24 de janeiro de 2010

Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX

"Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX" pretende forçar criação de museu.

A origem da obra hoje lançada (19.00, Teatro S. Carlos), a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, é tão remota como as reclamações da directora do projecto para a criação de um Museu da Música que conserve em registos sonoros mais de cem anos. Salwa Castelo-Branco, professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa e directora do Instituto de Etnomusicologia, dirigiu uma equipa de mais de 150 pessoas durante 12 anos e o resultado são quatro volumes (360 páginas cada), mais de 1200 entradas e 550 fotografias, de Quim Barreiros a Jorge Peixinho, do fado ao pop-rock. A música toda. "Espero que sirva para que o Governo leve a sério a necessidade de se criar um museu."

"É preciso um arquivo sonoro e eu ando há muitos anos a pedi-lo. Há muito que faz falta um Museu de Música, um local que reúna a história musical dos últimos 100 ou 110 anos, desde que se inventou o gramofone", explica Salwa. E desmistifica: "Com as tecnologias actuais seria bem menos dispendioso do que se pensa."

Para já, fica, então, uma espécie de primeira pedra. A Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX está hoje disponível e será apresentada num Teatro de S. Carlos já com lotação esgotada. E só se verá ainda o primeiro volume (de A a C). Os restantes três volumes chegarão em Março (C a L), em Maio (L a P) e Julho (P a Z). Cada um, com 360 páginas, percorre toda a música, do fado à pop, da música popular à erudita, passando pelos artistas e grupos migrantes (Bonga, por exemplo). Custará 24,9 euros, para quem o subscreva na fase inicial, e passará para 29,9 euros posteriormente, altura em que poderá sair do circuito restrito dos sócios do Círculo de Leitores e chegar às livrarias Círculo e Debates.

Portanto, foi construída uma autêntica arca de Noé musical do século XX. De Amália ou Carlos do Carmo a José Afonso; de Quim Barreiros a Lopes Graça; dos Xutos & Pontapés a Jorge Peixinho. É só dizer um nome que estará, certamente, entre as 1200 entradas deste dicionário, com índice temático e onomástico. Além de entradas mais estruturais, a explicar os tipos de música e a sua história.

"Este foi um trabalho que começou em 1997", começa por enquadrar Salwa Castelo-Branco. "Embora remonte a 1995, quando me foi encomendado um dicionário multimedia de cultura expressiva". "Numa primeira fase, varremos toda a literatura, discografia, entrevistámos músicos, críticos, melómanos, etc.", diz. "Para evitar um conjunto disperso, quando recolhemos as informações de mais ou menos 400 entrevistas, a equipa de 155 redactores teve de confirmar todos os dados biográficos e históricos, cruzando-os com outras as fontes", prossegue.

"Começámos por recolher informação básica sobre músicos do século XX e, depois, chegámos a um ponto em que foi possível pôr que uma determinada pessoa se notabilizou", desenvolve.

E os critérios de selecção foram essenciais, passando pelos inevitáveis números de discos vendidos ao contributo que marcou a evolução de determinado estilo. "Até pessoas pouco conhecidas, como por exemplo Vergílio Pereira [Douro Litoral] e Artur Santos [Angra do Heroísmo], foi possível recuperar", ilustra Salwa, que espera que isto "seja a ponta do iceberg para os investigadores aprofundarem". Porque há "muito mais. Pelo menos para mais uma edição. Temos muito material que só precisaria de mais de investigação", conclui. Sob consultadoria geral de Rui Vieira Nery, o núcleo duro de Salwa foi constituído por António Tilly, Rui Cidra, Hugo Silva, Pedro Félix e Pedro Roxo.
fonte ~ dn

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