A guitarra portuguesa não tem ainda um Museu, um espaço que lhe seja inteira e exclusivamente consagrado, "omissão" que aos olhos de muitos é inexplicável, quase um delito de lesa-cultura.
Razão ou razões para que o espaço esteja ainda por criar alguma(s) haverá. Para o músico e estudioso da guitarra portuguesa Caldeira Cabral, é tudo "muito simples".
"Fizeram uma grande confusão" - disse à agência Lusa. "Fez-se a Casa do fado e da guitarra portuguesa em Alfama. A museologia tradicional é uma museologia objectual e o fado não tem outra expressão objectual que não seja a da guitarra e pouco mais - fotografias, discos. Portanto, houve necessidade de pegar na guitarra como símbolo do fado".
Evoca, a este propósito, a figura de Carmo Dias, "um grande concertista de guitarra" que, em 1923, numa entrevista ao "Guitarra de Portugal", um jornal da época, disse:"Os estúpidos pensam que a guitarra nasceu para o fado e foi o contrário que aconteceu, o fado é que nasceu da guitarra".
Perdeu-se deste modo, em seu entender, "a oportunidade de se fazer um grande museu da guitarra portuguesa"
"Aliás - pondera - , aquilo está ligado a uma estratégia ligada a uma fase da indústria discográfica, de promoção do fado por um certo tipo de indústria discográfica que representa de uma certa maneira um retorno a uma certa ideia de identidade, de identidade lisboeta, etc., que passa pela revalorização do fado, do fado, evidentemente, através das vedetas, dos intérpretes do fado, não de uma certa construção e não de uma outra ideia que a mim me parece muito mais justa: fazer a musealização da própria zona das casas de fado que existem".
Dá um exemplo, A Parreirinha, fundada nos anos 50 e na qual vê "um museu vivo" que "daria certamente material para inúmeros trabalhos de investigação, de como aquilo se construiu, evoluiu, etc.".
Mas, mais do que A Parreirinha, insiste, "a própria Alfama. Isso é que deveria ser um Museu do Fado".
17 de setembro de 2009
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