Pedro Caldeira Cabral (Lisboa, 1950), um dos mestres da guitarra portuguesa, lançou-se ontem, na Casa da Música, ao desafio de gravar o terceiro álbum ao vivo - o primeiro no País. "Normalmente temos um dia de ensaios, preparação e montagem, para este temos apenas uma hora." O resultado? "É um bocado sem rede. Mas a minha experiência diz-me que as coisas correm bem", vaticinou, esperançado na realização do 15.º disco de uma carreira com 42 anos.
"Para já é ainda um plano de intenções", amacia para poder explicar porque não pode sequer referir com que editora está a ser feito este "trabalho sem rede". No entanto, nota-se que Cabral está optimista na gravação (dirigida pelo engenheiro Amândio Bastos) das peças tocadas pelo trio constituído pelo próprio, por Joaquim António Silva (guitarra clássica) e Duncan Fox (contrabaixista da Orquestra Sinfónica Portuguesa) há coisa de 20 anos.
"Vamos apresentar três peças inéditas, nunca tocadas ao vivo. Duas delas são da minha autoria: a Astoriana [homenagem ao argentino Astor Piazzolla] e Balada do Tejo", explica, em conversa com o DN, o autor da celebrada Balada da Oliveira, que data dos anos 70, mas está bem viva - "é a minha peça mais emblemática, a primeira da série Baladas das Seis Árvores, da qual muitos guitarristas fizeram versões e que, também por isso, deixei de tocar".
Muitos dos quais guitarristas jovens, diga-se. E sublinhe-se: "Por vezes, esquecemo-nos da guitarra portuguesa para nos centrarmos nos nomes das pessoas. A guitarra portuguesa está numa fase de ressurgimento, depois de ter tido muito sucesso antes do fado e, depois, ter ficado algo colocada de lado", contextualiza. "Sim, era vista um bocado como 'aquilo que acompanhava a Amália'", admite. "Hoje em dia, no entanto, vêem-se cada vez mais jovens intérpretes a descobrir e a tocar guitarra portuguesa", acrescenta, notando a ressureição de um instrumento muito próprio, tão próprio e característico como o fado.
"Não há nenhuma guitarra na Europa que seja parecida. A única que se aproxima é uma prima alemã que foi inspirada na nossa, a Waldzither", enfatiza aquele que é um dos nomes cimeiros da guitarra portuguesa actual. "As comparações com o Carlos Paredes vêm do facto de ambos termos provocados rupturas na tradição", alega. "Este espectáculo é Guitarristas Lendários dos últimos 200 anos. Incluir-me pode ser pretensioso, mas as rupturas justificam-no."
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