19 de março de 2009

Pedro Moutinho : Não sabe como voltar [Encontro, 2006]

Onde andará meu amor
Perdido dos meus caminhos
Foi pela rua da dôr
Por entre cardos e espinhos

O meu amor abalou / Em busca d´outro lugar
Ao abalar só me disse / Que tardaria em chegar

Anda com tal azedume / Tão amargo de tragar
Qu enleado no queixume / Não sabe como voltar

O meu amor anda a monte / De olhos postos no chão
Mas basta-lhe erguer a fronte / E encontra o meu coração


Rogério de Oliveira/ Fontes Rocha

Novo CD de fadista Pedro Moutinho, "Um copo de sol", é editado em Abril

O álbum de Pedro Moutinho "Um copo de sol" será o primeiro a sair para o mercado pela Iplay, depois desta editora ter sido comprada pela Fantasy Day/Lemon à SIC.

O álbum é constituído por 12 temas, na sua maioria inéditos, alguns cantados em melodias tradicionais como o Fado Seixal ou o Fado Oliveira, constituindo a única excepção "Toma lá colchetes d`oiro" (Henrique Rego/fado Corrido), uma criação de Alfredo Marceneiro.
"É um fado que canto desde os meus 12 anos, quase que faz parte de mim", justificou Pedro Moutinho.
Em declarações à Lusa, o fadista afirmou: "este é um álbum que reflecte a minha verdade, muitas das histórias que canto vivi-as".
O fadista canta pela primeira vez poetas como Manuela de Freitas, "Sem sentido" na melodia do fado Rosita de Joaquim Campos, e "Quando Lisboa partir" no fado Carlos da Maia de Quadras, ou Jorge Rosa, "Mais um dia", para o qual escolheu o fado Meia-noite de Filipe Pinto.
"Um Copo de sol" marca a estreia nas lides fadistas do músico Rodrigo Leão, que compôs "Passo lento" com poema da portuguesa Ana Carolina, sua parceira já habitual.
O tema que dá o título ao disco, "Copo de sol", é de autoria, música e letra, de Amélia Muge, autora que compôs já para, entre outros fadistas, Camané e Ana Moura.
"A Amélia escreveu-o propositadamente para mim, é um pouco o que sou, a vida que faço, entre Lisboa onde canto habitualmente, e a linha de Cascais onde vivo", disse o fadista.
"Por outro lado, pelo facto de não beber álcool", acrescentou entre risos o fadista.
Outros autores contemporâneos cantados por Pedro Moutinho são Tiago Bettencourt, "Vou-te levando em segredo", ou Pedro Campos, "Lisboa tu és assim", autor que escreveu "Montras" para o álbum "Transparente" de Mariza.
Aldina Duarte e Rogério Oliveira são dois autores reincidentes. Aldina assina "Primeira dança", que Pedro Moutinho interpreta na melodia do fado Seixal de José Duarte, e Rogério Oliveira, que escreveu"Paradoxos do amor", cantado no fado Oliveira do violista Miguel Ramos.
Outro poeta contemporâneo escolhido foi Pedro Tamen, autor de "Palavras minhas", para o qual Carlos Manuel Proença compôs o fado Sereno.
Carlos Proença, distinguido o ano passado com o Prémio Amália para Melhor Instrumentista, assina a produção deste álbum, tal como acontecera no anterior, "Encontro", que foi distinguido com o Prémio Amália para o Melhor Álbum.
Além de Proença na viola de fado, Pedro Moutinho é acompanhado por José Manuel Neto (guitarra portuguesa) e Daniel Pinto (viola-baixo).
Pedro Moutinho tem já agendados dois espectáculos de apresentação deste álbum, para dia 04 de Abril no Centro Cultural de Vale Flor, em Guimarães, e dia 08 no Cinema S. Jorge, Lisboa.

fonte ~ rtp

14 de março de 2009

Dazkarieh : Caminhos Turvos [Hemisférios, 2009]

Caminhando vi luz que embala
Sentir que escapa ao olhar

Forte percorri nova estrada
em trilhos por semear

Querer dominar destino oculto
Momento por decifrar
Vida que adormece, em longo luto
Quimeras por alcançar

Querer agarrar ondas de loucura
Num momento sem pensar
Ilusão de mais de longe perdura
Mão que urge curar

Voz que entoa paz profunda
Clama em se descobrir
Grita pra revelar segredos a perseguir

Teias que tecem tons escuros
Para me aprisionar
Grito pra libertar demónios
Livre pensar

Despertando um sol que emane
Luz no meu jardim
Sentinela nua e crua
Chama por mim

Libertando amarra turva
De um silêncio tal
Emergir pra sempre duma sombra infernal

Vir de um sono profundo
O mundo agarrar
Querer desvendar futuro
Duvidar

Caminhando vi luz que embala
Sentir que escapa ao olhar
Forte percorri mar que leva a trilhos por semear

Caminhando vi luz que embala
Sentir que escapa ao olhar
Mapa onde encontrei cor divina
De prantos a sussurrar.


Dazkarieh - Caminhos Turvos from Dazkarieh on Vimeo

10 de março de 2009

"De sol a sul": os trilhos da música portuguesa

''De Sol a Sul" é o novo álbum de Francisco Naia, um cantor alentejano que gravou o seu primeiro disco em 1968.
Os temas que compõem este disco são construídos por instrumentos acústicos - percussões portuguesas e árabes, viola campaniça, cavaquinho, bandolim, contrabaixo, flauta e o saxofone - que acompanham a potente voz tenor de Francisco Naia, um dos nomes ligados à Música Popular Portuguesa.
Neste disco, Naia prossegue o culto da poesia cantando a juventude, o amor e os sonhos que subsistem em cada um de nós. São histórias de grandes momentos vividos e sentidos por este cantor e autor.''
Francisco Naia (voz) será acompanhado por Ricardo Fonseca (guitarra acústica, viola campaniça, bandolim e cavaquinho brasileiro), José Carita (guitarra acústica, bandolim e cavaquinho), Gil Pereira (contrabaixo), Jorge Costa (saxofone e flauta) e Nuno Faria (percussões).

Concerto de apresentação
13 Março 2009 | Fonoteca Municipal de Lisboa | 18h30 | Entrada livre.

FONOTECA MUNICIPAL DE LISBOA
Praça Duque de Saldanha
Dolce Vita Monumental, Lj. 17
1050-094 Lisboa
Tel.: (+351) 21 3536231/2
E-mail: fonoteca@cm-lisboa.pt

3 de março de 2009

Rodrigo Leão : Voltar [O Mundo, 2006]

Manhã Cinzenta
Faz-me chorar
A chuva lembra
O teu olhar
As folhas mortas
Caem no chão
A dor aperta
O coração
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta para o meu peito
Daqui não saias mais

Perdi-me AMOR
Para te encontrar
Na solidão
Do teu olhar
No teu olhar
Se perde o meu
Também o mar
Se perde no céu
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta para o meu peito
Daqui não saias mais

Novos assobios na música portuguesa

ASSOBIO é sopro; um sopro musical. E sopro é vida; a vida que passa pela cultura popular e pela sua transmissão constantemente renovada. ASSOBIO é o nome do novo projecto musical de César Prata. Após o fim de Chuchurumel, o seu anterior grupo, ASSOBIO marca a continuidade do seu trabalho com a tradição musical portuguesa, ou seja, o cruzamento da tradição com linguagens musicais dos nossos tempos. ASSOBIO é um desafio, uma constante procura de sonoridades, um caminho para a música portuguesa. ASSOBIO faz-se também com a voz carismática de Vanda Rodrigues, uma cantora surpreendentemente singular, uma voz para a música portuguesa. ASSOBIO é nome de disco e de espectáculo. ASSOBIO é uma co-produção do Teatro Municipal da Guarda e de César Prata e estreará no próximo dia 15 de Maio, no Teatro Municipal da Guarda. O espectáculo de estreia assinalará também a apresentação do CD ASSOBIO, uma edição do Teatro Municipal da Guarda. Depois... Depois vamos andar a assobiar... Por aí!

Quem assobia:
César Prata: laptop, guitarra sintetizada, ewi, guitalele, viola braguesa, ocarina, flautas, ponteira, percussões
Vanda Rodrigues: voz e percussões

18 de fevereiro de 2009

Uxu Kalhus : Erva Cidreira [Revolta dos Badalos, 2006]

ó erva cidreira
estás no telhado
quanto mais te rego
mais pendes p'ró lado
mais pendes p'ró lado
mais a rosa cheira
estás no telhado
ó erva cidreira

refrão:
toda a moça que é bonita
na maior força de amar
jura amor que eu também juro
não me andes a falsear
não me andes a falsear
meu amor agora agora
dois passos para diante
meia volta e vai-te embora

ó erva cidreira
estás na varanda
quanto mais te rego
mais pendes p'rá banda
mais pendes p'rá banda
mais a rosa cheira
estás na varanda
ó erva cidreira

(refrão)

ó erva cidreira
estás no alpendre
quanto mais te rego
mais pendes p'rá frente
mais pendes p'rá frente
mais a rosa cheira
estás no alpendre
ó erva cidreira

popular / uxu kalhus

Transumâncias Groove já à venda



17 de fevereiro de 2009

Mafalda Arnauth : O mar fala de ti [Flor de Fado, 2008]

Eu nasci nalgum lugar
Donde se avista o mar
Tecendo o horizonte
E ouvindo o mar gemer
Nasci como a água a correr
Da fonte

E eu vivi noutro lugar
Onde se escuta o mar
Batendo contra o cais
Mas vivi, não sei porquê
Como um barco à mercê
Dos temporais.

Eu sei que o mar não me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Que te levei ao mar quando te vi
Eu sei que o mar não me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Quem dele se perdeu
Assim que te perdi.

Vou morrer nalgum lugar
De onde possa avistar
A onda que me tente
A morrer livre e sem pressa
Como um rio que regressa
À nascente.

Talvez ali seja o lugar
Onde eu possa afirmar
Que me fiz mais humano
Quando, por perder o pé,
Senti que a alma é
Um oceano.

Tiago Torres da Silva/ Ernesto Leite

Entrevista Mafalda Arnauth [Flor de Fado, 2008]

Sendo este o seu quinto trabalho, podemos considerá-lo como o despontar para um “novo fado” mais pessoal e intimista?

De alguma forma, tenho procurado sempre transmitir algo extremamente pessoal, íntimo, transparente que decorre do facto de cantar muitos temas da minha autoria e que não são mais do que reflexo da minha forma de estar na vida. Este talvez seja o album onde a sonoridade e a musicalidade estãp mais de acordo com esse Universo ainda mais profundo da nossa intimidade, pelo som mais quente, mais depurado, que sinto até, como mais amadurecido.


É o disco da consolidação ou da renovação?

Será sempre o consolidar de um momento cheio de detalhes e vivências que ficarão para sempre associados a este disco, na minha memória. Quanto à apreciação que as pessoas dele fazem parece-me que o sentimento mais comum é de sentirem algo de muito verdadeiro que de alguma forma é coerente com tudo o que tenho feito. Reafirma-se a minha vontade de cantar a vida, as emoções e de o fazer enquanto fadista que tem um horizonte muito próprio de sonoridades, que tendo o fado por raíz, gosta de “conversar” com outros géneros e de realçar os sentimentos de uma forma musicalmente pouco comum no fado.

Como é que entende o binómio tradição/inovação no mundo do Fado?

Sinto sempre que maior do que a tradição é a herança que realmente fica, que as gerações escolhem recordar porque em qualquer momento é a sua própria identidade que descobrem nessa riqueza, muita dela tradicional, muito já inovadora para a altura em que surgia e que será essa mesma memória e a vontade de manter algo vivo porque é incontornável na vida de cada um, que ditará o futura da inovação que hoje se faz.


Porquê “Flor de Fado” e porquê falar sobre o Amor?

“Flor de Fado” claramente porque são sentimentos que floriram, depois de algum crescimento, de raizes que se descobrem profundas e dão origem a flores muito particulares. Também como forma de simbolizar cada pessoa, cada ser, que ocupa um lugar especial neste disco, no concerto, na medida em que eu sinto que represento cada pessoa ao cantar, nas alegrias, nas tristezas, nas vitórias, naquilo que torna cada um de nós Unico. Ainda como uma alusão à “flor de sal”, como algo num estado mais puro, mais rico e talvez ainda com mais sabor...
O Amor surge neste disco, porque nada me parece mais crucial, mais urgente e mais relevante para a Humanidade e para todo este sentido que descubro em “Flor de Fado” e em cada um de nós. Surgiu como um desafio no poema de Eugénio de Andrade, que descobri, “Urgentemente”, e impôs-se como algo que tinha de transmitir e quem sabe convidar a descobrir em cada um de nós.

Recentemente colaborou no último disco do grupo galego “Milladoiro”. De que forma se produziu essa aproximação?

Através de um convite do próprio grupo, para grande satisfação minha, uma vez que tenho particular gosto nesta colaborações, principalmente quando além da possibilidade de participar no disco, ocorre ainda a possibilidade de estar em palco, onde, para mim, verdadeiramente tudo acontece. Milladoiro é um grupo de grande carisma e ter oportunidade de desfrutar do seu publico, onde transpira fidelidade, carinho e anos de admiração e lealdade é realmente um privilégio.

Desde a música de intervenção, particularmente com o Zeca Afonso, que se constata uma crescente colaboração entre músicos galegos e portugueses. No seu caso, já conhecia alguma coisa sobre a música galega, ou foi o primeiro contacto?

Tenho especial admiração pela Uxía, que conheci recentemente e que é um exemplo admirável de outra artista muito querida das Galiza, com um repertório de imensa sensibilidade e riqueza e com a força própria dos grandes artistas. Muitas coisas nos aproximam, Portugal e Galiza e em certos momentos cantar em Galego é para mim um reconhecimento de algo que me é extremamente familiar e por isso muito cativante.

Se por um lado assistimos à falta de apoio político, tanto de Portugal, como do Estado Espanhol, à candidatura do património imaterial galaico-português a Património da Humanidade, por outro, o disco “Quinta das Lágrimas” foi considerado como a “banda sonora” da euro-região Norte de Portugal/ Galiza. Esta aproximação institucional, é somente algo pontual ou pode contribuir a uma maior consciência em Portugal de que partilhamos unha cultura comum?

Quando me encontro em palco, por exemplo, com Milladoiro, a sensação que me percorre é imensamente Grande, como se naquele momento algo de muito especial estivesse a acontecer. Apercebo-me que o encontro, a partilha e a troca de conhecimento já são uma realidade e que de vários momentos pontuais tem surgido um caminho. Acredito nele e acredito claramente que muito podemos ainda fazer e do que tenho assistido, o publico também acredita, gosta e quer mais!

Entrevista publicada no jornal La Voz de Galicia (Galiza), no dia 14 de Fevereiro de 2009.