Rão Kyao, músico, lança segunda-feira um novo disco, ‘Em Cantado’, um trabalho em formato de duplo CD que faz o retrato da sua vida enquanto compositor.
Correio da Manhã – Oito anos depois volta a pegar no fado. Tinha saudades?
Rão Kyao – Sim... mas nunca me tinha cruzado com ele desta maneira. Eu nunca perco o fado de vista, mas aqui surjo como compositor de fados que são apresentados em cantado por vários fadistas. Tentei arranjar uma série de fatos e de estilos que servissem aos intérpretes e acho que ficaram bem à emoção de cada um. Parecem feitos por medida. E é a primeira vez em que a flauta aparece a servir os fadistas, como mais uma voz, e não como solista.
– Foi esse o desafio para o disco?
– Sim. Este é o meu quarto disco objectivamente ligado ao fado, depois do ‘Fado Bailado’, (1983) ‘Viva o Fado (1996) e ‘Fado Virado a Nascente’ (2001), e desta vez tive de imaginar como é que flauta poderia desafiar o fadista, que está a cantar uma letra que tem de ser respeitada.
– ‘Em Cantado’ tem um segundo disco, um ‘Lado B’ que não é fado...
– São temas também ‘Em Cantado’ mas em que a flauta surge a solo, são temas cantados pela flauta.
– Mas esse poderia ser um disco autónomo. Porque os juntou?
– Podia sim, mas há um tipo de cantar que passa pelo fado e não só. Tem a ver comigo. É aquilo que sou como músico. É verdade que tenho uma ligação ao fado, mas também tenho uma outra vivência como músico. Se fizesse só um disco iria ficar com a sensação de incompleto. E o Lado B também tem um carácter intimista.
– É então uma espécie de retrato de Rão Kyao...
– Exactamente, é um retrato deste momento da minha vida. Muitas vezes sou chamado a fazer coisas para fado, faz parte da minha realidade, mas, por outro lado, também tenho o meu grupo. É um álbum de um compositor que põe o seu canto ao serviço de cantores e ao serviço da flauta também.
– No Lado A há uma série de gente nova do fado, a Carminho, a Tânia Oleiro, o Ricardo Ribeiro...
– Foi a voz deles que me cativou. São do melhor que há, todos eles enraizados na tradição fadista. Mas ao mesmo tempo todos querem somar algo ao legado fadista e isso seduz-me. Dou muito valor a isso.
27 de setembro de 2009
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