"Vamos conhecer uma Amália jovem, com uma voz mais fresca e com um toque menos sofisticado, mais intuitiva que completa muito bem a imagem mais presente que temos, da Amália madura que é a das décadas de 1960 e 1970", disse à Lusa o musicólogo Rui Vieira Nery.
Nery salientou: "Esta é uma discografia absolutamente fundamental para a história do fado, que precede o seu encontro com o compositor Alain Oulman".
"Vamos ter uma visão mais completa porque estamos tão próximos da Amália da maturidade do período clássico com Oulman, daqueles grandes fados como 'Gaivota' ou 'Maria Lisboa', e aqui vamos descobrir uma grande fadista que quando tem esse encontro conta 41 anos e tem atrás de si 15 anos de gravações".
Cada CD é acompanhado por dois textos de Rui Vieira Nery e uma análise poética de Vasco Graça Moura, sendo ilustrados por jovens artistas plásticos.
"Faço um guia de audição faixa a faixa, em que comento aquela peça em particular, os compositores, a maneira dela cantar, e como os guitarristas interpretam, a que se junta um texto do Vasco [Graça Moura] sobre a poesia daquele disco".
Num outro texto, também de Vieira Nery, "discute-se determinado aspecto do repertório, designadamente o que são fados estróficos e fados-canção e os compositores que escreveram para ela".
"Irei referi-me a Armandinho, [Alfredo] Marceneiro, Jaime Santos, Britinho [Frederico de Brito], Joaquim Campos, Frederico Valério, Fernando Carvalho, Raul Portela ou Frederico de Freitas".
Os 12 CD/Livros correspondem a outros tantos temas, entre eles, "Paixão", "Ciúme", "Abandono", "Sina", "Ao vivo", "Salero", "Mundo" e "Lisboa".
O musicólogo fez questão de salientar que "ao refresco dos ilustradores" corresponde "um olhar diferente da ladainha ritual: ‘que bem cantava a Amália’, ‘ai que génio’, ‘a alma do povo português’", tanto mais que "nos textos é relacionada com os grandes fadistas do seu tempo".
Um destaque que Nery dá nos seus textos é aos guitarristas que a acompanharam, e nesta primeira fase, à excepção do episódico Fernando Freitas (1945), Amália foi acompanhada primeiro por Jaime Santos, a que se segue Raul Nery e depois por Domingos Camarinha, com quem foi a primeira vez ao Olympia, em Paris.
Conhecedor da carreira da fadista com quem conviveu, Rui Vieira Nery afirmou ao voltar a escutar todos os temas não deixou de se surpreender "com a Amália castiça a cantar o fado Mouraria, o Menor, a marcha do Marceneiro ou fado Tango com uma garra juvenil, mas ao mesmo tempo com uma noção da tradição".
Por outro lado, realça ainda "a forma como se integrava nas tradições musicais de outros países, da copla espanhola, ou da ranchera mexicana, a ponto de ser considerada por eles, entre os melhores".
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