31 de dezembro de 2009
Dulce Pontes : Júlia Galdéria [Momentos, 2009]
Viveu na miséria
Foi ela a culpada,
Marido não tinha
Vivia sozinha
Ali na lançada.
Vivia contente
Olhava para a gente
Com ar de chalaça,
E tudo o que tinha
Uma garrafinha
Da velha cachaça!
A Júlia Galdéria,
Um dia morreu,
Foi a Taberna do Cinco
A que mais sofreu...
Oh Júlia Galderia,
Tua triste história!
Mas eu não estou esquecido
E tenho bebido
Em tua memoria!
Caías aqui
Caías ali
E punhas-te em pé,
Pelo S. Martinho
Bebias bom vinho
E bom agua pé!
Júlia malcriada,
Estás alcoolizada,
É esse o mistério!
Vazaste o baril,
Esticaste o pernil,
Foste parar ao cemitério...
Carlos Pontes / Joaquim Tavares
27 de dezembro de 2009
[Partituras] Venham ver o Deus Menino
no seu bercinho de luz.
É tão lindo pequenino,
santa paz nos traz Jesus. (refrão)
De Belém a Jerusalém
há uma cabana escura,
onde nasceu o Menino
entre o boi e mula.
O boi, como era bento,
comia e bafejava:
A mula, maliciosa,
comia e resmungava.
-Maldição te ponho, mula,
que não tenhas cria alguma.
Se alguma cria tiveres,
dela não terás ventura.
- Deus te abençoe, ó boi,
Deus te dê a sua bênção.
As terras que tu lavrares
todas elas dêem pão.
Sejam altas, sejam baixas,
Sejam terras de ração,
Cada bago dê um moio,
cada moio dê um milhão.
- Ó meu Menino Jesus,
minha boquinha de riso,
Dai-me um pouquinho de luz,
que é disso que eu preciso.
- Ó meu Menino Jesus,
boquinha de marmelada,
dai-me alguma coisinha,
que a minha mãe não tem nada.
Recolha: J. Ruivinho Brazão
Informantes: Almerinda Coelho e Feliciana Coelho
Transcrição: Nelson Conceição
BRAZÃO, José Ruivinho; CONCEIÇÃO, Nelson; Cancioneiro Tradicional Português: Recolha de Cantigas e Romances; Casa das Letras; Fevereiro de 2008
26 de dezembro de 2009
25 de dezembro de 2009
Guitolão: uma ideia de Carlos Paredes
O Guitolão começou por ser, um som ou talvez um timbre no consciente irrequieto do mestre Carlos Paredes. Quem conviveu de perto, com Carlos Paredes, teve o privilégio de conhecer o seu lado misterioso com tudo o que é transcendente na vida. No entanto no final de uma actuação, as palmas do público não lhe davam a tranquilidade do dever cumprido. Era preciso treinar mais, porque determinada nota, não tinha sido bem dada, o cavalete não estava bem posicionado, as cordas não estavam a soar como ele gostava, enfim... o som e a actuação perfeitos.
Se a Guitarra de Coimbra, já resultou da procura de uma nova sonoridade para a Guitarra de Lisboa, que é estudada entre seu pai, Artur Paredes e a Família Grácio, guitarreiros de fama reconhecida, Carlos Paredes quis dar continuidade a esta mutação, de parceria com Gilberto Grácio, que representa a terceira geração de guitarreiros da respectiva família.
Carlos Paredes em 1970, numa conversa tida com Gilberto Grácio, mostrou-lhe o desejo de ter uma Guitarra Barítono, com um corpo de certo modo idêntico ao da Guitarra de Coimbra, mas com uma escala maior, que lhe iria permitir procurar outras sonoridades e inclusive outras afinações. Gilberto Grácio, dá corpo à imaginação de Carlos Paredes, fazendo uma Guitarra Barítono, que o guitarrista experimentou, mas continuou a tocar na sua guitarra, abandonando o projecto talvez porque não fosse esse o timbre que pretendia.
Mas Gilberto Grácio, não desiste da ideia e apesar de Carlos Paredes ter ficado doente e acamado durante vários anos, o construtor Grácio completa a ideia de Paredes e inventa um novo instrumento ao qual lhe dá o nome de Guitolão. Este novo instrumento, foi apresentado, pela primeira vez ao público, num concerto nas ruínas da cidade romana da Ammaia, em Marvão, incluído no festival de música desta vila. Foi o compositor e instrumentista de Portalegre, António Eustáquio que o estreou, num concerto que contou com a presença do Quarteto Ibero-Americano, demonstrando que o seu timbre, se integra muito bem em quartetos de cordas.
Na opinião de António Eustáquio, o Guitolão, não é um instrumento construído para o acompanhamento do fado. Apresenta como principal característica o facto de ter uma grande extensão tímbrica, no qual se podem obter notas muito graves mas também agudas dando-lhe possibilidade para o surgimento de um repertório novo e porque não um repertório clássico, com transcrições de música erudita.
Esta nova característica, deve-se ao facto de Gilberto Grácio lhe ter aumenttado a escala tradicional da Guitarra de Coimbra em mais de 6 polegadas ( 15,24 cm) e encordou o instrumento com calibres de maior espessura, respeitando a afinação da guitarra Portuguesa, para utilizar o sistema de transposição para notas mais graves, como é lógico com calibres de cordas também mais espessas. Mas os construtores não gostam de revelar todos os seus truques de construção. Um instrumento musical não é só aquilo que se vê. O seu interior e as medidas utilizadas não foram reveladas.
24 de dezembro de 2009
[1 em 2] Ó meu Menino Jesus
Ó meu menino tão belo,
Onde foste a nascer
Ó rigor do caramelo.
Ó meu meu Menino Jesus,
Não queiras menino ser,
No rigor do caramelo
A neve te faz gemer.
O menino da Senhora
Chama pai a S. José,
Que lhe trouxe uns sapatinhos
Da feira de s. André.
O menino chora, chora,
Chora pelos sapatinhos;
Haja quem lhe dê as solas
Que eu lhe darei os saltinhos.
Dá-me o Deus menino,
Não dou, não dou, não dou
Dá-me o Deus menino,
Vai à missa que eu já vou.
Tradicional de Campo Maior (Alentejo), recolhido por Michel Giacometti.
Povo que canta - Michel Giacometti
Brigada Victor Jara [Quem sai aos seus, 1981]
Roda Pé [Escarpados caminhos, 2004]
Navegante [Cantigas tradicionais portuguesas de Natal e Janeiras, 2009]
Centenas de Roncas são feitas para serem tocadas na noite de Natal | Elvas
Centenas de Roncas são feitas e vendidas, nesta época natalícia, pelo ceramista elvense Luís Pedras.
Trata-se de um instrumento musical ancestral com origem em África e que foi introduzido nas zonas raianas da Península Ibérica no século XVI.
“Em África, o instrumento estava associado a rituais tribais de iniciação sexual, enquanto que em Elvas está associado à quadra natalícia, à fertilidade e ao nascimento”, explicou Luís Pedras à agência Lusa.
Na noite de Natal, naquela zona raiana do Alentejo, grupos de homens percorrem as ruas da cidade, cantando em altas vozes, em coro, trovas ao Menino Jesus, acompanhadas pelo som áspero da Ronca. Somente pelo Natal é que este instrumento é ouvido.
Luís Pedras há 14 anos que desenvolveu o projecto “Fénix – O renascer da Ronca”, que consiste em “reavivar a tradição da presença do som da Ronca nas noites de Natal”.
Desde então, o ceramista estima já ter feito na sua olaria mais de 10 mil Roncas. “Estão espalhadas um pouco por todo o mundo”, diz, com orgulho.
Luís Pedras reconhece que o instrumento provoca “estranheza” nas pessoas que o desconhecem, mas admite “que é fácil aprender a tocá-lo”.
A Ronca é feita com barro em cujo bocal se adapta uma membrana atravessada por uma cana. Para tocar a Ronca basta ter a cana encerada (com água) através da qual se corre a mão com força para produzir um som rouco.
Fernando Sequeira, natural de Elvas, comprou várias Roncas na olaria de Luís Pedras para oferecer neste Natal, considerando que é “um presente personalizado e é um objecto de artesanato que é importante reavivar”.
“Lá em casa, na noite de Natal, toca-se a Ronca e cumpre-se a tradição. Os meus filhos já sabem tocar”, diz.
Na vizinha cidade espanhola de Badajoz, o mesmo instrumento é designado por Zabomba, mas não há fabricantes espanhóis. Luís Pedras é o único artesão nesta zona raiana.
Marilón, de Badajoz, descobriu a olaria elvense “por casualidade”, mas considera importante transmitir a tradição “às crianças”.
Luís Pedras defende que a Ronca devia ser um produto de artesanato “certificado”, porque “permitiria preservar a nossa cultura e identidade”.
fonte ~ portal alentejano
23 de dezembro de 2009
Leva-me ao disco de Platina
Recorde-se que "Leva-me aos Fados" conta com uma lista de participações de luxo de onde se destacam José Mário Branco, Gaiteiros de Lisboa, Manuela de Freitas, Amélia Muge e Tózé Brito. Tal como os anteriores, tem a produção de Jorge Fernando, e editado em Outubro deste ano, segue assim as pisadas do seu antecessor, o multi-galardoado ‘Para Além da Saudade’ (2007).
Ana Moura está, nesta altura, em digressão, com concertos em Portugal e na Europa.
fonte ~ portal do fado
21 de dezembro de 2009
[1 em 2] Oh Bento Airoso
Navegante [Cantigas tradicionais portuguesas de Natal e Janeiras, 2009]
[Partituras] Oh Bento Airoso
Oh Bento airoso
Mistério Divino
Encontrei a Maria
À beira do rio
e lavando os cueiros
do bendito filho
Oh Bento airoso
Mistério Divino
Maria lavava
S. José estendia
e o Menino chorava
com o frio que fazia
Oh Bento airoso
Mistério Divino
Calai meu Menino
calai meu amor
É que as vossas verdades
me matam com dor
1960
Recolha: Michel Giacometti
Transcrição: F. Lopes-Graça
http://www.scribd.com/doc/15500064/Michel-Giacometti1981-Cancioneiro-Popular-Portugues
18 de dezembro de 2009
Amélia Muge: uma autora, 202 canções
Canções escritas por Amélia Muge para uma série de cantores - entre eles Ana Moura, Camané, Pedro Moutinho, Mísia, Mafalda Arnauth - interpretadas, desta vez, pela própria autora.
Esta é uma edição da Carácter que representa, entre outras marcas, a editora Taschen em Portugal.
16 de dezembro de 2009
15 de dezembro de 2009
[Partituras] Natal de Elvas
Eu hei-de m'ir ao presépio
a assentar-me num banquinho
a ver como o Deus menino
nasceu lá tão pobrezinho
Ó meu Menino Jesus
que tendes, porque chorais
Deu-me minha mãe um beijo
choro porque me dês mais
O Menino chora, chora
chora com muita razão
fizeram-lhe a cama curta
tem os pezinhos no chão
Recolha: J.M. David; Domingos Morais
Dezembro 2001
http://www.scribd.com/doc/23953403/Natal-de-Elvas
Filipa Pais : À porta do mundo [À porta do mundo, 2003]
P'ra de dia desmanchar
Guarda-me a última dança
Quando o fio se acabar
Gosto de ver o teu rosto
Que a mil caminhos se presta
Para uma noite desgosto
Por uma noite de festa
Voltaria à tua terra
Por um mergulho de mar
Entre a cidade e a serra
Fica algures o meu lugar
Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida
Por trás de tudo o que importa
Vem um sentido p'rá vida
Se te fizeres ao caminho
Em horas de arrebol
P'ra fermentar o meu vinho
Traz-me um pedaço de sol
Vamos escrever uma história
Rever um filme a passar
Logo virá à memória
O que eu te queria dar
Será verdade ou mentira
Como um segredo roubado
Sou como a lua que gira
Hei-de dançar ao teu lado
Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida
Por trás de tudo o que importa
Vem um sentido p'rá vida
14 de dezembro de 2009
Casa da Música webtv
O site disponibiliza ainda o acesso a outros conteúdos em arquivo relacionados com a actividade da Casa da Música, em registo vídeo, áudio, fotográfico e literário.
11 de dezembro de 2009
Canções Portuguesas de Natal
10 de dezembro de 2009
Maria da Fé : Divino Fado
Da força que a água tem
Sou do mistério do vento
Que não sabe donde vem.
Esta voz que canta em mim
Não a canta mais ninguém
Sou do Mistério do Fado
Que não sabe donde vem.
Minha mãe, dai-me o Talento
Que só o Poeta tem
Eu sou como o próprio vento
Que não sabe donde vem.
Minha mãe, o vosso amor
Pouco ou nada quase tem
Sou como a própria flor
Que não sabe donde vem.
Minha mãe, eu sou do tempo
Da força que o Fado tem
Sou do Mistério do Fado
Que não sabe donde vem
Maria da Fé em DVD
O DVD regista o espectáculo comemorativo realizado a 25 de Junho no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e que contou com a participação, entre outros, de Ada de Castro, Aldina Duarte, António Zambujo e Duarte. Maria da Fé interpretou alguns dos êxitos da sua carreira como Cantarei até que a voz me doa e Fado errado, acompanhada à guitarra portuguesa por José Manuel Neto e Paulo Parreira, à viola por Carlos Manuel Proença e à viola-baixo por Daniel Pinto. Maria da Fé encerrou o espectáculo com a interpretação, pela primeira vez, de Povo que lavas no rio, numa homenagem a Amália Rodrigues
Durante o espectáculo, em cena, a fadista nascida no Porto recebeu a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e a Placa de Prata da Sociedade Portuguesa de Autores.
"Honras maiores", como disse na altura, em que se afirmou "emocionada". A fadista afirmou à agência Lusa guardar "gratas recordações" de uma carreira que começou no Porto e que a levou a pisar "os mais importantes palcos do mundo".
"Canção ao lado" dos Deolinda no top do Sunday Times
No Verão passado, o mesmo jornal tinha-se referido ao álbum dos portugueses como "absolutamente encantador e delicioso".
"Ana Bacalhau e a sua jovem banda combinam sonoridades de fado com a sensibilidade pop e um piscar de olho ao coração dos portugueses. A melodia é fabulosa", escreve o jornal.
À frente dos portugueses ficaram os Mulatu Astatke & the Heliocentrics, com o álbum "Inspiration/Information", e o Kronos Quartet, com o álbum "Floodplain".
Entre os dez primeiros estão ainda os álbuns "Vagarosa" da brasileira CéU (4.º), a cabo-verdiana Lura (7.º), com "Eclipse", e o angolano Bonga (10.º) com "Bairro".
No lote dos dez primeiros está também a cantora isrealita Yasmin Levy, com o álbum "Sentir" (9.º).
Os Deolinda, que lançaram o disco de estreia em 2009 - já duplo platina (50 mil exemplares)-, são constituídos por Ana Bacalhau (ex-Lupanar), voz, Pedro Martins e o irmão Luís Martins nas guitarras clássicas e José Pedro Leitão (também ex-Lupanar) no contrabaixo.
O grupo surgiu há cerca de três anos em Lisboa, quando Pedro Martins mostrou a Ana Bacalhau três músicas que tinha composto: "Não sei falar de amor", "Fado não é mau" e "Ai rapaz".
"Ouviu as músicas que fiz, cantou-as e ficaram logo tão bem na voz dela que nasceram ali os Deolinda", disse à Lusa o músico, guitarrista e autor de todas as músicas desta formação.
A música dos Deolinda soa a fado, mas não o é, no quarteto não há guitarra portuguesa, a estrutura das músicas não obedece aos padrões melódicos do fado, nem tão pouco as letras, embora o universo seja de amores marialvas e às vezes até "de faca e alguidar", embora num tom divertido.
A banda está a trabalhar num novo álbum que deve sair no próximo ano.
9 de dezembro de 2009
Carminho : A Bia da Mouraria [Fado, 2009]
É vendedor como ela ali para o Bem Formoso
São dois amores, duas vidas tão singelas
Enquanto ela vende flores, o Chico vende cautelas
Na Mouraria só falam do namorico
A Bia namora o Chico e as conversas são iguais
Ai qualquer dia, Deus queira que isto não mude
A Senhora da Saúde vai ser pequena demais
O casamento já tem a data marcada
Embora qualquer dos noivos tenha pouco mais que nada
Vai ter a Bia, a festa que ela deseja
Irá toda a Mouraria ver o casório na igreja
António José / Nóbrega e Sousa
Carminho: "Sou do meu tempo, levo para o fado a minha vida"
Desse dia, lembra-se sobretudo de uma luz intensa a bater-lhe nos olhos e de uns sapatos apertados que lhe magoavam os pés. A verdade é que, desde então, nunca mais deixou de sentir o à-vontade para desafiar o público com a sua voz. No dia combinado, apareceu à hora certa num restaurante à beira-rio, em Lisboa, com o seu ar de menina bem-comportada e uma expressão ligeiramente amuada para disfarçar a timidez, que logo se desmancha numa gargalhada rouca e sonora. Trauteia o tempo inteiro. Se for apanhada distraída é, seguramente, porque está a cantar.
Uma actuação numa casa de fados não é igual a um concerto ou um espectáculo. Como classifica o que ali acontece? É um momento. Uma pausa no jantar. Ou melhor: uma pausa no jantar para sentir. Por vezes, conseguimos fazer com que as pessoas sintam coisas fortes. Podem ficar enregeladas, arrepiadas e até assustadas, mas depois as luzes acendem-se e o jantar continua. Mas também podemos considerar o que acontece numa casa de fados como uma jam session, no sentido em que não fazemos ensaios. Há noites em que canto na Mesa de Frades e não conheço nem o guitarrista, nem o baixista, nem o viola. Ninguém se conhece e cada um dá o máximo de si.
As pessoas podem ficar 'assustadas' ao ouvi-la cantar? Podem quando não estão dispostas a sentir. O fado é um momento de verdade, toca emoções muito fortes.Isso são os clichés sobre o fado... Não, não são. Percebo que diga isso, porque todos os fadistas afirmam que o fado é um momento mágico, que pode ou não acontecer. Mas as letras são de facto fortes. Falam de vida e de sentimentos que nos tocam no mais íntimo. Muitas vezes dizem-me: "Foste intrusiva. Não gostei." Há noites em que as pessoas só querem sair para beber um copo e ouvir uns fados e depois são confrontadas com aquela intensidade, e não é fácil...Só canta o que sente? Sim. Mas claro que existe sempre uma representação dos sentimentos. Se na realidade sentisse uma grande comoção, como em alguns dias pareço sentir, a voz ficava embargada e adeus. Fisicamente, tornar-se-ia impossível cantar.
Está habituada à dimensão da casa de fados, mas hoje fará o seu primeiro espectáculo no CCB. Não tem medo dessa mudança de escala? O CCB impõe respeito. Num palco tudo é programado, no chão há marcações... Mas não tenho medo. Estou em pulgas! E não é a primeira vez que canto numa sala de espectáculos. São experiências tão diferentes que não sei qual prefiro. No palco estou mais sozinha, e às vezes é melhor. Quando consigo abstrair-me das pessoas que estão do outro lado, é uma experiência que ultrapassa a da casa de fados.
A Mesa de Frades transformou-se num fenómeno de moda. Uma espécie de lugar de culto na noite de Lisboa onde se vai ouvir a Carminho cantar, goste-se ou não de fado. Tornou o fado num momento cool? Acho graça a esse comentário. O meu reportório e a forma como canto é totalmente tradicional. Acontece que, apesar de ter crescido numa casa de fados, o meu meio nunca foi só esse. Sou do meu tempo e levo para o fado a minha vida: as viagens que fiz, os Bairros Altos por onde andei, os amigos que tenho... uns do fado, outros de outras músicas e outros ainda que não têm nada a ver com isto. Mas é verdade que a Mesa de Frades se tornou num fenómeno de moda e por acaso até perdeu metade da graça.
Tem orgulho em ser fadista? Continua a ser uma escolha rara na sua geração... Tenho orgulho em ser fadista, mas não gosto particularmente de me sentir mais especial do que os outros. Não gosto e não sou. Irrita-me profundamente essa coisa... "Sou tão especial! Um dia vais perceber." As pessoas que se sentam num canto do café com a sua Moleskine, o lápis velho e um ar de que são particulares... não suporto.
Referiu que escolheu o caminho mais tradicional do fado, mas a sua imagem, pelo contrário, é contemporânea. A capa do seu disco poderia ser a de uma pop star. Bem! Obrigada! Saio daqui maravilhada!... Mas, sim, fiz questão de produzir uma imagem que tem a ver com aquilo que dizíamos há pouco sobre ser diferente e parecer cool. Quis desconstruir a imagem da fadista tradicional, mais pesada, mais misteriosa... As pessoas vêm ter comigo e dizem: "Antes de te ouvir, não gostava de fado. Agora gosto porque tu realmente és diferente." Agradeço, mas penso: "Estás enganado. Não há aqui nada de diferente. Canto o fado tradicional e da forma mais tradicional de todas. Só que uso uma franja e uma roupa que tu também usarias."Se tivesse optado pela pose da fadista tradicional, venderia menos? Não sei se venderia menos ou mais. Sei que, por ter uma imagem mais acessível, estou a ter tudo o que me está a acontecer. Tenho consciência de que o facto de não ter abdicado do meu gosto e da minha actualidade é importante. Há muitos fadistas da minha idade que ficam fechados nas colectividades, dificilmente chegam à ribalta e dificilmente vendem.
Porque optou por usar Carminho como nome artístico? Reparei que se refere a si como Carmo. Porque gosto. É próximo das pessoas. Quando escolhi ser a Carminho no fado não me quis prender a nada. Mas sei onde quer chegar. A verdade é que tanto existe no meio urbano como é usado carinhosamente no meio rural. É como a Glorinha da terra, a menina que foi ali criada. Eu sou do campo. Cresci no campo. Camané, por exemplo, hoje é nome artístico, mas quando apareceu também fazia muita confusão. Era nome de puto de bairro. Também lhe perguntavam: "Camané? Mas que nome é esse?"Mas a verdade é que Carminho é um nome que revela a tradição nos fados de um certo meio social. Ao princípio, eu era a tia dos fados, a beta. Hoje já sou só a Carminho. Conquistei esse lugar... Tudo isto é ridículo! Só em Portugal é que se faz essa distinção pela maneira como as pessoas se apresentam e se cumprimentam. Somos duros a classificar o lugar dos outros. Eu não sou da família nem do bairro. Estou a lutar para encarar a vida e os outros pelo que são, sem pensar de onde vêm. Não sou elitista e não gosto nada de ser prejudicada por algo que é exterior a mim e que não controlo.
Nunca pensou cantar outras coisas? Ainda não me apeteceu. Não estive no fado o tempo suficiente.
Seria capaz de experimentar o canto lírico? Tem corpo vocal para isso. Não. Precisamente, o meu medo do canto lírico é a voz. O lírico consegue tudo. Não tenho essa colocação, e os meus músculos não estão treinados para cantar esse registo. É uma coisa muito técnica. Se fizer uma colocação lírica não me soa bem.
Existe uma voz específica para fado? Nem toda a gente consegue? Acho que sim, que consegue. Mas tem de haver talento. Primeiro é preciso ser cantora e depois estar disposta para o fado. Existe uma linguagem própria. As palavras têm de ser ditas como são faladas e temos de saber usar os trejeitos, os rodriguinhos, como chamam àquela toada própria do fado (coloca a voz, faz a entoação e canta). Isto só se consegue quando o ouvido está educado. É difícil cantar assim para quem não foi habituado a ouvir desde pequeno. A mim, sempre me saiu naturalmente.
Tem a ver com a cultura que recebeu por a sua mãe ser fadista? Também. É um conjunto específico de várias coisas. Não posso dizer que a voz para o fado é uma voz de bagaço, porque vai dizer-me que é mais um cliché (risos). Mas posso afirmar que é uma voz sem artifícios.
Qual é o poder que sente por cantar assim? É um desgaste enorme. Liberta-se imensa adrenalina. Cantar é corpo. É preciso puxar pelos abdominais. Quando tenho de cantar uma nota muito alta, tenho de apertar o rabo para conseguir lá chegar. É mesmo gana! Mas quanto mais puxo por ela mais garra e vontade me dá. O fado é bastante físico. Há noites em que acabo de cantar e estou fora de mim. Perdi a noção, viajei. E, quando volto, preciso de uns minutos para me recuperar. Dou por mim virada de costas para o público. Nessas alturas, voltar às pessoas é difícil.
Nunca sentiu vergonha de se expor? Sim. Quando era mais nova, por volta dos 14 anos, tinha vergonha de cantar em frente aos amigos. Eles achavam que era coisa de velhos. Não estou a referir-me a essa vergonha, mas ao pudor de mostrar o que sente e quem é quando canta. No outro dia, alguém me perguntava se não tinha vergonha de cantar à frente dos meus pais. Só quando me fizeram essa pergunta é que percebi que sim. Que, afinal, às vezes tinha vergonha de cantar.
Ainda mora em casa dos seus pais? Moro.
Só sai de lá quando casar? Não. Casar ou viver juntos é a mesma coisa. Primeiro gostava de ter uma casa para mim. Gosto do namoro, de escolher um vestido e sair para o encontro. Estes encantos perdem a magia quando se vive com outra pessoa todos os dias. Dizia há pouco que gosta da intensidade do fado e de praticar um trabalho cuja matéria é sentir. Foi uma aprendizagem que veio com a experiência da casa de fados? É transversal em mim. Terá a ver com a minha forma de ser. Sou de extremos. Tanto vivo a alegria de uma maneira intensa como a tristeza de uma forma profundamente dorida. Às vezes, sou mesmo exagerada.Mas também parece ser bem-comportada... E sou. Tenho respeito por certos limites. Quando alguma coisa me pode tirar de mim, não vou. Tenho medo de drogas e desse tipo de coisas. Não arrisco quando não sei se me vou conseguir controlar. Talvez por isso seja bem-comportada. No sentido em que dentro de mim comporto um determinado número de coisas até onde posso ir. Mas é largo! Também não sou nenhuma totó.
O que é que a sossega? Nada. E não há nesta afirmação nada de dramático. Talvez me sossegue sentir-me integrada. Sinto isso quando consigo estar em paz com o que há de bom e de mau. Quando reconheço o bom e estou em paz com o que há de mau esqueço-me de mim e consigo dar aos outros.
Porquê essa consciência tão clara de um lado bom e de um lado mau? Reconheço que tenho características boas. Sou extrovertida, chego-me ao pé dos outros. Não sou egoísta, gosto de partilhar e de aprender. Mas também sou extremista, quando alguma coisa me corre mal entro rapidamente em nervosismo. Posso ser desagradável. Sou bastante impulsiva. Mesmo agora... Estou aqui a falar destas coisas e de repente penso: "Devia estar mais reservada..." Porque o pudor é uma coisa importante. Nem todos compreendem exactamente quem somos.
Qual foi a crítica mais dura que ouviu? (Pausa) Tantas! A que ouço mais constantemente é dizerem-me que sou muito bruta. E sou. Não gosto disso em mim. Não gosto dessa agressividade.
Disse numa entrevista que antes de editar o seu primeiro disco, apesar das oportunidades que teve para gravar, precisou de viajar para conhecer bem o produto que ia vender... Não me vejo só como um produto, mas também me vejo como um produto. O que quis dizer quando expliquei que queria conhecer-me antes de me lançar a sério no fado, e para isso precisava de ir viajar, foi por ter a noção de que realmente não conhecia nada de mim. Estou a falar em conhecer-me em situações extremas. E queria experimentar-me. Só sabendo quem sou é que deixo de sentir insegurança. E só perdendo a insegurança é que posso olhar para a frente.
Que situações extremas? Nasci num meio privilegiado, nunca me faltou nada. Tive oportunidade de estudar, de ter educação e amigos. Nunca precisei de ser mãe de ninguém antes do tempo nem de trabalhar para me sustentar. Dei-me ao luxo de não gravar quando me propuseram, porque tinha um suporte familiar que me permitia gravar só quando eu quisesse. Senti uma grande necessidade de estar ao pé das pessoas que viviam com essas necessidades. Sabia que viver apenas da maneira como vivia era injusto. Não sei explicar isto melhor.
Mas nunca o fez. E durante um ano consegui estar próxima daquilo que precisava. Cheguei a viver um mês inteiro com pessoas que estavam a morrer e já não precisavam de quase nada. A minha única função era dar-lhes um bocadinho de dignidade. Tive de encontrar no meu lado mais humano aquilo que lhes poderia dar naquele momento. E são apenas pequenas coisas: massajá-las com óleo, cantar-lhes ou trocar-lhes as fraldas de uma forma cuidada e respeitadora.
Custou-lhe fazê-lo? Custa. Tem de ser feito com verdade.
Fez esse voluntariado na Índia. Quando saiu de Lisboa já tinha o destino marcado? Só o voo: Calcutá. Quando saí do avião não sabia para onde ia dormir. Esperei que amanhecesse, para não ir no breu, apanhei um táxi e disse ao taxista: "Quero ir para a Congregação de Madre Teresa de Calcutá. Sabe onde fica?" Ele riu-se e levou-me directamente. Toda a gente sabe onde é. Quando bati à porta, cheia de cuidados, apareceu uma freira, pegou-me na mochila: "Descalça os sapatos e vai para ali..." Tinham o sistema completamente montado.
Porque escolheu ficar junto das irmãs de Madre Teresa? Tive sempre uma grande ligação a Madre Teresa e ao exemplo dela. Tomava conta dos mais pobres entre os pobres, e era aí que eu queria estar. Lá está a minha maneira de ser de extremos. Eu tenho muito fé. Quando estive em Calcutá, estive muito em oração. Cheguei ao ponto de me forçar a trabalhar com crianças, porque não gosto particularmente, mas achava que para dar tudo é preciso sofrer. Depois descobri que não é assim. Pode-se dar sem sofrimento. Voluntariado não significa masoquismo nem automutilação. Basta descobrir os skils e ir a fundo. Quando percebi isto, baixei as armas e fui tratar dos velhotes, que são as pessoas com quem realmente gosto de estar.
Por onde andou? Depois fui para a China, Vietname, Laos, Camboja, Timor, Austrália, Nova Zelândia, Estive na ilha de Páscoa, em Macau... (Pausa) Espectáculo! Só de pensar que fiz isto fico espantada! Não é incrível?
Quando regressou, voltou para casa dos seus pais? Voltei.
Foi difícil? Não. Sempre me deram espaço. Também senti que a viagem é um estado ilusório. Já sabia que, quando regressasse, voltava à minha vida anterior. Não iria viver no mesmo formato em que vivi enquanto andei a viajar.
No regresso nada muda? Muda muita coisa. Mas também não precisava de ter a mesma liberdade que tinha quando andava a viajar. Eu sabia que aquele espaço de tempo da viagem iria ter um princípio e um fim e que durante esse tempo poderia até inventar uma identidade. Mas que quando voltasse saberiam sempre quem eu era. A liberdade que se sente também tem a ver com isso.
O reconhecimento é bom? É.
Quer ser uma estrela? Uma estrela? Hum... Não quero ser reconhecida na rua, mas claro que sonho com o palco. Com plateias cheias e grandes ovações. Essa ideia dá-me energia. Não posso mentir.
E como vai encher o palco? Se Deus quiser, e se tiver talento para isso, vou encher com o meu gosto e a minha sensibilidade. Vou cantar sem estar preocupada com o resto.
Ouvi alguém dizer que a imagem do disco que lançou não corresponde à sua atitude no fado. Que a Carminho é bem mais punk do que parece. O que diz? Também acho. Gosto dessa proximidade rock, punk, e até gosto de chocar. Mas ainda estou a crescer. Não me encontrei na imagem certa de mim própria. Este primeiro disco reflecte o que sou neste momento, mas não reflecte o que quero ser. Quero ser muito mais.
Para ir mais longe, o que tem de largar? Alguns medos. E de ver mais mundo. Não quero ser diferente à força. Tem de ser vivido. Não posso pôr uma peruca na cabeça e aí vai disto. Mas acredito que me vou camalear para outras coisas.
Tem medo deste caminho que escolheu e que para ser mais tem de dar passos cada vez maiores? Não. Mas também digo que nunca dei um passo fora de pé. Só vou direita quando sei que vou cair em terra firme. Não arrisco para um vazio quando não sei se vou saber controlar. Se calhar, é isto mesmo. É esse o medo que vou ter de largar.Com 25 anos e tão grandes responsabilidades... É verdade. Mas a minha a avó está-me sempre a dizer que aos 18 anos já tinha dois filhos. Isso relativiza-me as coisas. É bom fazer um encontro entre estas duas realidades. Porque somos bebés cada vez até mais tarde. Não sei se somos 'nós' os portugueses ou 'nós' os meus amigos. Mas é verdade que tenho uma grande responsabilidade. Mas também tenho muita gente à minha volta e não dispenso esse apoio. Sou imensamente privilegiada. Tudo me tem sido ajudado. Tudo menos a voz.
Entrevista publicada na Revista Única, edição 5 Dezembro 2009
Katia Guerreiro lança novo CD e prepara comemorações da década
"Nas minhas andanças fui instintivamente escolhendo este e aquele tema e quando dei por mim tinha um álbum de fados que gosto de cantar, entre eles o primeiro que cantei, ainda nos Açores, 'Amar'", disse a fadista à Lusa.
Este tema de Florbela Espanca, criado por Teresa Silva Carvalho, foi o primeiro fado que Katia Gerreiro cantou quando integrava um grupo folclórico nos Açores.
"Há temas que se tornam referenciais, e constituem etapas pelas quais todos acabamos por passar, como são os temas que escolhi", referiu.
Além de "Amar", o novo CD, editado um ano após a saída do álbum de originais "Fado", inclui "Rosinha dos limões", "Gaivota", "Fado da sina", "Procuro e não te encontro", "O namorico da Rita" ou "Arraial".
Temas dos repertórios de Amália Rodrigues, Tony de Matos, Max, Tristão da Silva, Hermínia da Silva, João Ferreira Rosa, são outros incluídos no disco.
“Antes de fazer qualquer álbum oiço muito o que se fez e no fundo este álbum reflecte isso mesmo, fui ouvir aqueles que são referências”, afirmou a fadista.
"Vira dos malmequeres", que evoca "a saudosa memória de Raul Solnado", é o tema de abertura do álbum.
"Um tema que não é do repertório fadista, é do cancioneiro popular mas que a Amália cantou, e que está ligado à saudosa memória de Raul Solnado", realçou.
A fadista é acompanhada à guitarra portuguesa por Guilherme Banza, à viola por João Mário Veiga e no contrabaixo por Rodrigo Serrão. Conta ainda com a participação especial do guitarrista António Mão-de-Ferro.
“A participação de António Mão-de-Ferro, que é da área dos blues, foi por mero acaso, mas acho que são dois estilos que casam bem, o blues e o fado, gostei desta sonoridade e quis inclui-la no meu disco”, referiu.
A fadista afirmou que o CD foi concretizado "em tempo recorde", no meio das recentes viagens que realizou ao Canadá, Arábia Saudita, Bahrain e Noruega.
"Durante as minhas viagens fui digerindo a ideia e sei que as plateias reagem bem quando canto estes fados, 'Gaivota' ou 'Lisboa à noite'".
"Irei apresentar o CD ao vivo na FNAC do Chiado dia 14, pois quinta-feira irei estar a participar em Gotemburgo no Parlamento Europeu da Cultura", disse a fadista à Lusa.
O álbum gravado nos estúdios de Vale de Lobo, de Rui Veloso, inclui ainda os temas "Agora choro à vontade", "Nem às paredes confesso" e "Há festa na Mouraria". A fadista Katia Guerreiro, que dia 10 edita um novo álbum, e nas véspera dá uma conferência de imprensa em Lisboa no El Corte Inglés, inicia a 27 de Janeiro as celebrações dos dez anos de carreira na Filarmónica de Berlim, onde, além do concerto, irá realizar um "workshop" de fado.
Ora aí está, uma década que Katia Guerreiro pormete celebrar a rigor e, a menina que entrou no fado por acaso,se rfecordarmos entrevistas anetriores á imprensa, nomedamente devido a um disco de Amália que lhe foioferecido, atévai à Alemanha explicar o fado,isto é o "dar workshops de fado".
Em declarações à Lusa, a fadista afirmou que vai comemorar "muito a sério os dez anos de carreira" que se completam no próximo ano.
"Quero partilhar esta alegria com o público e todos aqueles que me têm seguido estes dez anos, que foram muito bem vividos e aproveitados por mim", disse a fadista.
Em 2010, Katia Guerreiro prevê ainda editar um novo álbum, a sair no segundo semestre.
As celebrações incluem "várias surpresas, algumas já na manga", e uma série de espectáculos, tanto em Portugal como no estrangeiro.
A fadista deverá realizar "uma grande digressão à Noruega", irá actuar em Israel, voltará aos palcos canadianos e sul-africanos, e em Junho efectua uma temporada de 12 concertos com a Orquestra da Normandia.
Katia Guerreiro editou o primeiro álbum, "Fado Maior", em Junho de 2001, um trabalho cujas vendas ultrapassaram os 10.000 exemplares em Portugal e a L´Empreinte Digitale garantiu a edição mundial em Novembro de 2002.
Em Dezembro de 2003 editou o segundo álbum, "Nas mãos do fado", e há cerca de quatro anos o álbum "Tudo ou nada", com qual se apresentou em várias salas e festivais de música, nomeadamente, o de Île de France, em Paris, o de Martigues e o Internacional da Canção do Cairo.
O ano passado, em Novembro, editou "Fado", pela Sony Music, em que interpreta temas de Florbela Espanca, Fernando Tavares Rodrigues, M.º Luísa Baptista.
8 de dezembro de 2009
"Senhor Galandum": novo disco de Galandum Galundaina
Sérgio Godinho, Uxia Senlle e Luís Peixoto (Dazkarieh) são alguns dos convidados que participam no sucessor de “Modas I Anzonas”, que será editado antes do fim-do-ano.
O terceiro álbum do quarteto transmontano Galandum Galundaina, denominado “Senhor Galandum”, volta ser editado pela Açor e mantém a mesma fidelidade do grupo em recuperar e fazer evoluir o repertório em língua mirandesa, servindo-se de uma panóplia muito mais diversificada de instrumentos (alguns deles construídos por Paulo Meirinhos) e convocando a presença de variadíssimos convidados: Sérgio Godinho (voz em “Coquelhada Marralheira”), a galega Uxia Senlle (voz em “La Galhina”), Luís Peixoto (bouzouki “Heilena” e “Fraile Cornudo”), João Paulo, (rigaleijo em “Coquelhada Marralheira”), Eliodora Ventura (voz “La Galhina” e “Mi madre tenie un huorto”), Helena Ventura (voz em “Mi madre tenie un huorto”) e o Coro Infantil da EB 1 de Miranda do Douro (em “La Galhina”). “Senhor Galandum” aventura-se ainda pelos territórios da música electrónica ao incluir uma remistura de “Nabos” assinada pelo também transmontano Hugo Correia dos Fadomorse.
Sobre os convidados, Paulo Meirinhos faz questão de frisar que Eliodora Ventura “é a minha mãe que muito tem contribuído para o repertório usado em Galandum”, já que “algumas das músicas ela cantava-as para adormecermos quando éramos pequeninos.”
Os Galandum Galundaina são:
Paulo Preto – Voz, sanfona, gaita de fuolhe, gaita sanabresa, dulçaina, flauta pastoril,
Paulo Meirinhos – Voz, rabeca, bombo, gaita galhega, gaita de fuolhe, rigaleijo, garrafa, pandeiro mirandês
Alexandre Meirinhos – Voz, caixa de guerra, bombo, cântaro, almofariz, pandeiro mirandês, sineta, chacalacas,
Manuel Meirinhos – Voz, flauta pastoril, flauta de osso, flauta transversal, kaval, tamboril, bombo, pandeiro mirandês, charrascas
fonte ~ crónicas da terra
7 de dezembro de 2009
Cantigas tradicionais portuguesas de Natal e Janeiras
por mais 4,90 com o Público
"Cá dentro": primeiro disco a solo de Sebastião Antunes
As canções deste novo projecto cruzam influências de várias culturas musicais, nomeadamente as de origem celta e mediterrânea e dos tradicionais europeus. Todas elas impregnadas da grande paixão que o músico e compositor tem manifestado pelos sons tradicionais. Por isso, em "Cá dentro" cruzam-se e envolvem-se universos diferentes que fazem indiscutivelmente parte do panorama afectivo do mentor do projecto "Quadrilha".
Este novo trabalho, em que Sebastião Antunes se faz acompanhar por Amadeu Magalhães (flautas e gaita de foles), Carlos Lopes (acordeão), Luís Peixoto (bandolim, cavaquinho) e Tiago Pereira (percussões) nasceu de uma forma muito especial como revelou o próprio músico.
"O conceito do disco foi o de nele incluir as canções que mais gostávamos. Os temas foram sendo gravados sem pressão e sem pressas. Muito deles nasceram em casa (na cave e num quinto andar, como se explica na ficha técnica) daí o "Cá dentro" que dá título ao cd".
Dos 12 temas incluídos apenas três ("A saia da Carolina", "Redondo" e "Dailadê") pertencem ao universo tradicional. Todos os outros são da responsabilidade exclusiva de Sebastião Antunes, que assina letra e música.
O Sebastião Antunes Trio, como agora designa a nova formação que dá alma a "Cá dentro", é um projecto a solo em que o autor e compositor toca algumas músicas originais e também muitos temas da tradição celta,de Trás-os-Montes, da Galiza, da Escócia, da Irlanda, da Bretanha.
Do alinhamento de "Cá dentro" fazem parte "Esquina", "Se ainda der para disfarçar" , "Turca" e a belíssima balada "Sabes eu também". Prossegue com "A saia da Carolina", "Niger", "Redondo", "As bruxas", "Por Granada", "Saharaoui" "Dailade" e termina com a "Chula da Lua" (faixa escondida).
4 de dezembro de 2009
"Três cantos" em DVD
"Hoje faz parte que também olhem para nós com uma vontade de conhecer e nesse sentido o nosso legado está diluído", disse.
José Mário Branco por seu turno afirmou: "o nosso legado é o que possa haver para a canção de qualidade, em que esse casamento das palavras com os sons musicais faça uma canção que possa elevar as pessoas".
"Canções que façam que as pessoas se sintam melhores e maiores, é essa a função da arte: nivelar por cima", rematou o cantautor.
Talvez por isto tenha sido "este ano de crise global" o que marca uma reunião agendada e sempre adiada desde há seis anos.
"Por razões várias da agenda de cada um nunca aconteceu juntarmo-nos, mas foi este ano de crise económica e também de valores que espoletou o desejo de mostrar a nossa música, não como exemplo, não somos nenhuns salvadores da pátria, mas a vontade de fazer um projecto artístico-cultural e que isso bata nas pessoas e as faça sentir mais fortes e portanto mais apetrechadas", disse Sérgio Godinho.
José Mário Branco e Sérgio Godinho consideram que há nas canções dos três "uma espécie de chão que as pessoas podem pisar com segurança" e em que perpassa "uma herança cultural comum que passa pelo José Afonso".
Para Sérgio Godinho, José Afonso "podia ter sido quarto canto, neste caso foi o público".
O autor de "Guerra e paz", um dos temas tocados no concerto, qualificou de "vibrante" o público com quem "houve uma partilha extraordinária" e considera que "essa emoção passa muito bem" tanto na edição em CD como em DVD.
"No caso do CD ao contrário do que é habitual não houve praticamente muito trabalho de estúdio", disse José Mário Branco.
Se houve "um público vibrante" que se sentiu "houve também o gozo de tocarmos juntos e tocarmos coisas de uns e outros", disse José Mário Branco.
Os dois músicos reafirmaram o seu "prazer" na redescoberta do seu próprio repertório e também pela "aprendizagem" do repertório de cada um, e de verem como cada um se "apropriava" das canções do outro.
Referindo-se à "partilha dos três rapazes" Sérgio Godinho referiu: "temos três universos compatíveis e às vezes complementares embora individualizados".
José Mário Branco salientando que "a canção tem sempre um contexto socioeconómico e que é sempre debate", sublinhou que "há uma panóplia de temas e de coisas da vida das pessoas nas obras dos três, além dos temas sociais e políticas".
Dia 07 de Dezembro é editado um CD duplo com 22 canções do espectáculo e uma "edição especial limitada" que inclui um livro com fotos dos ensaios e dos concertos e um texto principal, da autoria do jornalista Nuno Pacheco, dois CD com o concerto e dois DVD. Um DVD regista o concerto e o outro é o documentário "Tudo faz parte" realizado por André Godinho, que regista o trajecto dos três músicos e o processo de trabalho do "Três Cantos".
Além das duas noites no Campo Pequeno (22 e 23 de Outubro) os três músicos subiram ao palco do Coliseu do Porto dias 31 de Outubro e 01 de Novembro. No total assistiram mais de 17.000 pessoas, e "a porta fica aberta para uma nova hipótese" de se voltarem a juntar "se houver a oportunidade", disseram os dois músicos.
Extravanca! : Corridinho 6/8
Entre a tradição e a modernidade, guiados pelo património musical de uma terra ancorada entre o mar e a montanha, e alimentada por um riquíssimo passado histórico (gregos, romanos, árabes), o grupo francês Dites 34 e o acordeonista português João Frade apresentam EXTRAVANCA!
Uma adaptação contemporânea das músicas tradicionais do Algarve.
3 de dezembro de 2009
MU ganham Prémio Paredes
O júri integrou José Jorge Letria, Pedro Osório, Ruben de Carvalho e Pedro Campos.
O prémio, no valor de 2 500 euros, será entregue sexta-feira no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, e contará com uma curta actuação do guitarrista Pedro Jóia, premiado em 2008.
Os MU surgiram no Porto em 2003 como um projecto de fusão da música tradicional portuguesa, com recurso a instrumentos de diferentes culturas do mundo. Em 2005 editaram o álbum Mundanças e três anos depois Casanostra, agora distinguido.
Músicas do mundo em livro
"Músicas do Mundo" "é uma (quase) tradução da expressão 'World Music' que, desde há uns 20 anos, tem designado, para um universo anglo-saxónico, tudo o que não é música desse universo", escreve, na introdução, o autor, que se estreou na actividade radiofónica em 1982.
A obra "é uma introdução à temática da 'World Music'", fornecendo anda uma lista de 'links' para sítios na Internet nos quais se podem aprofundar os assuntos, disse hoje José Eduardo Braga à agência Lusa.
Licenciado em Direito e Literaturas Clássicas pela Universidade de Coimbra, o autor da obra colaborou em vários programas de divulgação de músicas do mundo, em especial de música jamaicana. Colabora ainda com a revista MACA - Magazine de Arte de Coimbra & Afins, na qualidade de crítico de discos e de concertos.
A publicação insere-se na colecção Estado da Arte, da Imprensa da UC, que apresenta obras em formato de livro de bolso e está "vocacionada para a abordagem didáctica de grandes temas da actualidade por especialistas de reconhecido mérito".
30 de novembro de 2009
Contexto e Significado: 15 anos d'Orfeu
Porque serão 15 anos de constante e intensa actividade cultural, tendo Águeda por epicentro, para todo o país e estrangeiro.
Até lá, fica uma pequenina espreitadela ao vídeo documental que Tiago Pereira está a realizar sobre o "Contexto e Significado" da d'Orfeu Associação Cultural.
29 de novembro de 2009
[1 em 2] Cavalo à solta
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.
Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.
Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.
Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.
Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.
José Carlos Ary dos Santos / Fernando Tordo
Fernando Tordo [Cavalo À Solta/Aconteceu na Primavera (Single), 1971]
Viviane [Rua da Saudade, 2009]
Mafalda Arnauth | Flor de Fado
Mafalda Arnauth
Magic Music, 2008
Falar sobre a renovação do Fado passa, obrigatoriamente, pelo percurso musical que Mafalda Arnauth tem traçado ao longo da sua discografia, caracterizada por uma sonoridade muito própria e distintiva, sem receios de fugir ao purismo e de se encontrar com outras estéticas musicais. Por isso, e seguindo uma linha de continuidade, "Flor de Fado" não soa a contraste e é a confirmação da universalidade da fadista, ao revelar-se neste disco em diversos estilos. Desde a canção ligeira, em "Flor de verde pinho", atè à música popular brasileira, no dueto "Entre a voz e o oceano" com Olivia Byington, passando por um folclorismo mais tradicional de "Quem me desata" (fado alfacinha) ou até mesmo "Tinta verde", um dos temas mais populares de Vitorino.
Paralelamente, outro sinal de renovação é o realçar de novos instrumentos solistas, nomeadamente o piano e a guitarra acústica, em detrimento do habitual papel de destaque da guitarra portuguesa, como é o caso de "Amor abre a janela" e "O mar fala de ti", ambos poemas de Tiago Torres da Silva e dois dos momentos mais belos do disco.
Certamente que este é o trabalho mais pessoal de Arnauth, que assina grande parte dos poemas e composições, confessando-nos o seu lado mais intimo, despido de pudores, entre desabafos de amor, anseios, quereres e desalentos, que fluem através duma interpretação intensa e envolta de muita beleza, à qual não é possível ficar indiferente. Mafalda Arnauth transmite, assim, a essência de ser fadista: sentir e fazer sentir.
Alinhamento:
- Amor abre a janela
- Porque é feito de alegria
- Entre a voz e o oceano
- O mar fala de ti
- Povo que lavas no rio
- Quanto mais amor
- De tanto querer (fado vitória)
- Flor de verde pinho
- Porque eu não sei mentir
- Ir contigo
- Tinta verde
- Agarrada ao chão
- Quem me desata
- Por querer bem
- Na cor do nosso sorriso
Gravado e misturado por Fernando Nunes nos estúdios "O pé de vento" em Janeiro e Março de 2008.
Edição e masterização por Fernando Nunes e Luís Pontes nos estúdios "O pé de vento".
Voz: Mafalda Arnauth; Guitarra acústica: Luís Pontes, Ramón Maschio; Guitarra portuguesa: Ângelo Freire; Baixo acústico: Fernando Júdice; Contrabaixo: Luís Pontes; Piano: Ernesto Leite; Violoncelo: Davide Zaccaria; Shaker: Ramón Maschio
Fotografia: Kenton Thatcher; Design: Luís Carlos Amaro
27 de novembro de 2009
"Vira dos Malmequeres" em exclusivo
Até lá, e para reforçar a ânsia da espera e o momento da descoberta, no blog oficial da fadista já se pode ouvir "Vira dos Malmequeres", o primeiro tema deste seu novo trabalho.
26 de novembro de 2009
'The Times' elege 'Fado Curvo' como um dos discos da década
Segundo álbum da cantora portuguesa foi considerado o sexto melhor disco de 'world music' dos anos zero pelo jornal britânico. Em primeiro lugar ficou 'The Radio Tisdas Sessions' dos Tinariwen. Distinção vem confirmar a boa aceitação da mais importante fadista portuguesa da última década no mercado internacional
Em época de balanços de fim de década, é difícil ignorar um nome: Mariza. Sabia-se que os discos da voz que ajudou a definir o som dos anos zero portugueses iam figurar nas listagens nacionais dos melhores da década, mas o reconhecimento internacional pode surpreender alguns. Ontem, o jornal britânico The Times elegeu Fado Curvo como o sexto melhor álbum de world music dos últimos dez anos, em lista liderada por The Radio Tisdas Sessions dos Tinariwen. No jazz vencem os EST, com Live in Hamburg, na pop, Kid A, dos Radiohead, e na clássica, Doctor Atomic Symphony, de John Adams.
A distinção apanhou Mariza de surpresa. Ao telefone com o DN, que lhe deu a notícia em primeira mão pelas 16.00 de ontem, antes de entrar no Programa do Jô, da Globo, a fadista revelou ter ficado "surpresa e muito feliz" com esta distinção. "É um dos meus discos mais sérios, mesmo em termos poéticos. Gravei-o a seguir ao Fado em Mim, e acho que é mais duro e menos aberto", diz. "E é bom ver a música portuguesa reconhecida no estrangeiro".
No entanto, este reconhecimento não é nada de novo, principalmente em Inglaterra. Assim que se estreou em disco, no princípio da década, a fadista recolheu uma série de louvores, nacionais e internacionais, foi comparada a Amália, deu a volta ao mundo em digressão, recebeu um prémio de world music promovido pela BBC Radio 3. De então para cá, não tem parado de somar prémios e elogios.
Como se explica então este sucesso? De acordo com o The Times, a cantora é incontornável porque "pegou numa sonoridade antiga e desacreditada - neste caso o fado, os blues de Portugal - e tornou-a contemporânea e sexy, vendendo-a a um público que até então a tinha ignorado". O jornal declara ainda que "uma participação no [programa de televisão] Later With Jools Holland foi o suficiente para se tornar uma estrela".
A justificação pode ser discutível, mas é impossível negar a importância de Mariza no actual panorama musical português. Até porque, cinco discos, incluindo um registo ao vivo, e múltiplas platinas depois de se ter estreado com Fado em Mim, a cantora é hoje uma referência internacional.
fonte ~ dn
[1 em 2] Fado loucura
Como sei
Vivo um poema cantado
De um fado que eu inventei
A falar
Não posso dar-me
Mas ponho a alma a cantar
E as almas sabem escutar-me
Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou
Nesta voz tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vida
A loucura, ouço dizer
Mas bendita esta loucura de cantar e sofrer
Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou
Júlio de Sousa
Carlos Zel
Mariza
Adega Machado encerra
A gerência da sala de espectáculos assume estar "atolada em dívidas" e, na sequência do fecho, há 28 pessoas no desemprego, dos quais quatro são fadistas, dois guitarristas e seis integram um grupo de folclore em regime de colaboração.
"Não vai voltar a abrir. As dívidas foram-se acumulando desde 2001. A minha vida foi destruída ali dentro", disse ao CM, com mágoa, o actual gerente, Filipe Machado. Na lista das facturas em falta estão pagamentos a fornecedores, IVA e contribuições à Segurança Social.
Quem não se conforma com a situação são os ex-funcionários da casa de espectáculos, fundada em 1937 pelos artistas Armando e Maria de Lourdes Machado, que dizem ter "casa cheia" aos fins-de--semana. A fadista Ana Carvalho reconhece que já houve crises, mas até agora passageiras: "Durante estes meses foi das casas de fado que melhor trabalhou. O que houve foi má gerência. Andamos todos num desespero", lamentou-se ao CM.
fonte ~ correio da manhã
23 de novembro de 2009
21 de novembro de 2009
Musifesto: convite a todos os músicos
20 de novembro de 2009
Era uma vez na Galiza [José Afonso, Agosto 1979]
Um concerto de José Afonso em Cangas de Morrazo (perto de Vigo) num velho teatro municipal. Acompanhava-o eu, Henri Tabot e Guilherme Inês.
Chegados à hora do espectáculo, deparámo-nos com um público, a meio da plateia, de seis pessoas! A minha reacção (suponho que a dos meus colegas) foi a de não tocar. E o Zeca disse não!
Tocados os 17 ou 18 temas ensaiados pelo grupo, José Afonso pegou na viola e sozinho, tocou cantando mais oito temas entre os quais "Catarina" - a primeira vez que o ouvi cantar assim. Estranho. As seis pessoas de pé aplaudiram incansavelmente José Afonso e durante muito tempo. Como se a sala estivesse cheia. Só mais tarde percebi que o Zeca, nesse dia, tinha deixado seis amigos na Galiza.
Karrossel
Partindo da pesquisa e recolha, Karrossel propõe uma viagem global pela música e dança tradicional europeia, essencialmente portuguesa, que gradualmente vai ganhando mais projecção no "movimento tradball" nacional.
17 de novembro de 2009
16 de novembro de 2009
José Afonso: As voltas de um andarilho
"Este livro, tal como um primeiro esboço realizado em 1983 e a edição de 1999, não é, nem pretende ser, uma biografia de Zeca Afonso", disse Viriato Teles à agência Lusa, qualificando-o antes como uma "reportagem biográfica" que reúne "fragmentos da vida e obra" do cantautor, como indica o subtítulo, acrescentando tratar-se de uma edição revista e actualizada da publicada em 1999.
Para Viriato Teles, a edição que vai agora para as bancas é "apenas um pequeno contributo para que a memória de José Afonso não se apague", embora lhe pareça que o o músico "está hoje mais vivo do que nunca, incluindo junto dos mais jovens, que se identificam cada vez mais com a obra" do autor de "Baladas de Coimbra", "Coro dos Caídos" ou de "Cantares de Andarilho".
Prova disso é a quantidade de versões de canções do autor que têm sido publicadas depois da morte de José Afonso,e que atingiram um pico bastante elevado em 2007, ano do 20.º aniversário da sua morte, quando saíram "sete ou oito discos" dedicados à obra do compositor, sustenta.
"A obra do Zeca mantém-se viva, não apenas pela universalidade da música, como pela modernidade e actualidade das letras. Afinal de contas o "Menino do Bairro Negro" e "Os vampiros" continuam actuais e andam por aí, assim como continuam actuais todos os pressupostos cantados pelo Zeca", justifica.
Viriato Teles fundamenta a obra agora editada com o facto de este ano se assinalar o 80.º aniversário do nascimento de José Afonso, razão por que considerou oportuno actualizar a edição de 1999, há muito esgotada, "corrigindo e actualizando o que era necessário", incluindo a publicação de uma "listagem tão exaustiva quanto possível de toda a discografia do Zeca, e novas fotografias, algumas das quais inéditas".
Entre os dados que se mantêm da edição de 1999 conta-se o prefácio de Sérgio Gódinho, em que o músico considera José Afonso "um génio".
Uma listagem da discografia que contabiliza temas de José Afonso em mais de 200 discos (à data da escrita do livro, que só inclui discos dos quais houvesse no mínimo duas referências e que já está desactualizada, já que desde que a obra foi para a tipografia mais temas de José Afonso surgiram noutros trabalhos discográficos, observa.
José Afonso nasceu em Aveiro a 02 de Agosto de 1929 e morreu em Setúbal na madrugada de 23 de Fevereiro de 1987.
fonte ~ dn
João Afonso e João Lucas : A Presença das Formigas [Um Redondo Vocábulo, 2009]
Nesta oficina caseira
A regra de três composta
Às tantas da madrugada
Maria que eu tanto prezo
E por modéstia me ama
A longa noite de insónia
Às voltas na mesma cama
Liberdade liberdade
Quem disse que era mentira
Quero-te mais do que à morte
Quero-te mais do que à vida
José Afonso
Duarte apresenta novo álbum
O fadista que foi um dos convidados da noite celebrativa dos 50 anos de carreira de Maria da Fé subiu ao palco do Coliseu com uma nova imagem, mais solta e liberta, mas sempre cantar muito bem e é seguramente um dos mais seguros valores fadistas no futuro.
À Lusa Duarte afirmou: "O disco começou a ser pensado como quem pensa uma exposição de quadros, quadros muito vivenciais e intimistas que falam de coisas que toda a gente pode viver ou já viveu, daí o título: 'Aquelas coisas da gente'".
As seis letras de Duarte são para melodias tradicionais fadistas como o fado menor ("Fado Novembro"), fado Franklin de sextilhas ("Fim da Primavera"), fado Alberto ("Eu sei que foste eterna numa hora"), fado Carriche ("Aquelas coisas da gente"), fado das horas ("Cá dentro") e fado cigano ("És luto e melancolia").
O fadista afirmou que quando começou, em 2004, nos circuitos do fado em Lisboa, tinha já feito "uma investigação quer sobre algumas melodias tradicionais e como se relacionam com algumas letras e até sobre certas letras".
Duarte assina ainda a música e letra de dois temas, "Terra da melancolia" e "Évora doce", além de recriar uma canção de Jorge Palma, "Lado errado da noite", e cantar um tema em grego e português, "Cigarro_To tsigaro", de Eleni Zioga e Evanthia Rempoutsika.
O cantor é ainda o autor de uma composção para uma letra de Teresa Font, "Mistérios de Lisboa", que é a banda sonora do documentário homeónimo de José Fonseca e Costa.
"Estas são histórias que fazia sentido contar. Claro que há também uma relação intra-psíquica, de mim para mim mesmo", afirmou.
Referindo-se à sua faceta de letrista, Duarte afirmou: "Desde pequeno gosto desta coisa das palavras, que eu faço letras e não poemas".
Em termos musicais Duarte afirmou à Lusa que o seu caminho "passa por outras coisas além do fado tradicional", mas salientou que "é dele que deriva tudo".
"Há que respeitar o legado tradicional, e inovar só numa contextualização, além do mais mesmo nos temas menos fadistas, o ambiente musical é o mesmo", referiu.
Neste cuidado musical Duarte sublinhou "o empenho, talento e sabedoria" de Carlos Manuel Proença, que produziu o álbum editado pela JBJ.
Duarte é acompanhado neste álbum por José Manuel Neto e Bernardo Couto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola, Daniel Pinto no baixo acústico, Quim Correia no baixo eléctrico e percussões e Luís Clode e Luís Cunha no violoncelo.
Editado finalmente, o CD que estava pronto desde Outubro do ano passado, Duarte quer saber "das coisas dos outros, se o disco faz sentido, para onde leva as pessoas".
"A minha entrega está feita, mas não quero ficar fechado em mim e quero saber em que é que este disco diz aos outros, os faz crescer".
"A nossa formação como pessoas é cada vez mais importante e seremos tão melhores artistas quanto melhores pessoas formos, e isso torna o nosso trabalho mais valioso", sentenciou.