Comecemos pelo título. «Fado Roubado» implica um assalto mas, neste caso, o crime compensa. E convém lembrar que nem só de fados se faz este encontro entre Paula Oliveira e Bernardo Moreira.
«O título é uma provocação. A explicação da palavra «fado» tem a ver com a inclusão de alguns fados no disco. Para mim, cantar a nossa língua é sinónimo de nostalgia e o fado reflecte esse estado de espírito embora eu não me considere uma fadista. Já o ser «roubado» tem a ver com o quanto eu amo a música dos outros. É um tributo. Tinha que inclui também o José Afonso e o Carlos Paredes. Ambos têm uma história marcante. São homenagens e há também um encontro de gerações.»
Numa época em que a vontade de cantar a música dos outros saltou dos bares para os estúdios, Paula Oliveira e Bernardo Moreira repetem uma ideia já ensaiada há dois anos no primeiro álbum conjunto. Porquê?
«O disco aparece como consequência do outro, que vendeu bastante. As pessoas ficaram com muita vontade de nos ouvir, espero eu. Achei importante dar continuidade ao projecto. Sempre cantei música de outras pessoas e, provavelmente, vai continuar a ser assim. Há tanta coisa que eu gostava de cantar que nem cheguei a colocar a hipótese de criarmos de raiz o álbum. É um prazer incrível mas isto sempre aconteceu. Os fadistas gravam continuadamente o mesmo repertório. Na música clássica, passa-se exactamente o mesmo. Se calhar, está tudo inventado, não sei. Mas eu preciso de referências. Um dia, talvez tenha um disco só com inéditos meus mas, para já, não penso muito nosso.»
Na escolha de canções, ressalta imediatamente uma aposta exclusiva em repertório nacional. Do fado ao jazz, a pop fica de fora, por opção premeditada. A Operação Triunfo também ajudou à escolha final.
«Ouvi centenas de temas, alguns deles na Operação Triunfo. Já conhecia muitos outros também. Fizemos uma pré-selecção de 30 a 50 canções. Depois, fomos descobrindo que algumas nos levavam a melodias, outras a poesias. A pop ficou de fora porque seria necessário simplificar a música e não foi esse o objectivo. Já cantei muita música estrangeira mas é mais difícil. Há um «swingar» muito próprio em português. Quanto a problemas com direitos, só tivemos dificuldades por causa de um poema do Alexandre O`Neill mas falei com a viúva dele que me pediu apenas para lembrar o nome dele sempre que cantasse esse tema.
Ligada há vários anos ao mundo do jazz, Paula Oliveira é alguém com um conhecimento deste mundo, que permite aferir da real vitalidade deste género em Portugal.
«Como cantora, movimento-me num curcuito pouco televisivo. Admito que a Operação Triunfo me dê alguma visibilidade, o que poderá ser capitalizado no «Fado Roubado». Quando aceitei o convite para participar no programa, o disco já estava a ser feito portanto não houve qualquer interferência. Dar o salto depende de muitos factores, principalmente o empenho. Há vários nomes no jazz com muito talento. Joana Machado, Marta Hugon, Joana Rios e a própria Jacinta que foi minha aluna há vários anos…O circuito está a crescer. Há mais festivais, mais apostas, o que aumenta o investimento.»
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