29 de outubro de 2007

Fernando Rolim regressa aos discos e ao fado de Coimbra

O CD que marca o retorno de Fernando Rolim ao mercado discográfico abre com o toque da Cabra e “Meu Nabo, Meu Grelo”, seguindo-se alguns dos temas que o autor cantou enquanto estudante, mas que nunca foram gravados. “Adeus Minho encantado”, “Fado da esperança”, “Adeus a Coimbra” e “Estrelinha do Norte” estão entre eles. O CD, da responsabilidade da editora “Ovação”, inclui também folclore urbano de Coimbra, com destaque para “A Morena”. O Grupo de Guitarras de Coimbra, da Associação Cultural Menina e Moça, com Carlos Jesus e Paulo Largueza, garante os acompanhamentos.

DIÁRIO AS BEIRAS - Lança hoje, em Lisboa, um novo disco. Como surgiu este “Regresso de quem nunca partiu”?
Fernando Rolim - Após várias tentativas, aí está, de facto, finalmente, a obra. Os primeiros ensaios remontam há, pelo menos, uns vinte anos, mas a distância entre Setúbal, onde actualmente vivo e trabalho, e Coimbra dificultou muito esse meu objectivo. Só ultimamente consegui a disponibilidade necessária para vir até cá, de 15 em 15 dias, preparar a gravação.

Este CD tem alguma mensagem especial?
É, essencialmente, um disco dedicado a Coimbra, no seu todo. Ou seja, aos estudantes e aos não estudantes.

Em 1978, esteve presente numa Serenata, na Sé Velha, com muitos outros cultores da Canção de Coimbra, visando a sua reabilitação no pós-25 de Abril. O objectivo foi conseguido?
Sim, foi inteiramente conseguido. Após nove anos de mutismo, a canção de Coimbra voltou a ser interpretada livremente na cidade e fora dela. As serenatas recuperaram o brilho de outrora, a população da cidade voltou a acorrer em massa, como habitualmente, ao Largo da Sé Velha, as janelas das casas circundantes voltaram a ostentar as ténues luzinhas, ornamento singelo, é certo, mas bem característico.

Essa serenata teve alguma preparação prévia?
É verdade. Tudo começou cerca de um ano antes, numa reunião-convívio realizada na cave de um prédio dos Olivais, em Lisboa, habitado então por antigos estudantes de Coimbra. Um deles fez o contacto com os condóminos, eu fiz o contacto com os intervenientes. Em Junho de 1977, todos responderam à chamada. Cantores, guitarristas, violas, poetas, ilusionistas, humoristas, historiadores, enfim, ali estiveram presentes.

Quem foram eles, nomeadamente?
Além, é claro, de mim próprio, compareceram António Portugal, Pinho Brojo, Machado Soares, Luís Góis, António Bernardino, Tossan, Joaquim Teixeira Santos, Júlio Condorcet Pais Mamede, Aurélio Reis e o arquitecto Proença de Carvalho.

E que decidiram?
Exactamente isso - voltar a fazer uma serenata na Sé Velha, Resolvemos, ainda, complementá-la com um seminário sobe a canção de Coimbra e cunhar uma medalha.
Ainda há tempo e modo, nestes anos que correm, para o fado de Coimbra?
Com certeza que sim. O fado de Coimbra é parte integrante da alma da cidade.

Como analisa os seus actuais compositores e intérpretes?
Como pessoas que procuram dar à canção de Coimbra os vários cambiantes da sociedade do seu tempo, sem esquecer os clássicos.

Como antigo estudante da Universidade de Coimbra, que ideia faz da actual vivência académica?
O estudante de Coimbra vive a sua época, de acordo com os ideais da academia do seu tempo. Todas as épocas têm as suas características tipo, que devem ser respeitadas e entendidas como o reflexo de toda uma série de inovações, que se vêm processando na sociedade e, sem se dar por isso, exercem em nós uma grande influência. A rádio, a televisão, as novas tecnologias têm sucessivamente dado um contributo, positivo ou negativo, que, quer queiramos ou não, marcam as manifestações culturais.

Costuma chamar à música uma das suas “amantes”. Porquê?
Porque efectivamente, para além da família, a medicina e a música são tudo aquilo de que mais gosto.

Então, não há outras?
Não tenho realmente outras, para lá das que mencionei.

Donde lhe veio a veia artística?
Geneticamente foi herança dos meus avós maternos e da minha mãe. O meu avô compunha e cantava, a minha avó cantava as canções típicas das romarias e fogueiras e a minha mãe, que tinha uma bonita voz, segui–lhes o rasto.

Ostenta o título de “Cidadão Honorário da Prefeitura Francesa”. O que é isso?
É um título honorífico conferido a quem colaborou em manifestações culturais, musicais ou outras em prol da polícia e das forças militares francesas, em especial dos mutilados em combate, designadamente nas duas guerras mundiais.

Coimbra tem hoje mais ou menos relevância nacional do que no tempo em que cá viveu?
Do ponto de vista académico, houve uma evolução que não me caberá a mim definir, já que habitualmente somos levados a sobrevalorizar o nosso tempo e as nossas vivências, menosprezando, indevidamente, outras vivências mais actuais, que desconhecemos. No que se refere a Coimbra, como parte integrante da nação portuguesa, há que dar relevo à enorme expansão da cidade, às áreas universitárias, às iniciativas culturais que actualmente cá têm lugar, ao desenvolvimento turístico, às infra-estruturas. No entanto, permito-me perguntar até que ponto é que há mais expressividade e qualificações naquilo que tem acontecido comparativamente com o que, por exemplo, há 50 anos, se realizava em Coimbra com certa originalidade e de forma duradoira e irrepetível em relação ao futuro.

Se voltasse a Coimbra, que faria pelo governo da cidade? E pelo governo da universidade?
Faria aquilo que no momento mais se adequasse e fosse conforme com a minha perspectiva.
fonte ~ As Beiras Online


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