6 de julho de 2010

O fado de Deus em Quissamã

Quissamã é a localidade na Baixada Fluminense onde o fado é cantado à viola e ao adufe ou pandeireta, e com palmas, e também dançado em cruz, outrora dançava-se com tamancos, hoje dos tamancos só a memória.
“Os tamancos – claramente de origem europeia – serviam também para o batimentos de palmas”, explicou o sociólogo.
Machado Pais registou em quatro dias depoimentos e actuações tendo realizado um documentário de 33 minutos intitulado “O fado é bom demais…” que é apresentado dia 06 de Julho às 18:30 no Museu do Fado em Lisboa.
Investigador Coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Machado Pais afirmou à Lusa que este “fado tem claramente marcas que foi levado daqui [de Portugal] para lá, e depois tem algumas incorporações de outras tradições”.
A Baixada Fulminense é uma região de forte presença colonial portuguesa, onde os Jesuítas tiveram grande influência e “este fado vem do tempo da escravidão, das casas grandes e senzalas”.
“Não é o fado que estamos habituados a ouvir mas também nada nos garante que o que hoje ouvimos tenha semelhanças com o que se fazia em 1830 e 1840”, acrescentou.
“Este fado que surge no Brasil, dançado e cantado, tem marcas lusas”, reforçou o sociólogo.
“Um traço comum que passa por este fado é o sentido do improviso, o repente”, disse Machado Pais acrescentando que “as melodias passam de geração para geração, não há pautas, e os temas cantados estão cheios de ais, ais, muitos ais, ais, falam do quotidiano e também de saudade”.
A nostalgia do fado é, segundo o investigador, recusada pelos seus cultores de Quissamã que afirmam que “o fado é de Deus, e daí ser dançado em cruz”.
Em Quissamã - cuja especialidade em doçaria é o pastel de nata - há até "a lenda de que Jesus Cristo chegou lá certo dia com um pandeiro e uma viola debaixo de cada braço e assim ensinou o fado”, contou José Machado Pais.
O investigador afirmou que o fado que ainda se dança em Quissamã, pois corre risco de extinção, “tem semelhanças com o vira português e o fandango”.
“Há um filão de explicação analógica com o fandango e até com as quadrilhas, dança levada para o Brasil por D. João VI” em 1808.

Poderá espreitar o documentário em http://www.youtube.com/watch?v=sw6m1YPk6eQ.

fonte ~ hardmusica

1 comentário:

VELHOGRAMOFONE disse...

Curioso este texto vindo do Brasil... Mais um caminho que se vem juntar à nova estrada que o livro do José Alberto Sardinha começou a trilhar... Tive pena de não poder assistir, mas tudo farei para ver de que forma é possível ver este trabalho de investigação que me aguçou o apetite...
Obrigado pela notícia, bem hajas...