25 de outubro de 2010

Womex também em português

É já nesta semana que se realiza mais uma edição da WOMEX, o ponto de encontro anual por excelência da indústria das músicas do mundo.
De 27 a 31 de Outubro, Copenhaga acolhe as mais diversas propostas musicais oriundas dos cinco continentes, sendo de destacar este ano a forte presença portuguesa.
Entre as quatro dezenas de artistas seleccionados para os showcases, conta-se a apresentação em palco do fadista António Zambujo, do quarteto luso-sueco Stockholm Lisboa Project e das concertinas de Danças Ocultas, que para além do convite para encerrar a edição deste ano na prestigiada sala Koncerthuset, também podem ser ouvidos no CD oficial WOMEX 2010, (disponível na íntegra aqui), com o tema "Héptimo", do último disco "Tarab" (Outubro 2009).

showcase trailer

Luísa Rocha lança CD de estreia

O álbum de estreia da fadista Luísa Rocha, ‘Por uma noite de Amor’, será editado na primeira quinzena de Novembro, com a chancela da David Ferreira Investidas Editoriais e conta, a título de participações especiais, com convidados como o guitarrista Ricardo Rocha e os cantores Tó Cruz e Paulo Ramos, entre outros.

No álbum, a fadista - que já tem uma carreira de dez anos e que actualmente canta no Clube do Fado - é acompanhada por José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola) e Daniel Pinto (viola baixo).

O disco é maioritariamente composto por temas inéditos, entre os quais ‘Dou-te um Beijo', de Paulo Carvalho.

24 de outubro de 2010

Reflexo, álbum de estreia de Teresa Lopes

‘Reflexo’, o álbum de estreia de Teresa Lopes Alves, que inclui 12 temas dos quais 6 são inéditos e 6 recriados, pode ser encontrado a partir do dia 25 de Outubro nas lojas de todo o país.

Possuidora de uma voz de amplitude singular, Teresa percorre as suas canções com notável mestria, ora empregando a profundidade própria de um timbre maduro, ora revelando a doçura da sua juventude, numa forma de interpretar refrescante e arrebatadora. Neste seu primeiro trabalho, a diversidade das suas origens musicais confunde-se com a intensidade dos sentimentos revelados em cada tema.

As suas referências musicais vão do fado ao jazz vocal clássico, passando pela música ligeira portuguesa e pela música popular brasileira. ‘Reflexo’ destas influências este primeiro trabalho convida-nos para uma viagem por diferentes estilos musicais, um trajecto com múltiplas sensações e estados de espírito incertos, capturados em composições de incontestável qualidade musical. E com ele surge Teresa Lopes Alves, um sólido e muito promissor talento no panorama musical português que seleccionou para esta obra um repertório rico e cuidado, privilegiando a poesia de autores como: João Monge, Tiago Torres a Silva, Chico Buarque, Amália Rodrigues, Ary dos Santos e Vinícius de Moraes entre outros.

Gravado nos estúdios Pé de Vento e Vale de Lobos, ‘Reflexo’ foi produzido por Ricardo Cruz, que também participa como músico (contrabaixo) e conta com a colaboração de músicos como: Bernardo Coutto (guitarra portuguesa), Ricardo Rocha (guitarra portuguesa), Pedro Santos (acordeão), Luis Cunha (trombone), Pedro Pinhal (guitarra clássica), Miguel Noronha Andrade (guitarra clássica), João Ferreira (percussão), André Fernandes (guitarra eléctrica), Daniel Schvetz (piano), Felipe Melo (piano) e Bruno Pedroso (bateria) para além da participação especial de Rui Veloso no tema ‘Porto Covo’.

Os temas ‘Saudades do Brasil em Portugal’ e ‘A minha vontade’ e ‘Porto Covo’ já tocam na rádio. A apresentação ao público acontece no dia 26 de Outubro, no Teatro Villaret, em Lisboa. O acesso ao concerto será gratuito para todos aqueles que comprarem o CD em pré-venda na FNAC, por 11,99 euros, até ao dia 26 de Outubro.

Mísia: "Não tenho nada a provar a ninguém".

Em Portugal nunca foi reconhecida como no estrangeiro, mas depois de uma temporada por Paris decidiu voltar a Lisboa, onde já tem concerto marcado. Para o ano há novo álbum.

Estou sempre onde não se espera, tenho o meu próprio timing e o meu timing disse-me que esta era a altura de voltar e gravar um disco de fado tradicional". Assim nos revela Mísia, que chegou recentemente a Lisboa, depois de cinco anos a viver em Paris. Já gravou um novo álbum, intitulado Senhora da Noite, a ser editado no próximo ano. Entretanto vai actuar na Discoteca Lux, a 5 de Novembro.

"Durante muitos anos, as pessoas pensavam que eu morava em Paris e eu própria procurei perceber o porquê disso, talvez porque o que eu estava a fazer no fado era tão diferente ou tão prescritivo do que iria acontecer mais tarde que por isso não poderia ser feito aqui", refere quanto à partida para Paris.

No entanto, abandonou o País precisamente numa altura em que o fado começava a ganhar uma maior visibilidade: "Num momento de inflação de novas vozes, com o fado na moda, precisava de alguma distância. Aliás, comecei a gravar discos que não eram só de fado precisamente quando começou a ficar na moda", confessa.

Se fora de Portugal sempre foi bastante aclamada, o mesmo não aconteceu no seu próprio país, onde causou bastante controvérsia enquanto estava a dar os primeiros passos no fado, há 20 anos. E por causa de algumas opções estéticas e artísticas que se distanciavam do que era então a imagem convencional desta música: "A tradição já não é o que era, porque também há photoshop para a tradição. Mas tanto no fado como no tango a tradição sempre foi a mudança, nunca a imobilidade, porque são músicas urbanas, que receberam várias influências", afirma.

Quando partiu para Paris "nem sabia se voltava ou não". "Desins-crevi-me dos jornais online, nem me passava pela cabeça ir comer um caldo-verde a Paris, levei tudo comigo. Mas é curioso que também nunca consegui fazer o corte definitivo, nunca me decidi a vender esta casa (de Lisboa)", conta. A decisão de regressar a Portugal "foi complicada": "Cheguei a um momento em que tinha uma despesa tão alta com as duas casas, com a minha mãe, que entretanto faleceu, que tinha de escolher entre vender esta casa ou voltar", lembrou.

Passados cinco anos, sente que Lisboa se tornou "muito mais cosmopolita": "A cabeça das pessoas mudou muito, dantes havia uma imensa falta de curiosidade pelo outro, era tudo muito paroquial, muito foral".

No entanto, apesar de as feridas com Portugal estarem já saradas, não esquece alguns dissabores por que passou: "Quando vim para cá, em 1990, vinha com uma grande necessidade de pertença, vim para pegarem em mim ao colo e aconteceu precisamente o contrário. Na altura tinha um grande companheiro de viagem, o Paulo Bragança, e nós estávamos entre a Amália Rodrigues e a nova geração, ou seja, em nenhures. Chamaram-nos de tudo, diziam que eu desafinava. Para muitas pessoas éramos para abater."

Apesar das críticas negativas que ouviu, não parou de cantar e de gravar novos discos: "Há algo que explica a minha luta, porque tinha de mandar dinheiro para a minha mãe, alimentar os meus gatos, manter a minha casa, porque eu não tinha um património." Trabalhar intensivamente no estrangeiro não foi uma opção: "Fui sempre para onde me chamavam, não decidi trabalhar muito no estrangeiro", conta.

A própria fadista hoje sabe que houve vários factores que causaram estranheza quando apareceu: "Não tinha um homem ao meu lado, não tinha um guitarrista, era divorciada. Além disso, não tinha o carimbo do Carlos do Carmo ou do João Braga. Não fui pagar portagem a ninguém, e não o fiz por falta de respeito, mas por falta de tempo, porque ter de pagar o aluguer da casa naquele mês era muito mais importante do que ficar à espera que alguém me aprovasse", recorda.

Actualmente já não sente uma necessidade de pertença como quando começou a cantar o fado: "Hoje estou em paz comigo mesma. As pessoas que não gostam, nunca vão gostar, mesmo que eu me matasse toda à frente deles. E se há 10 anos estava muito preocupada com qualquer gesto que fizesse poder provar que não era fadista, hoje não tenho nada a provar a ninguém".

De futuro espera continuar a ser "subversiva" como foi no início da sua carreira. Já a nova geração é para Mísia "muito consensual": "Ainda bem que há novas vozes e que são boas. Mas, como em todos os tipos de arte, não sou muito atraída por pessoas que cantam aquilo que lhes dizem, respeito a essencialidade artística de cada um. Sendo tão novos inspiram mais carinho e simpatia, mas há muito boas vozes", afirma.
fonte ~ dn

18 de outubro de 2010

Grupo Acção Cultural (GAC) - Vozes na Luta : A Cantiga é uma Arma [A Cantiga é uma Arma, 1974]

a cantiga é uma arma
eu não sabia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria

há quem cante por interesse
há quem cante por cantar
há quem faça profissão
de combater a cantar
e há quem cante de pantufas
para não perder o lugar

a cantiga é uma arma
eu não sabia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria

O faduncho choradinho
de tabernas e salões
semeia só desalento
misticismo e ilusões
canto mole em letra dura
nunca fez revoluções

a cantiga é uma arma
(contra quem?)
Contra a burguesia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria

Se tu cantas a reboque
não vale a pena cantar
se vais à frente demais
bem te podes engasgar
a cantiga só é arma
quando a luta acompanhar

a cantiga é uma arma
contra a burguesia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria

Uma arma eficiente
fabricada com cuidado
deve ter um mecanismo
bem perfeito e oleado
e o canto com uma arma
deve ser bem fabricado

a cantiga é uma arma
(Contra quem camaradas?)
Contra a burguesia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria

a cantiga é uma arma
contra a burguesia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
contra a burguesia

A Cantiga é uma Arma

«Pertenço a uma geração anterior ao pós-modernismo, em que nós aprendemos que ligada a qualquer estética há sempre uma ética. Quando me perguntaram, no princípio dos anos 80, 'você é um cantor de intervenção?', eu disse: 'Somos todos cantores de intervenção'. Marco Paulo é um cantor de intervenção. Intervém à sua maneira e eu intervenho à minha. Agora, não me venham dizer que aquilo é neutro. Não há neutralidade possível quando se está a falar para milhares de pessoas. Está ali um tipo a dizer umas palavras, a tomar umas atitudes e, portanto, a transmitir modelos que levam à reprodução do sistema social tal como ele está, ou a colocar em causa esse sistema social e a sugerir pistas, eventualmente erradas. Nunca se vai impunemente para cima de um palco.»

José Mário Branco ao jornal Público
27 de Fevereiro de 2004

Galandum Galundaina : Fraile Cornudo [Senhor Galandum, 2009]

Fraile cornudo
Hecha-te al baile
Que te quiero ber beilar
Saltar i brincar
I andar por l aire

Esta ye la tonadica de l fraile

Busca cumpanha
Que te quiero ber beilar
Saltar i brincar
I andar por l aire

Deixa-la sola
Que la quiero ber beilar
Saltar i brincar
I andar por l Aire

Prémios Megafone distinguem Galandum Galundaina e Tiago Pereira

A banda Galandum Galundaina e o cineasta Tiago Pereira venceram (...) a primeira edição dos prémios Megafone, que distinguem projectos nacionais que estimulem a renovação da música de raiz tradicional.

Os prémios Megafone, criados pela associação cultural Megafone 5 em homenagem ao músico João Aguardela, que morreu em 2009, e que pretendem estimular a renovação da música portuguesa de inspiração tradicional, decorreram no domingo à noite no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Os Galandum Galundaina venceram a categoria Prémio Megafone Música, por criarem música nova tendo como matriz a música popular e tradicional portuguesa, à imagem de João Aguardela, enquanto Tiago Pereira venceu o Prémio Missão, de reconhecimento por um trabalho fora do âmbito musical que contribui para o espírito de renovação da música de inspiração tradicional.
fonte ~ lusa

17 de outubro de 2010

Um Festim na Antena 2

Antena 2 vai transmitir concertos gravados ao vivo no Festim!

Quem se lembra dos magníficos concertos da Serenata Guayanesa ou dos Terem Quartet? Quem ainda guarda na memória os sons da Mahala Raï Banda, Kilema ou Rare Folk? Quem não consegue esquecer a presença de Renato Borghetti ou Minyeshu?

A partir de 19 de Outubro, a Antena 2 transmite os concertos gravados ao vivo na 2ª edição do Festim - festival intermunicipal de músicas do mundo, evento d’Orfeu que percorreu cinco municípios nos passados meses de Junho e Julho, em parceria com as Câmaras Municipais de Águeda, Sever do Vouga, Estarreja, Ovar e Albergaria-a-Velha.

O programa "Raízes" da Antena 2, da autoria de Inês Almeida, fará a mesma viagem que o público, recordando os concertos de Terem Quartet (Rússia), Rare Folk (Espanha), Renato Borghetti (Brasil), Kilema (Madagáscar), Mahala Raï Banda (Roménia), Minyeshu (Etiópia) e Serenata Guayanesa (Venezuela), gravados pela estação pública durante o festival intermunicipal.

A primeira transmissão terá lugar a 19 de Outubro, pelas 0h00 (ou seja, de segunda para terça-feira, à meia-noite), prosseguindo semanalmente sempre no mesmo horário. Além da frequência de rádio, as emissões podem ser ouvidas em directo na internet ou, após a transmissão, no arquivo de programas.

16 de outubro de 2010

Artistas reuniram-se em prol da exportação da música nacional

A SPA e a GDA uniram-se para criar um gabinete de apoio à exportação da música portuguesa. Para que isto aconteça, as entidades anunciaram os seus planos numa apresentação pública no Teatro São Luiz, em Lisboa.

O intuito do projecto «Portugal Music Export» prende-se com a vontade de obter mais benefícios para o nosso país, não só pela sua vertente cultural mas também económica, potenciando a internacionalização das produções musicais portuguesas.

Foi com artistas, editoras e agentes presentes que os responsáveis pelo projecto apelaram à divulgação de todos, nomeadamente aos músicos para que passassem a palavra em entrevistas, concertos e ocasiões mediáticas.

O objectivo é captar a atenção do poder político. Nas palavras de Pedro Osório, maestro e administrador da SPA, o envolvimento do estado é fundamental para que o projecto avançe, pois necessita de verba, tendo assegurado que está tudo «ao alcance de qualquer crise».

De entre os músicos presentes destacaram-se as opiniões de Vitorino, que assinalou a pouca presença dos media, Valdiju que sugeriu uma petição online e uso de redes sociais para espalhar a mensagem e Gomo que lamentou a ausência de inúmeros colegas de profissão.
fonte ~ tvi24


12 de outubro de 2010

Novo álbum de Cristina Nóbrega a partir de 25 de Outubro

O novo álbum de Cristina Nóbrega, "Retratos", surge dois anos depois da sua estreia com o antecessor "Palavras do meu fado".

Cristina Nóbrega é natural de Lisboa. Canta desde sempre, num percurso solitário que passa por vários géneros musicais. Eternamente ligada à música, só no início de 2008 o Fado, descoberta e paixão da juventude, ressurge e faz com que assuma perante si mesma que precisa de cantar. Afinal, é neste género musical que encontra a forma mais profunda de expressão e a magia de cantar em português.

Em menos de um ano grava e apresenta uma maqueta a uma editora que dá origem à edição do seu primeiro trabalho (Set./2008), um álbum 'Amaliano' com os clássicos do fado. Estreia-se em Madrid a 14 de Setembro de 2008 na ‘Noite Branca’, a convite do Círculo de Bellas Artes. Em Maio de 2009, a Fundação Amália Rodrigues atribui-lhe o 'PRÉMIO ARTISTA REVELAÇÃO 2009'. Neste percurso, apresentou a sua voz em vários palcos, em Portugal e no estrangeiro, com assinalável êxito.

Com uma necessidade de cantar temas seus, foi conhecendo ao longo destes dois anos, músicos e poetas que a agraciaram com poemas e composições inéditas e outros que seleccionou, e que fazem parte do seu novo álbum ‘Retratos’, edição Sony Music.

Conheceu o talentoso compositor e produtor Luís Pedro Fonseca que juntou, aos poemas musicados por Fontes Rocha, Carlos Gonçalves, Mário Pacheco e Zé Manuel Martins, temas musicados por si que aguardavam uma voz para lhes dar vida.

Os poetas cantados no álbum ‘Retratos’ são Miguel Torga, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Cabral do Nascimento, Vasco Graça Moura, António Gedeão, António Aleixo, José Fanha, Luis Pedro Fonseca, Augusto Gil, Fernando Viera e Reinaldo Ferreira.

Em estúdio, Cristina Nóbrega teve o privilégio de ser acompanhada por Zé Manuel Neto na Guitarra Portuguesa, na Viola de Fado por Rogério Ferreira e Pedro Festa no Contrabaixo.

10 de outubro de 2010

Aló Irmao : Esta noite

Ouvín dicir que non ías andar máis por aquí
que querías voltar voltar voltar
pois non, meu irmán
foi simplemente un momento de abatemento
pero xa tomei folgos
...teño toda a forza para loitar
teño cada noite para soñar
e cada minuto para lembrar quen eu son
para lembrar de onde eu son
esta noite vou voltar ao lugar
onde sendo crianza eu brinquei
esta noite vou voltar ao lugar
onde sendo un rapaz eu soñei
na braña grande
na praia das gaivotas
no patio da escola
nas vías da estación
á beira dun río
perto da casa
a casa de sempre
co tempo aí en frente
Moma, así foi
a miña infancia...
con aqueles xogos de nenos
camiño da escola
xogar á pelota
saltar á corda
tocar a guitarra...
para matar a saudade
todo son doces lembranzas
da miña infancia en Africa.

"Achava que nunca iria cantar, que não tinha jeito nenhum. Em miúdo era fanhoso"

Foi aconselhado a fazer uma operação ao nariz e lutou contra a dependência de drogas. Hoje, é um dos maiores nomes do fado e tem novo disco: "Do Amor e dos Dias".

Geralmente tímido, Camané - Carlos Manuel Moutinho - não fez juz à fama e falou sobre tudo, enquanto desfazia uma pastilha nos dedos (que mais tarde pediu permissão para comer, Camané é um cavalheiro). A infância, o fado, a droga e os medos que ainda hoje sente. O novo álbum chama-se "Do Amor e dos Dias" e é apresentado ao público dia 7 de Outubro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Disponível nas lojas a partir de segunda-feira, o fadista garante que este é um trabalho diferente de tudo o que já fez. Mas não se assuste: continua a ser fado do bom, com produção e direcção musical de José Mário Branco.

É um dos poucos fadistas homens de sucesso, com álbuns muito aguardados. Qual é o segredo?
Nunca na vida a palavra sucesso me passou pela cabeça. Tenho sempre um bocado de pudor da palavra, em relação ao que faço. Tenho tido alguma sorte, de uma forma contrária ao mercado. Quando se vendiam muitos discos em Portugal eu não vendia nada e agora que se vende menos, o mercado é mais reduzido, eu vendo mais. Tem a ver com o público que fui ganhando. As pessoas foram-me acompanhando e falando às outras. O meu primeiro disco de platina foi o anterior. Desde o primeiro disco já lá vão 16 anos. O segredo: fazer aquilo que acredito e de uma forma verdadeira.

José Mário Branco, enquanto produtor, tem um papel importante nesta matéria. É um homem exigente?
Somos os dois. Sou muito exigente, autocrítico, tenho imensa dificuldade em ouvir-me sem olhar para os defeitos. Só ouço os meus discos quando são feitos, durante bastante tempo, para me familiarizar. O Zé Mário percebeu logo a minha forma de estar no fado e criámos um ambiente musical que é para mim importantíssimo. Para este disco ele compôs um fado tradicional a que chamou fado Pombal, que tem uma terminação mais coimbrã e outra parte mais lisboeta. Ficou Pombal porque está ali a meio caminho. A forma como comunicamos no estúdio é cada vez com menos palavras. Isso para mim é óptimo, é fundamental.

Em digressão, fica com vontade de voltar a estúdio, para esse ambiente?
Quando acaba é um alívio. Este disco foi muito difícil para mim. Porque... sei lá, deixei de fumar, passei momentos extremamente difíceis. Mas consegui surpreender-me mais uma vez. Não me lembro nunca de ter tido um disco fácil. Já o disco anterior tinha sido difícil. Até os espectáculos, porque há momentos de grande aflição, medo e sofrimento. É como a vida. Para mim, cantar, é como a vida. Faz parte e acontece tudo.

Mas é difícil subir a um palco?
Era difícil nas casas de fado e é difícil no palco. Ficava muito nervoso, muito tímido, muito inseguro. Começava a cantar e na minha cabeça começava a pedir a ajuda e a pensar: "Não vou conseguir." A minha vontade era desaparecer. O que é certo é que aos poucos fui conseguindo. Hoje lido melhor com isso. Lembro-me de às vezes entrar no palco e não saber nada, ter uma branca enorme. É a coisa mais assustadora. Agora tenho uma espécie de estante, em palco, onde estão as letras. Acho que em 95% do tempo não olho para ela, mas vou espreitando o alinhamento e tal. É uma defesa.

Este disco é muito diferente dos anteriores.
Completamente diferente de tudo o que já fiz. Tem raiva, ironia, amor, ódio, coisas do dia-a-dia, do quotidiano. É um disco muito mais descritivo e muito menos introspectivo. É como um diálogo. Sempre achei que seria mais fácil para mim cantar fados mais introspectivos, falar de sentimentos. Neste disco tive de falar de ódio, de raiva de uma forma irónica e fui obrigado a sair de mim, a ter graça e uma certa ironia que se calhar há dez anos não tinha.

Até a capa deste álbum é diferente. Teve alguma influência na decisão?
Eu disse que não queria aparecer nesta capa. No disco que saiu há dois anos, que foi muito badalado, estava na capa. Depois pensei: vai sair este disco e quem é que vai ouvir? Tivemos de arranjar uma forma de interessar as pessoas por este. Como é completamente diferente dos outros, é preciso que isso seja sentido a todos os níveis. Isto foi tudo feito num painel grande, tudo posto aos bocados, com papéis rasgados a formar aminha cara. Foi tudo desconstruído e construído. Esta ideia foi uma espécie de consenso entre estar na capa e não estar.

Viveu muito na noite, no início da carreira? E hoje, continua?
Era até tardíssimo. Durante muitos anos vivi a deitar-me às 4h, 5h da manhã. Era uma vida muito boémia. Quando estava nas casas de fado havia noites em que cantava em três, quatro casas na mesma noite, três fados em cada. Era uma loucura. Mas mudei essa vida, completamente. Hoje saio só às vezes com amigos, ou depois dos meus concertos, um bocadinho. Outras vezes vou aos fados, mas raramente. E, durante a semana, fico em casa a ler, ouvir música, a ver filmes. Já não tenho aquela necessidade.

Na altura teve problemas de droga.
Tive. Depois também tive um processo longo de recuperação, que ainda se mantém, não é? Procurei sempre que não afectasse o meu trabalho, quando começou a afectar... acho que o fado me salvou disso. Eu sabia que para fazer uma carreira, para crescer artisticamente e como pessoa, a minha personalidade tinha que acompanhar a minha arte. Foi um processo de escolha. Com a ajuda de muitos amigos e pessoas que tiveram o mesmo problema, consegui ultrapassar.

Durante quanto tempo viveu assim?
Dez anos. Era tudo: álcool, comprimidos, tudo. Tudo o que pudesse alterar. Eu tinha que viver sentindo o menos possível. Era tudo muito difícil. Tinha medo, medo de crescer, de uma série de coisas. Hoje continuo com muitos medos mas aprendi a lidar com isso, a viver com os meus fantasmas. Acho que isso fez de mim uma pessoa melhor. Se tivesse continuado teria sido uma pessoa pior e seria uma pena. Toda a gente devia ter esta oportunidade, ou querer ter. Isto tem a ver com... é que é tão difícil, não é?

Ouve fado desde miúdo?
Sim, o meu bisavô e avô cantavam fado, o meu pai trauteava fados em casa, que era uma coisa que me irritava muito. Depois passei a fazer o mesmo. Aos sete anos fiquei doente em casa, durante um mês, com hepatite. Não conseguia estar quieto e a música acalmava-me. Os meus pais tinham muitos discos, quase todos de fado, menos três: Aznavour, Beatles e Sinatra. Ouvia tudo compulsivamente, incluindo os de fado e assimilei aquilo tudo.

Mas como é que uma criança de sete anos absorve isso tudo?
Naquela altura lembrava-me muito mais daqueles fados tradicionais do que me lembro agora. Os meus pais levavam-me às colectividades aos fins-de-semana, às matinés de fado ao domingo, onde havia poetas populares para eu ouvir. Eram poemas a falar do pai, da mãe, da escola, e eu pegava nisso e construía os meus próprios fados. Já fazia o que todos os fadistas fazem: o revisitar dos fados tradicionais.

Foi aí que começou a cantar?
Depois aquilo ficou tudo na minha memória, porque o fado tem uma certa lógica. Por causa das repetições era fácil decora. Um dia cantei para um amigo do meu pai, o Joaquim Valente, fadista amador, que passou a ser o meu padrinho do fado. Foi ele que me levou à casa de fados Cesária, onde cantei pela primeira vez. Tinha 8 anos e as pessoas adoraram, os meus pais nem estavam à espera que eu cantasse. Mas gostaram imenso. Cantei só dois fados: o fado Isabel, que é tradicional, com música do Fontes Rocha e letra de Jorge Rosa, e o "Puxa Avante" um fado tradicional com letra de um poeta popular a falar da mãe, aquelas coisas um bocado pirosas.

E a partir daí decidiu que era o que iria fazer?
Até aí achava que nunca ia cantar, que não tinha jeito nenhum. Tinha estado no Coro de Santo Amaro de Oeiras e aquilo não funcionava, tinha uma voz estranha... Sempre fui um bocadinho fanhoso, quando era miúdo. Mais tarde lembro-me que num programa de televisão, um senhor ligado às lides da música, disse-me que se quisesse continuar a cantar tinha de fazer uma operação. Um tipo aí... que não vou dizer o nome, ligado a editoras e tal. Mas eu sabia perfeitamente que ia cantar, ele é que tinha um problema nos ouvidos.

Foi nessa altura que concorreu à grande noite do fado? Como foi ?
A primeira vez foi em 1977, tinha 10 anos e fui considerado pela imprensa a grande revelação do ano. Depois voltei aos 12 anos. Aquilo era onde se encontravam todos os cantores, artistas e locutores portugueses. Começava às 22h e acabava às 10h. Era engraçado para mim ver as pessoas todas da televisão a cantar, como a Amália... Vê-los ao vivo, o mais engraçado era isso.

A partir daí foi sempre a cantar?
Em miúdo, gravei quatro singles e um LP. Estudava e cantava aos fins de semana. Depois parei de cantar porque tive a transição de voz, e só recomecei aos 17 anos. Foi aí que fui para as casas de fado. Parei de estudar no final do 9º ano, e pronto. Tudo o que aprendi depois foi para dignificar o meu trabalho. Comecei a ler poesia, a interessar-me por poesia clássica porque achava que podia cantar fados tradicionais, já tinha visto outros fadistas fazê-lo e fui aprendendo ao contrário.

O fado não acabou por desviá-lo de uma infância ou adolescência mais normal? O que é que os seus amigos diziam?
Não dizia aos meus amigos que cantava fado, a maior parte deles não sabia. Uma vez contei a uma professora e ela gozou comigo. Na altura o fado era considerado piroso. Era normal talvez na Mouraria ou Alfama, em Oeiras não. Os meus amigos não ouviam fado, nem nada. Mas acreditei sempre no fado, até porque apesar de ter coisas que não eram muito boas, tinha outras de uma qualidade extrema, como Amália, Carlos do Carmo, Maria Teresa de Noronha, intérpretes incríveis.

Como é que um miúdo de 17 anos, nessa situação, foi sempre acreditando?
Nunca duvidei do que queria. Houve uma altura em que surgiu um convite para gravar fados muito... foleiros, mas que supostamente seriam os que vendiam. Lembro-me que fui à editora, disse que sim a tudo mas depois nunca mais lá pus os pés. Fugi com toda a alma e graças a Deus não gravei aquelas coisas.

Há muita rivalidade no fado?
Há, mas é saudável, depende da forma como lid amos com ela. Eu sempre fiz o meu trabalho sem olhar para o lado e sem competir. Mas também há camaradagem, é engraçado. Se alguém estiver mal toda a gente ajuda. Tenho amigos que trabalham noutras áreas e é a mesma coisa, às vezes pior. A forma como me relaciono com os meus colegas é saudável e acho que não tenho muita rivalidade. Mas têm em relação a mim, e é óptimo sentir que existe essa rivalidade. Gosto tanto quando eles ficam chateados com o meu trabalho!

E com os seus irmãos, que também cantam?
Não! Somos irmãos. Quando era miúdo cantava para eles lá em casa, antes de dormir. Nessa altura eu cantava fados à noite e eles ficavam assim [abre muito os olhos]. O Pedro cantava num coro, depois nos Ministars, era lá dessas coisas e depois começou também a cantar fado. O Hélder começou tarde, também. Começou por ter uma produtora e por ser manager de uma série de fadistas. Mas como tinha trabalhado à noite no Senhor Vinho [restaurante e casa de fados na Lapa, em Lisboa], depois começou a cantar.

E é homem de ir a concertos?
Vou a muitos concertos. Ainda hoje estive a dizer que quero ir ao dos Walkmen. Também quero ver os Vampire Weekend. Fui ver o Prince, sou fã dele, gosto de muita coisa. Sempre que posso vou ver concertos.

Tocou no Sudoeste, com os Humanos. Como foi fazer parte daquele projecto?
Foi um trabalho quase de arqueologia, que aquilo estava gravado em várias cassetes. Foi um trabalho que adorei fazer, adorei a trabalhar com eles todos. Deu-me um prazer enorme cantar aquelas canções inéditas do António Variações. Achei fantástico, cantei para 60 mil pessoas, coisa que nunca tinha acontecido na minha vida. Era o único de fato, o único que não dançava e que cantava fado! Foi muito divertido.
fonte ~ i

Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti assinam disco inédito

Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti juntos num disco inédito de voz e piano. Este é o mote para um álbum que chega ao mercado no mês de Novembro.

Não é um disco de fado. Não é um disco de jazz. É uma fusão entre as personalidades musicais de Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti. Um reportório único traçado entre clássicos da música portuguesa e temas eternos do cancioneiro internacional. A engenharia de som ficou a cargo de Tó Pinheiro da Silva num disco gravado sem “rede”.

A escolha de Carlos do Carmo, debatida com Bernardo Sassetti, fez sentido para ambos. Músicas nunca antes cantadas, tocadas ou gravadas por nenhum dos intervenientes. José Afonso, Sérgio Godinho, Fausto e Rui Veloso foram os compositores nacionais escolhidos. Violeta Parra, Léo Ferré e Jacques Brel surgem revisitados neste encontro inédito. Pelo meio, um original de Bernardo Sassetti com poema original de Mário Cláudio, um tradicional açoreano («Sol») e «Talvez por acaso», fruto de uma parceria de Manuela de Freitas e Carlos Manuel Proença.

Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti já se tinham encontrado em palco em variadíssimas ocasiões, sempre com um grande mútuo prazer, e para este disco só precisaram de meia dúzia de ensaios. Depois foram directos para estúdio (Boom Studios, em Vila Nova de Gaia). A engenharia de som a cargo de Tó Pinheiro da Silva num disco gravado sem “rede”.

As edições disponíveis apresentam ainda documentário realizado por Aurélio Vasques. Este especial apresenta momentos íntimos de estúdio assim como takes de gravações do disco, bem como o making of.

O fado que virou fada

Mafalda Arnauth deixa os originais e vai buscar a alma e a raiz do fado, num novo disco ao qual chamou Fadas. Ao Destak explicou que é uma homenagem às fadistas, ao fado e à sua magia.

Este título é um trocadilho com fados ou remete só para o universo feminino?

Acaba por ser um trocadilho, mas o principal é o realce às almas fadistas e à ideia de magia que imprimem na minha vida, com as histórias e as músicas, que fizeram parte do meu crescimento enquanto pessoa e artista. Tenho vindo a compor discos de originais e finalmente revelo onde me fui inspirar há muitos anos.

É quase uma biografia contada através dos fados?

É revelar a história que há por detrás de cada um. É sempre actual, sabe-me bem e não me leva para um saudosismo excessivo. É um regresso à nossa herança. E tinha saudades de cantar estas coisas.

Foi a Mafalda que os escolheu?

A 1.ª grande selecção foi sugerida por Hélder Moutinho, e pelo próprio Luís Pontes, que faz a maior parte dos arranjos. Mas os temas que gravámos e ficaram acabaram por se impor por si próprios.

Houve temas que escolheu por eles próprios e outros pelas fadistas que os cantavam?

Escolhi uns pelo tema em si e outros pela fadista. Acho que o caso mais declarado que escolhi pela mulher foi o tema da Celeste Rodrigues, Vira da Minha Rua. A Celeste tem uma forma gentil de cantar e de estar. É uma verdadeira fada, pequenina e flutua nas palavras e nos espaços e torna-se muito grande. E alegria daquele tema era absolutamente contagiante.

Quais são as mulheres deste disco que a marcaram mais?

Quando falamos de mulheres trata-se de Amália Rodrigues, Hermínia Silva, Fernanda Baptista, Celeste Rodrigues e Beatriz da Conceição. Agora, quando entramos no universo das almas não posso ignorar os músicos que entraram neste disco, que fizeram um trabalho excepcional, o Tiago Torres da Silva que compôs um dos melhores originais de sempre para mim (E Se Não For Fado) e o Francis Hime que é um privilégio ter como compositor de uma das músicas. Também há duas almas que são Eladia Blásquez e Astor Piazolla, em Invierno Porteño. Parecendo um corpo estranho num disco destes, há qualquer coisa de fado na raíz do tango. Gosto de ir descobrir esses fados escondidos.

fonte ~ destak

8 de outubro de 2010

Escola de Música do GEFAC

Estão abertas as aulas para a escola de música do GEFAC, em Coimbra.
As aulas são dadas durante as tarde dos dias úteis de Outubro a Julho.
Os instrumentos leccionados são: cavaquinho, viola barguesa, concertina, gaita-de-foles, guitarra, bandolim, flauta e percussão. Os mestres da aulas são Alexandre Barros (Quarto Minguante) e Amadeu Magalhães (Realejo), que darão as aulas de forma individual a cada aluno.
Contactar o Gefac através do e-mail: gefac.uc@gmail.com ou coordenador da Escola de Música Dominic Cross tlm 965849714