Dinâmica sim, criativa nem por isso. Infelizmente nem tenho escrito.
Por falta de tempo?
Não, por falta de inspiração. Estou a gerir a minha carreira, as minhas músicas, a tentar ser criativo naquilo que fiz e não repetir a forma de expressão que tinha, mas não estou efectivamente a escrever muita coisa. Isso é muito chato para mim, que escrevia uma canção por dia e agora, há dois ou três anos a esta parte não escrevo.
Talvez precise de viajar...
Não, acho que a criatividade é como a 'tesão', quando a perdes não tens tanta (risos).
O que é que está a ser preparado para o Campo Pequeno? Na reunião do Quarteto 1111, está confirmado o Tozé Brito?
Sim, está confirmado. Da última vez, no MusicBox, ele estava nos EUA. Vamos tocar A Lenda de El-Rei D. Sebastião, João Nada, Domingo em Bidonville, No Reino do Blá, Blá, Blá e talvez mais um ou outro. Nós dominamos o nosso pequeno e curto, mas 'grande' repertório.
E outros convidados?
Apesar de me dar com muitos músicos, convidei aqueles com quem falo mais, o André Sardet e o Luís Represas.
Com quem partilha a paixão pelos cavalos...
Pois, faço concursos hípicos com o Luís, dou aulas da bateria ao filho dele, estou a compilar o álbum José Cid e os Poetas, que vai ser entregue à Casa do Gil de Margarida Pinto Correia. É um álbum muito acústico e que vai surpreender porque mostra um lado meu que as pessoas não conhecem tanto, mas que está feito e que está gravado. Por isso estou muito ligado à família Represas. O André Sardet é sobrinho da minha vizinha mais crescida em Coimbra. Houve um tempo em que ele andava 'desanimadote' e fui-lhe encaminhando algum traba-lho que não podia aceitar e dizendo-lhe: «Espera que vais lá.» E depois, de dois anos a esta parte, aconteceu. Vai também tocar comigo, apesar de não estar no cartaz, o Amadeu Magalhães, digno representante da música popular portuguesa (gaita-de-foles e flauta).
Lembra-se da primeira música que escutou?
Foi certamente fado. Toda a minha família era muito musical e muito fadista. No entanto, o meu avô, não Cid, do lado Tavares, era músico, chegando a tocar guitarra com o célebre fadista Hilário de Coimbra. E também tocava piano, foi ele que me ensinou a tocar com a mão esquerda. Foi com ele que percebi que se podia tocar com as duas mãos. A meio dos anos 50 fui vocalista de uma banda jazz e cantava os standards. Por sorte, o fado e o jazz têm muitas coincidências. O fado é mais poético, o jazz é mais musical. Ambos têm muitas formas de expressão. No fado tens de cantar com sentimento, no jazz com feeling. No fado, se souberes cantar, cantas com balanço cujo exemplo maior é a Hermínia Silva, e quase todos os bons intérpretes de jazz têm swing. Podes improvisar, cantar de forma diferente, mas há muitas coincidências.
E se tivesse nascido 20 ou 30 anos mais tarde?
Não seria certamente o mesmo, porque a vida é muito dificultada às novas gerações. Primeiro por que é tudo muito mais competitivo, depois porque já está muita coisa feita. O próprio sistema não os ajuda... Ainda agora me apareceu um rapaz de Salvaterra de Magos a escrever e a tocar lindamente, com um nível que nós não tínhamos na nossa geração, por que eles são mais profissionais. Custa-me que haja novas gerações a caminharem para uma parede que se afasta cada vez mais delas. Por portas fechadas e por dificuldades económicas.
Não é um paradoxo ser monárquico e anarquista?
É um certo paradoxo, porque foram os anarquistas que efectuaram a maior parte dos regicídios. Entretanto, as monarquias evoluíram e são muito mais actuais, culturais e nacionalistas do que as repúblicas. Acho que uma opção monárquica é sempre melhor do que uma opção republicana.
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