Se olharmos para o panorama da música feita por cá, verificamos que muito poucos músicos nascidos (ou a residirem) no nosso país pisaram os vários palcos disponíveis para “show cases”. Mas, aqueles que tiveram o talento de o fazer (e a qualidade necessária para convencer os “sete samurais” a integrar determinada “colheita”), como SARA TAVARES ou MARIZA, não esquecerão tão cedo que a WOMEX serviu de “rastilho” para uma carreira internacional que “explodiu” pouco tempo depois. ANA SOFIA VARELA só não aproveitou o mesmo “embalo” porque teve de interromper a sua carreira musical para cuidar do seu rebento.
O fado é, cada vez, mais uma das mais apetecíveis “iguarias” do, cada vez mais, miscigenado “cocktail” da “world music”. Claro que os MADREDEUS foram uma espécie de Bartolomeu Dias que transformaram o Cabo das Tormentas em Boa Esperança, abrindo o caminho à filiação da canção urbana de Lisboa para os palcos internacionais, mostrando aos programadores de festivais “world” e aos “media” da especialidade que em Portugal faz-se um certo tipo de música que é único, só nosso. É essa autenticidade, esse “blues” urbano da cidade de Lisboa, que cativaram editores holandeses (World Connection) e norte-americanos (Times Square) e programadores de espectáculos da vizinha Espanha como a Syntorama que trabalha, provavelmente, com mais músicos portugueses do que espanhóis.
A miscigenação de Lisboa
Lisboa tem sido também berço de muita da música da África lusófona apreciada, sobretudo, lá fora. Inúmeros são os artistas (BONGA, WALDEMAR BASTOS, LURA, SARA TAVARES, MANECAS COSTA, etc) que usam a grande Lisboa como um local onde se recupera energias antes, durante e depois de intensas digressões. Para além disso, certos grupos mais ligados à “folk”começam também a tocar com regularidade em importantes festivais do género. Veja-se a ascensão internacional dos DAZKARIEH. Coisa impensável há uns anos atrás quando alguma “inteligentsia” questionava como seria possível a uma banda, que não se pautasse pela autenticidade que o fado garante a alguns intérpretes portugueses, competir com músicos britânicos ou nórdicos tecnicamente muito mais dotados. Apesar de nunca terem tido a oportunidade de efectuar um “showcase” na WOMEX, a banda de VASCO RIBEIRO CASAIS tem tido presença assídua nestes últimos quatro anos. Basta olharmos para a agenda de concertos dos dois últimos anos para verificar que o quarteto já começou a colher os frutos do investimento efectuado e nunca prescindirá de regressar a esta feira.
Este ano, os GAITEIROS DE LISBOA asseguraram a única presença portuguesa nos “show cases” da WOMEX e JANITA SALOMÉ foi seleccionado para uma segunda lista de reservas para colmatarem eventuais desistências entre as cerca de quatro dezenas de projectos alinhados. Curiosamente, dois nomes não ligados ao fado entre um dos mais fortes lotes de sempre, com alguns “tubarões” pelo meio, que não precisavam de ir à WOMEX para serem figuras de cartaz nos principais festivais “world”, como são os casos de BAJOFONDO TANGO CLUB, MAYRA ANDRADE ou TOUMAST. Aqui se constata, quer importância cada vez mais determinante na angariação de datas para a “tournée” de uma banda, quer a maior qualidade dos projectos seleccionados pelo júri que parece saber, felizmente, o que é a nata da nata da música tradicional portuguesa além fado.
fonte ~ Luis Rei
Sem comentários:
Enviar um comentário