranda, no dia seguinte em Santa Maria da Feira, no Europarque, dia 15 em Braga no Theatro Circo e, finalmente, dia 17 em Lisboa no Teatro S. Luiz, onde tudo começou.

José Afonso, falecido a 23 de Fevereiro de 1987, aos 57 anos, foi, com Adriano Correia de Oliveira, umas das figuras centrais da canção de intervenção em Portugal.

O cantautor destacou-se também como intérprete da balada e do fado de Coimbra. Enquanto compositor procurou inspiração na música popular portuguesa, que usou como "canção de combate" ao regime deposto em 25 de Abril de 1974.

"Galinhas do mato" foi o seu último álbum de originais, publicado em 1985.

Cristina Branco conquistou já vários galardões em Portugal, França e Países Baixos. Até hoje editou já nove álbuns e o DVD "Cristina Branco live - a tribute to Amália Rodrigues".

NL/Lusa

1 de novembro de 2007

DVD "A Voz dum Povo" de Belaurora

Não nos é indiferente a beleza dos Açores. Não pode ser, nunca. A beleza da natureza, das pessoas, da cultura, de tudo. A cada regresso às ilhas do açor, cresce uma vontade em aprofundar o conhecimento sobre aquela forma de ser, aquelas gentes, aquele sentir. Foi assim, mais uma vez, que entre um suculento bife em S. Miguel e o famoso gin tónico do Café Sport, no Faial, se adensou esta vontade em voltar a trazer os Açores para o topo deste espaço. Na bagagem, veio também o recente DVD do grupo Belaurora.

"Oriundo da ilha de São Miguel, o Grupo de Cantares Belaurora, constituído totalmente por amadores, dedica um pouco do seu tempo livre à recolha, pesquisa, estudo, preparação e divulgação da Música Tradicional, propondo, com o seu trabalho, uma pequena viagem pelas nove ilhas dos Açores." (1)

Não é uma pequena viagem...nascido em 1985, Ano Internacional da Juventude, na freguesia de Capelas, Ponta Delgada, S. Miguel, o Grupo de Cantares Belaurora mantém-se ainda hoje, como um dos expoentes máximos da divulgação da arte e cultura açorianas; da sua música.
Neste DVD, o grupo dirigido por Carlos Sousa (direcção musical), percorre com mestria a música das 9 ilhas dos Açores, oferecendo-nos um plano completo de toda a musicalidade - e vida - que irradia deste arquipélago. Depois, e mais do que um mero DVD musical, "A Voz de Um Povo" é um extraordinário cartão de visita das ilhas, na forma como interpõe as actuações do grupo - ao ar livre, sem público e com um fundo natural - com belíssimas imagens da ilha cantada; imagine-se uma banda sonora para a beleza de cada ilha. É esta a voz deste povo.
Porque a tradição existe, está viva e é preciso mantê-la!

"A Voz dum Povo" - Belaurora (Emiliano Toste, Açor, 2006)

Menu:
a. Filme/Capítulos
01 Marciana (S. Maria)
02 Lundum (S. Miguel)
03 Sapateia (Terceira)
04 Rema (Graciosa)
05 Caracol (S. Jorge)
06 Saudade (S. Jorge)
07 Majaricão (Pico)
08 Chamarrita do Caracol (Faial)
09 Rema (Flores)
10 Chamarrita Nova (Corvo)
11 Nova Chamarrita (G. Bernardo)
12 Roda do Leme (José F. Costa/C.Sousa)

Mariza lidera top nacional de vendas de álbuns

A poucos dias do mega-concerto no Pavilhão Atlântico, em Lisboa (8 de Novembro), a fadista Mariza está em grande nas tabelas de vendas. O álbum Concerto em Lisboa ascendeu esta semana à liderança do top de álbuns (estava em 10º na semana passada). Editado em Novembro de 2006, o registo encontra-se há 51 semanas no top e é platina.

Mas além de Concerto em Lisboa , Mariza consegue também a proeza de se manter entre os mais vendidos com o primeiro álbum de originais Fado em Mim (quádrupla platina): o registo de estreia assegura esta semana o 20º posto da tabela. Transparente (terceiro álbum, dupla platina) conquista um respeitável 33º lugar.

Relativamente aos DVDs, a fadista conquista a vice-liderança com Concerto em Lisboa (platina) e sobe até ao 19º lugar com o também platinado Live in London. A estas conquistas não serão alheias as promoções de que os vários registos (áudio e vídeo) têm sido alvo.

31 de outubro de 2007

"Vamos deixar que seja o público a escolher-nos"

Ana Sofia Varela, José Peixoto, Fernando Júdice e Vicky – os músicos que fazem o projecto Sal – estão praticamente na recta final de uma digressão nacional que já os levou, entre outros palcos, ao Teatro Viriato, em Viseu. Depois do concerto desta noite, em Coimbra, a digressão prosseguirá em Sintra, a 2 de Novembro, para encerrar em Lisboa, a 21 de Dezembro, no Centro Cultural de Belém. Em entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS, José Peixoto, um dos mentores do projecto, falou da música que fazem, das suas intenções e das referências (geográficas e culturais) que têm tudo a ver com o percurso da língua portuguesa.

DIÁRIO AS BEIRAS – "Uma nova música vincadamente portuguesa que visita o fado de uma forma inesperada". Esta frase, que tem servido para apresentar o vosso projecto, significa exactamente o quê?
José Peixoto – Quer eu quer o Fernando Júdice, quando idealizámos este grupo, sabíamos apenas que queríamos fazer música original em português, que se sentisse portuguesa (não pela integração de fórmulas do nosso folclore mas pela digestão, mais ou menos estilizada, que dele fazemos), e que de alguma maneira pudesse passar pelo fado. Nenhum de nós, enquanto músicos, teve um passado ligado ao fado. Sabíamos como fazer a música aproximar-se dele mas não queríamos fazer fado enquanto tal. Daí a escolha por uma voz que viesse do fado, o que, só pela presença desse canto original e único, viesse permitir essa tal visita de que falou atrás. Assim procurámos esse ponto de equilíbrio entre a expressão do canto do fado e uma música que, sem o ser, permitisse a evolução dessa expressão. O resultado revelou-se interessante e motivador.

Mas a vossa música vai muito para lá das fronteiras físicas do país, cruzando "a raiz ibérica com a dimensão atlântica do percurso lusófono", como já alguém disse. É assim?
Sim, procuramos a universalidade e esse conjunto (poético) de referências geográficas e culturais que têm a ver com o percurso da língua portuguesa no mundo e onde ela se estabeleceu e vive. Tudo sem nunca perder de vista o nosso ponto de partida ibérico.

Onde encaixa a "mestiçagem" nesta vossa nova proposta musical?
Precisamente no resultado do convívio subjectivo e criativo com essas referências. Encontram-se estilizados (não importados) na música que fazemos elementos alusivos a todos esses lugares.

Como é que aconteceu o encontro dos quatro músicos – Ana Sofia Varela (voz), Fernando Júdice (baixo), José Peixoto (guitarra clássica) e Vicky (Bateria) – num projecto a que chamaram Sal?
O Fernando Júdice e eu já há muito que nos conhecemos e já há muito que trabalhamos juntos. Antes, durante e depois da nossa passagem pelo Madredeus. Fizemos, em duo, no ano de 2002 o cd "Carinhoso" com música do compositor brasileiro Pixinguinha. O nosso convívio musical aí deu muito bons frutos. Desenvolvemos, a partir de uma maneira espontânea de juntar os nossos dois instrumentos, uma expressão original e única. E foi com essa motivação e com a garantia desses resultados que decidimos criar um projecto em que transportássemos essa expressão única para um contexto de música original. Foi esse o começo do Sal. Percebemos que uma percussão daria a cor e o vigor rítmico que queríamos imprimir à música e foi fácil chegar ao Vicky, percussionista com quem já tinha trabalhado no meu disco anterior ("Pele", com Maria João). Foi-lhe pedido que desenvolvesse um instrumento que se situasse entre a bateria e a percussão. O resultado é surpreendente. Por fim a Ana Sofia Varela juntou-se ao grupo, aconselhada pelo letrista que connosco trabalhou, o Tiago Torres da Silva, porque achou que seria a voz certa. A primeira experiência que fizemos em estúdio com ela, confirmou essa opção. A Ana é fadista e cresceu na vila de Serpa onde se abriu ao canto alentejano e também à música vizinha da Andaluzia. Estas três vertentes confluem no seu canto dando um tom de exotismo que redimensionou a música que estávamos a trabalhar.

Sal porquê?
De todas as ideias que surgiram para o "baptismo" do grupo, a que de alguma maneira simbolizava a nossa situação geográfica e cultural, a nossa relação com o oceano e a nossa atitude itinerante, era a que estava associada à palavra Sal. Foneticamente também se apresentava apelativa. Surgiu como uma evidência. Daí a escolha.

Desde a apresentação de "Sal", em Março último, o grupo tem percorrido o país numa digressão que não passa apenas pelos palcos principais. A vossa intenção é chegar a que público? A todo o público?
A nossa intenção é poder partilhar e mostrar a música e o concerto que fazemos ao máximo de público possível e nos locais considerados por nós adequados. Sabemos que não vamos ser nós a escolher o público. Vamos sim deixar que seja o público a escolher-nos.

E como é que tem sido o acolhimento nos concertos em que já se apresentaram?
Depois do efeito surpresa que a originalidade da nossa música provoca (digo isto sem qualquer tipo de presunção. É apenas baseado nos ecos que nos vão chegando...), há uma sintonia e uma compreensão emotiva evidente e o acolhimento surge natural e caloroso.

Alguma expectativa particular para o concerto em Coimbra?
Todos nós já tocámos em Coimbra com projectos e em eventos muito diferentes e ninguém tem más memórias de nenhuma situação. Até podemos afirmar que pela sua cultura, dinamismo e tradição, Coimbra é uma cidade musical. O que por si já deixa adivinhar uma visita estimulante. Queremos oferecer a Coimbra o "desafio" do nosso concerto sabendo de antemão que o público dessa cidade é um público aberto e que nos irá receber bem.

E o mercado além fronteiras, é vossa intenção conquistá-lo?
Naturalmente.

29 de outubro de 2007

Fado em Si Bemol

"Esta é a nossa forma de estar na música". É assim que Pedro Matos classifica este trabalho - o primeiro apresentado por este grupo que, para já, se dedicou a dar uma nova roupagem a temas conhecidos, mas com arranjos e sonoridades que abraçam vários estilos musicais. Vão desde o fado, por exemplo, até ao jazz. Os ritmos são arrepiantes em alguns casos e ficam, sem dúvida, no ouvido.

A produção deste CD, gravado ao vivo no B-Flat Jazz Bar, no Porto, esteve a cargo da empresa Trovas Soltas e, numa primeira audição, já mostrou que vai ser um sucesso. A apresentação deste disco aos jornalistas foi feita, a semana passada, durante um jantar, a bordo de barco rabelo e pelas reacções venceu e convenceu.

Pedro Matos (voz), Miguel Silva (guitarra portuguesa), Paulo Gonçalves (guitarra clássica e guitarra jazz), Pedro Silva (contrabaixo) e Juca (percussão) apresentam-se de forma despretensiosa e tentam interagir com o público. Conseguem-no, sem dúvida. Com 11 faixas, este ‘Fado em Si Bemol’, que dá nome também ao quinteto, inclui "Elegia do Amor", Canção do Mar", "Ó Gente da Minha Terra", "Fado Tropical" e "Ela Tinha uma Amiga", entre outros temas.

Foi há cerca de quatro anos que o grupo começou a "experimentar arranjos". Traçou um caminho que chegou até a este trabalho. E daqui para a frente? Pedro Matos respondeu: "vamos ver. Até agora andámos à procura do nosso som, que não tem uma origem forçada", mas isso é algo que vai ficar mais explícito, quando o grupo começar "a produzir os seus próprios temas".

E porque este trabalho é uma mistura de temas e de ritmos, será que o Fado em Si Bemol representa "uma forma diferente de sentir o fado ou de ouvir o jazz? "Nem uma coisa nem outra", afirmou peremptório Pedro Matos ao mesmo tempo que explicou que este CD "não é fado, nem jazz, nem bossa nova, nem blues. Juntámos tudo num tacho e foi isto que saiu". E a verdade é que saiu bem.

Fonte ~ Márcia Vara/ Póvoa Semanário


Fernando Rolim regressa aos discos e ao fado de Coimbra

O CD que marca o retorno de Fernando Rolim ao mercado discográfico abre com o toque da Cabra e “Meu Nabo, Meu Grelo”, seguindo-se alguns dos temas que o autor cantou enquanto estudante, mas que nunca foram gravados. “Adeus Minho encantado”, “Fado da esperança”, “Adeus a Coimbra” e “Estrelinha do Norte” estão entre eles. O CD, da responsabilidade da editora “Ovação”, inclui também folclore urbano de Coimbra, com destaque para “A Morena”. O Grupo de Guitarras de Coimbra, da Associação Cultural Menina e Moça, com Carlos Jesus e Paulo Largueza, garante os acompanhamentos.

DIÁRIO AS BEIRAS - Lança hoje, em Lisboa, um novo disco. Como surgiu este “Regresso de quem nunca partiu”?
Fernando Rolim - Após várias tentativas, aí está, de facto, finalmente, a obra. Os primeiros ensaios remontam há, pelo menos, uns vinte anos, mas a distância entre Setúbal, onde actualmente vivo e trabalho, e Coimbra dificultou muito esse meu objectivo. Só ultimamente consegui a disponibilidade necessária para vir até cá, de 15 em 15 dias, preparar a gravação.

Este CD tem alguma mensagem especial?
É, essencialmente, um disco dedicado a Coimbra, no seu todo. Ou seja, aos estudantes e aos não estudantes.

Em 1978, esteve presente numa Serenata, na Sé Velha, com muitos outros cultores da Canção de Coimbra, visando a sua reabilitação no pós-25 de Abril. O objectivo foi conseguido?
Sim, foi inteiramente conseguido. Após nove anos de mutismo, a canção de Coimbra voltou a ser interpretada livremente na cidade e fora dela. As serenatas recuperaram o brilho de outrora, a população da cidade voltou a acorrer em massa, como habitualmente, ao Largo da Sé Velha, as janelas das casas circundantes voltaram a ostentar as ténues luzinhas, ornamento singelo, é certo, mas bem característico.

Essa serenata teve alguma preparação prévia?
É verdade. Tudo começou cerca de um ano antes, numa reunião-convívio realizada na cave de um prédio dos Olivais, em Lisboa, habitado então por antigos estudantes de Coimbra. Um deles fez o contacto com os condóminos, eu fiz o contacto com os intervenientes. Em Junho de 1977, todos responderam à chamada. Cantores, guitarristas, violas, poetas, ilusionistas, humoristas, historiadores, enfim, ali estiveram presentes.

Quem foram eles, nomeadamente?
Além, é claro, de mim próprio, compareceram António Portugal, Pinho Brojo, Machado Soares, Luís Góis, António Bernardino, Tossan, Joaquim Teixeira Santos, Júlio Condorcet Pais Mamede, Aurélio Reis e o arquitecto Proença de Carvalho.

E que decidiram?
Exactamente isso - voltar a fazer uma serenata na Sé Velha, Resolvemos, ainda, complementá-la com um seminário sobe a canção de Coimbra e cunhar uma medalha.
Ainda há tempo e modo, nestes anos que correm, para o fado de Coimbra?
Com certeza que sim. O fado de Coimbra é parte integrante da alma da cidade.

Como analisa os seus actuais compositores e intérpretes?
Como pessoas que procuram dar à canção de Coimbra os vários cambiantes da sociedade do seu tempo, sem esquecer os clássicos.

Como antigo estudante da Universidade de Coimbra, que ideia faz da actual vivência académica?
O estudante de Coimbra vive a sua época, de acordo com os ideais da academia do seu tempo. Todas as épocas têm as suas características tipo, que devem ser respeitadas e entendidas como o reflexo de toda uma série de inovações, que se vêm processando na sociedade e, sem se dar por isso, exercem em nós uma grande influência. A rádio, a televisão, as novas tecnologias têm sucessivamente dado um contributo, positivo ou negativo, que, quer queiramos ou não, marcam as manifestações culturais.

Costuma chamar à música uma das suas “amantes”. Porquê?
Porque efectivamente, para além da família, a medicina e a música são tudo aquilo de que mais gosto.

Então, não há outras?
Não tenho realmente outras, para lá das que mencionei.

Donde lhe veio a veia artística?
Geneticamente foi herança dos meus avós maternos e da minha mãe. O meu avô compunha e cantava, a minha avó cantava as canções típicas das romarias e fogueiras e a minha mãe, que tinha uma bonita voz, segui–lhes o rasto.

Ostenta o título de “Cidadão Honorário da Prefeitura Francesa”. O que é isso?
É um título honorífico conferido a quem colaborou em manifestações culturais, musicais ou outras em prol da polícia e das forças militares francesas, em especial dos mutilados em combate, designadamente nas duas guerras mundiais.

Coimbra tem hoje mais ou menos relevância nacional do que no tempo em que cá viveu?
Do ponto de vista académico, houve uma evolução que não me caberá a mim definir, já que habitualmente somos levados a sobrevalorizar o nosso tempo e as nossas vivências, menosprezando, indevidamente, outras vivências mais actuais, que desconhecemos. No que se refere a Coimbra, como parte integrante da nação portuguesa, há que dar relevo à enorme expansão da cidade, às áreas universitárias, às iniciativas culturais que actualmente cá têm lugar, ao desenvolvimento turístico, às infra-estruturas. No entanto, permito-me perguntar até que ponto é que há mais expressividade e qualificações naquilo que tem acontecido comparativamente com o que, por exemplo, há 50 anos, se realizava em Coimbra com certa originalidade e de forma duradoira e irrepetível em relação ao futuro.

Se voltasse a Coimbra, que faria pelo governo da cidade? E pelo governo da universidade?
Faria aquilo que no momento mais se adequasse e fosse conforme com a minha perspectiva.
fonte ~ As Beiras Online