30 de junho de 2009

Tarab: o regresso de Danças Ocultas

Danças Ocultas apresentam "Tarab", um novo formato de espectáculo com elementos multimédia interactivos, de reacção sonora e emocional decorrentes da música, mas é também o título do próximo disco.

O conceito "Tarab", usado no norte de África, assenta na ideia de um nível superior de consciência colectiva, atingido numa performance, partilhado entre artista e público.

Na sequência do álbum "Pulsar" (2004) e da convivência com outros instrumentos e vozes, eis que surge "Tarab": um regresso ao ensemble original, com incidência na aptidão expressiva da concertina e na capacidade emotiva da própria música dos Danças Ocultas.

"Tarab" será editado em Outubro pela Numérica – Produções Multimédia, Lda, e o concerto de lançamento do disco será no dia 3 de Outubro, às 18h30, na sala Jardim de Inverno, no Teatro São Luiz de Lisboa.

Próximos concertos:

09 de Julho_21:30_Festas do Almonda_Torres Novas

17 de Julho_Sesimbra

24 de Julho_21:30_AgitÁgueda_Águeda

26 de Julho_21:30_Centro Cultural e Congressos_Caldas da Rainha

24 de junho de 2009

Uxu Kalhus : Círculo Dança Espiral [Transumâncias Groove, 2009]

50 anos de Fé no fado

Celebra 50 anos de carreira a 25 e 26 nos coliseus de Lisboa e Porto, mas a sua vida são as casas de fado. No Porto nasceu Maria da Conceição e Lisboa baptizou-a Maria da Fé. Tinha 18 anos, hoje tem 64. Prometeu cantar até que a voz lhe doa. Mas só dói o fado.

Cantar, cantou sempre, desde que se lembra. Mas naquela noite foi eleita rainha das cantadeiras. Foi em 1959, tinha ela 15 anos e já cantava em festas e na escola. Guarda ainda um diploma de canto dessa altura. Com um prémio de nove escudos. Nesse ano ainda ninguém ouvira falar de Maria da Fé, nem podia ter ouvido, porque a jovem nascida no Porto a 25 de Maio de 1945 se chamava Maria da Conceição Costa Marques. E só era conhecida por Maria da Conceição, onde quer que cantasse. Ela lembra-se bem desses dias. "Participei numa revista com artistas do Porto, fiz tudo o que era possível em espectáculos", diz ao P2. "Fazia primeiras partes de espectáculos com a Amália, com a escola de samba da Maria Della Costa e com vedetas que iam de Lisboa para o Porto."

Tudo isto no Porto, claro. "A base do que eu cantava era fado, mas também canções de que eu gostava como Canção da Nazaré, de Maria de Fátima Bravo. Foram feitos dois fados para mim, para a minha idade, por um senhor que dirigia um parque infantil onde eu ia brincar aos baloiços. Com 11 anos, não era bom cantar fados de amor."
Maria trabalhava com autorização do Tribunal de Menores e quando decide vir para Lisboa tirar a carteira profissional, perto de fazer os 18 anos, teve que escolher um nome artístico diferente. "Não era permitido haver dois artistas com o mesmo nome e já havia uma fadista chamada Maria da Conceição, criadora da Casa portuguesa e da Mãe preta, que por acaso também era mulher de um guitarrista do Porto."

Sorte: o poeta Francisco Ferreira, conhecido por Radamanto (1908-1972), apresentou-a a Armando Machado, o dono da Casa Machado, e este convidou-a a ir nessa mesma noite à sua casa de fados. "Já não me deixou vir embora, contratou-me." E foi ali que, numa discussão entre Radamanto e o fadista Raul Dias, ela acabou por ficar Maria da Fé. Radamanto defendia o nome de Maria da Sé. "Talvez por ele ser um bocado mais bairrista."

Pé direito e pop-fado

Cantar já ela cantara muito, mas gravar ainda não. Até que um dia aconteceu, no Porto. "O meu primeiro disco foi um EP, com quatro fados: dois meus e dois do Fernando Manuel, que era um rapaz que cantava na Viela. Gravámos num sítio incrível, uma cave de uma casa de electrodomésticos na Rua de Santa Catarina, em frente ao Majestic, que era do Arnaldo Trindade. Gravei Eu canto fado e Sou tua, do Casimiro Ramos." O autor, que era guitarrista, mais tarde contou-lhe que estava a ouvir rádio enquanto fazia a barba, ouviu-a e ficou surpreendido. Pensou que a Amália tinha gravado o fado dele.

Mas não era Amália, era Maria da Fé, que gostava muito dela e evitava comparações. "Eu apareci com a Amália viva e bem viva, e isso para mim é que é muito importante. Ela era o meu ídolo, mas chegaram a dizer que eu era a segunda Amália, a nova Amália. E eu dizia sempre, ainda digo: não sou a segunda Amália, sou a primeira Maria da Fé."
Da Adega Machado, onde ficou dois meses, passou à Parreirinha. Uns turistas que a ouviram foram dizer a Teodoro dos Santos, que a convidou para cantar no Casino Estoril. "Costumo dizer que entrei com o pé direito. A Adega Machado estava no auge. A Parreirinha era uma casa de grande prestígio. E o Casino Estoril foi uma honra."

Espectáculo de variedades com um apontamento de fado, 14 dias. Com a orquestra de Ferrer Trindade. "Depois voltei para a Parreirinha, mas tive um interregno na minha vida e voltei para o Porto. Mas já não me adaptava e regressei a Lisboa. Foi então que foi cantar para A Tipóia, com um grande senhor que se chamava Manuel de Almeida."
E ali recebeu mais um convite, que a fez sair pela primeira vez do país, em 1965. "Foi de um português que tinha um restaurante em Newark que se chamava Estoril Lounge. Estive lá 16 dias, mas só cantava às sextas, sábados e domingos à tarde. Não gosto de viajar, mas foi muito bom para mim." Esse ano foi também o da gravação do polémico Pop-Fado. "A ideia foi do José Duarte e de um senhor chamado Raul Calado, homens do jazz, que me ouviram cantar na Tipóia. Foi gravado com a guitarra portuguesa do Fontes Rocha, bateria e guitarra eléctrica. Tinha quatro fados, mas só gravei três: Lugar vazio, criado pelo Tony de Matos; o Fado faia, criação da Berta Cardoso, e O namorico da Rita. Ficou por gravar a voz, porque me constipei, na Janela do rés-do-chão, um fado marcha, fado canção. Ficou só o instrumental."

Se tivesse menos 20 anos...

No regresso da América, vai para a Taverna do Embuçado. E é convidada para ir ao Brasil por uma temporada. Mas entretanto conhecera no Embuçado aquele que é hoje o seu marido, o compositor José Luís Gordo. "Quando fui para o Brasil, já ia com a cabeça à toa. Custou-me muito cumprir aquele contrato e contava as horas, minutos e segundos para voltar. Estávamos apaixonados, eu sofria por ele, ele sofria por mim." Casaram em 1968 e, quase em simultâneo, o disco com o fado Valeu a pena torna-se um sucesso.

Outro sucesso seu foi Cantarei até que a voz me doa, escrito por José Luís Gordo. A primeira gravação, para a Valentim de Carvalho, não saiu do anonimato. Só à segunda, já com o fado musicado por Fontes Rocha, feita para a Rádio Triunfo, triunfou de vez. "A partir daí nunca mais parei. Fiz espectáculos por todo o sítio e não fiz mais porque sou um bocadinho preguiçosa e porque tenho medo de andar de avião." Numa digressão à Austrália e ao Brasil, custou-lhe muito deixar a primeira filha, ainda com dois anos. E no Brasil, onde chegou a gravar um LP na Fermata, ganhou zero: o empresário faliu. Mas quando voltou, mais tarde, na primeira ponte cultural Portugal-Brasil (1984), o seu nome teve até direito a ficar registado numa canção de Caetano Veloso, Língua, no disco Velô (1989): "Nomes como Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé."

Em 1969, estava ainda na Parrerinha, tornou-se a primeira fadista a cantar num festival da canção. Defendeu Vento do norte, de Francisco Nicholson e Braga dos Santos, a convite dos autores. Foi no mesmo ano em que ganhou a Desfolhada, de Simone. Em disco, foi mais um êxito. Dos vários que gravou em muitos discos, ao longo dos anos.
Apesar de ter cantado em numerosos palcos e países, Maria da Fé ainda diz: "A minha vida são as casas de fado." A tal ponto que, desde 1975, é dona de uma, o Sr. Vinho. A ideia não foi dela, mas do marido em parceria com o fadista António Mello Correia.

Mas é em palcos bem maiores que vai festejar agora os 50 anos de carreira: dia 25 de Junho no Coliseu de Lisboa e dia 26 no do Porto. Mais uma vez, não foi ideia dela e nota-se-lhe até um nervosismo à flor da pele só de falar no assunto. Mas no palco tudo mudará, disso também não duvida. No horizonte, mais para o final do ano, pode haver novo disco e o primeiro DVD. Para já, nos coliseus, terá a seu lado vários fadistas que já passaram (ou continuam) pelo Sr. Vinho e que ela muito preza: Ada de Castro ("da minha geração"), Camané, Aldina Duarte e António Zambujo. Os músicos serão José Manuel Neto e António Parreira, na guitarra portuguesa; Carlos Manuel Proença na viola de fado; e Daniel Pinto (Didi) no baixo. De tudo, ela diz. "Não gosto das coisas a curto prazo. Ao longo destes 50 anos nada foi programado, tudo aconteceu: casar, ter filhos, ter a casa de fados. Nem nunca pensei cantar." Mas, lá diz a canção, cantará até que a voz lhe doa. Não a obriguem é a dizer o que vai fazer amanhã. Ela faz e pronto. "Apareci na altura certa, não estou nada arrependida. Mas gostava de ter menos 20 anos. Não só pela minha vida artística, mas para ter mais tempo para as minhas netas."

22 de junho de 2009

Madredeus : Moro em Lisboa [Um amor infinito, 2004]

Que outra cidade, levantada sobre o mar
A beira-rio acabou por se elevar
Entre dois braços de água
Um de sal outro de nada
Agua doce água salgada
Aguas que abraçam Lisboa
É em Lisboa que o Tejo Chega ao mar
É em Lisboa que o mar azul recebe o rio
É essa brisa que no faz
Promessas de viagem
Brisa fresca que reclama
Nas nossas almas ausentes
Saudade, cidade
Do sal do mar
Moro em Lisboa
E entrei, pequei
Saudade, cidade
Do sal do mar
Moro em Lisboa
E entrei, peguei
Moro em Lisboa
Entrei, pequei...

"Fado Nosso" o novo disco de João Braga

Quando em 2005 João Braga foi alvo de uma delicada intervenção cirúrgica, reavaliou a vida e disso deixou testemunho no livro “Ai Este Meu Coração”, editado no ano seguinte.
Agora, é ele próprio que encara “Fado Nosso”, título sugerido por Manuel Alegre, o poeta mais cantado neste novo disco, como um renascimento.
Tendo em conta a elevada qualidade poética aqui presente — além de Alegre, há poesia de Luiz de Camões, Vinícius de Moraes, David Mourão-Ferreira, António Tavares-Telles e Eduardo Valente da Fonseca, entre outros — é impossível esquecer que João Braga tem vindo a ser um dos mais dignos seguidores de um percurso iniciado por Amália Rodrigues, ao trazer para o fado os grandes poetas da língua e da alma portuguesas.
Mas também ao nível musical este trabalho se destaca, já que alia de forma magistral versões de temas clássicos de Carlos Ramos, de Alfredo Marceneiro ou de Joaquim Campos a novas composições de Nuno Rodrigues (num sempre aguardado regresso à escrita musical), de Arlindo de Carvalho (o autor do eterno “Chapéu Preto”) e do próprio João Braga.
Por último, importa destacar as presenças especiais de Manuel Alegre (no recitativo de “Soneto de Separação”) e da jovem fadista Cuca.
O brilho instrumental das melodias é dado por Jaime Santos Jr., José Luís Nobre Costa e Joel Pina — três dos músicos mais prestigiados do nosso fado —,em conjunto com um dos valores mais recentes da nova geração de guitarristas: Pedro de Castro.

19 de junho de 2009

Júlio Pereira : Escrever o sol [Janelas Verdes, 1990]

técnica vocal e/ou canto lírico | Porto

Professor e Cantor Lírico, com vasta experiência no espectáculo da Arte de Bel Canto, premiado com os 1ºs prémios de vários Concursos de Canto, dá aulas de Técnica Vocal e/ou Canto Lírico para quem esteja interessado a descobrir, aperfeiçoar ou dinamizar a sua voz!

Técnica de Canto Italiana.

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Nota: Saber ler música, tornará mais rentável o trabalho a efectuar.

18 de junho de 2009

António Zambujo : Amor de mel, amor de fel [Outro sentido, 2007]

Tenho um amor
Que não posso confessar...
Mas posso chorar
Amor pecado, amor de amor,
Amor de mel, amor de flor,
Amor de fel, amor maior,
Amor amado!

Tenho um amor
Amor de dor, amor maior,
Amor chorado em tom menor
Em tom menor, maior o Fado!
Choro a chorar
Tornando maior o mar
Não posso deixar de amar
O meu amor em pecado!

Foi andorinha
Que chegou na Primavera,
Eu era quem era!
Amor pecado, amor de amor,
Amor de mel, amor de flor,
Amor de fel, amor maior,
Amor amado!

Tenho um amor
Amor de dor, amor maior,
Amor chorado em tom menor
Em tom menor, maior o Fado!
Choro a chorar
Tornando maior o mar
Não posso deixar de amar
O meu amor em pecado!

Fado maior
Cantado em tom de menor
Chorando o amor de dor
Dor de um bem e mal amado!

Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves

Fadista António Zambujo lança cd no Rio de Janeiro

O fadista português António Zambujo lança hoje no Rio de Janeiro o CD "Outro Sentido" (MP,B/Universal), considerado pela revista Songlines `Top of the World Album`, um dos melhores do ano de 2008 na área da World Music.

Zambujo, de 34 anos, fará um show de lançamento do seu terceiro CD no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico do Rio às 20:30 (0:30 em Portugal).

O CD, editado em 2007 em Portugal, será lançado no Brasil com três faixas extras trazendo duetos com Ivan Lins ("Bilhete", de Lins e Vitor Martins), Roberta Sá (em "Fado partido", de Pedro Luís com Ricardo Cruz, contra-baixista de Zambujo) e Zé Renato (em "Se tu soubesses", de Cristóvão Alencar e Georges Moran).

fonte ~ rtp

14 de junho de 2009

Lenga Lenga : Pingacho

Mirandeses Lenga Lenga lançam «L Teçtemunho»

O quarteto de gaiteiros de Sendim Lenga Lenga editam no próximo mês de Julho o álbum «L Teçtemunho», que presta tributo aos antigos tocadores de gaita-de-foles do planalto mirandês como José Maria Fernandes e Ângelo Arribas e dá também a conhecer uma nova geração de músicos locais, casos de Vanessa Martins e Ângela Topa.

Henrique Fernandes (voz, gaita de foles mirandesa, percussões tradicionais, flauta pastoril, tamboril e gaita de beiços), David Jantarada (voz, caixa de guerra, percussões tradicionais), Telmo Ramos (voz, percussões tradicionais, Bombo, Pandeiro) e Dinis Arribas (voz, percussões tradicionais, flauta gaita de foles mirandesa), editam «L Teçtemunho» num ano em que comemoram 10 anos de existência. Efeméride que será celebrada em pleno festival Intercéltico de Sendim com a apresentação do repertório tradicional mirandês deste disco, constituído por cantigas de serão, cantigas de desafio ou de segada, tocadas essencialmente por gaita-de-foles mirandesa, flauta pastoril de três buracos e caixa de guerra. Foi, curiosamente, na quarta edição deste festival sendinês que os Lenga Lenga gravaram ao vivo o seu primeiro disco, editado pela editora Sons da Terra de Mário Correia.

fonte ~ crónicas da terra

Hermínia Silva : Fado da Sina

Reza-te a sina nas linhas traçadas na palma da mão,
Que duas vidas se encontram cruzadas no teu coração.
Sinal de amargura, de dor e tortura, de esperança perdida,
Destino marcado de amor destroçado na linha da vida.

E mais se reza na linha do amor que terá de sofrer
O desencanto ou leve dispor de uma outra mulher.
Já que a má sorte assim quis, a tua sina te diz...
Que até morrer, terás de ser, sempre infeliz.

Não podes fugir, ao negro fado mortal,
Ao teu destino fatal,
Que uma má estrela domina.
Tu podes mentir às leis do teu coração,
Mas (ai!...) quer queiras quer não,
Tens de cumprir a tua sina.

Cruzando a estrada na linha da vida traçada na mão,
Tens uma cruz à feição mal contida, que foi uma ilusão:
Amor que em segredo, nasceu quase a medo, p’ra teu sofrimento,
E foi essa imagem a grata miragem do teu pensamento.

E mais ainda te reza o destino que tens de amargar,
Que a tua estrela de brilho divino deixou de brilhar...
Estrela que Deus te marcou, mas que bem pouco brilhou
E cuja luz, aos pés da cruz, já se apagou.

Amadeu do Vale / Jaime Mendes

Hermínia Silva: a sacerdotisa do Fado

Hermínia Silva nasceu em Lisboa. No ano de 1907 e numa passada gigante por todo o século. Estreou-se na opereta ‘Ouro sobre Azul’, no Parque Mayer, e a sua última aparição foi naquele lugar no ABC e na revista ‘Cada Cor seu Paladar’.

A sua carreira foi todo um vendaval de emoções. Cantando nos retiros fadistas. Com uma originalidade e encanto a marcar toda a sua geração.

Era uma mulher extremamente humorada, de muito bom gosto. Lutadora das grandes causas, esteve sempre na primeira linha de muitas batalhas.

Cantou Lisboa como ninguém. Os mais entendidos dizem que ela era um fenómeno na forma como esbanjava "saúde e muito fado bem cantado".

Nas revistas que fez foi dona e senhora com "os fanáticos admiradores" a persegui-la na plateia. E foram dezenas de revistas.

Hermínia cantava e "a crítica social" era o seu forte. Se Alfredo Marceneiro era o ícone do fado tradicional a par de Ercília Costa, Hermínia levou o fado até as grandes salas do mundo, com as guitarras e violas e as maiores orquestras.

Interpretou fados que ainda hoje permanecem na memória colectiva.

OS FADOS INESQUECÍVEIS

Idolatrada, pode-se dizer, por todo um público, Hermínia Silva interpretou fados inesquecíveis. ‘Fado da Sina’ e ‘A velha Tendinha’ até ‘A Casa da Mariquinhas’ ou o ‘Marinheiro Americano’ (com aquele braço no ar em estilo único) e tantos outros. A sacerdotisa do fado nunca mais será esquecida.

O CINEMA CHAMOU POR ELA

O cinema chama-a. Pela beleza e talento. Interpretou ‘Aldeia da Roupa Branca’, ‘O Costa do Castelo’ ou ‘O Diabo era Outro’.

Abriu ‘O Solar da Hermínia’ na sua Lisboa e um mar de gente durante anos a fio ia vê-la e ouvir cantar.

Houve quem a chamasse "a sacerdotisa do Fado" pela maneira como Hermínia sabia conquistar as plateias.

Morreu no Dia de Santo António (13), fez ontem 16 anos.

Carlos Castro (carlos.castro.jornal@gmail.com)

12 de junho de 2009

Gaiteiros de Lisboa : O fim da picada [Sátiro, 2006]

Amélia Muge - José Manuel David

Nuno da Câmara Pereira lança «Lusitânia»

O novo álbum de Nuno da Câmara Pereira, «Lusitânia», pretende «mostrar o brio de ser português» e como «a nossa cultura se mistura com outras», sendo também uma homenagem a Artur Ribeiro, disse o fadista à Lusa.

De Artur Ribeiro, interpreta os temas «Fado Rock», com música de António Rebocho, e «Cha, cha, cha p´ra namorar», musicado por João Vasconcelos.

«Este álbum é também uma homenagem a Artur Ribeiro, que foi um grande nome da música portuguesa, conhecido no mundo inteiro, que se cruzou comigo várias vezes, cantei dele por exemplo a 'Rosinha dos limões' e que faleceu no anonimato e em condições difíceis. Já doente, a única pessoa que o visitava era Amália», disse o fadista.

«Os temas que escolhi parecem, espantosamente, feitos para hoje», sublinhou o artista.

Além deste dois temas, Nuno da Câmara Pereira recria outros, designadamente «Lenda das rosas», «Senhora do Monte» ou «Igreja de Santo Estêvão».

«Fez sempre parte do fado fazer do antigo novo. Não faz sentido progredir no fado sem encontrar novos sons para músicas antigas», argumentou o artista.

fonte ~ diário digital


10 de junho de 2009

Coro infantil EMtrad: convite às crianças | Águeda

O Coro Infantil EMtrad’ surge como um espaço de expressão vocal onde se pode experimentar, partilhar e brincar com a voz.

Este Coro pretende, através de canções tradicionais infantis, sejam locais, nacionais ou até internacionais, explorar as potencialidades da voz enquanto instrumento de diversão, improvisação
e criatividade. Aprendendo em grupo, a voz cresce e com ela, a confiança, os sonhos e a imaginação.

Assim, convidamos todas as crianças que queiram participar neste projecto a preencher e entregar a pré-inscrição na d’Orfeu. Será validada após um primeiro encontro com a Formadora, para conhecer as aptidões vocais dos pequenos grandes cantores.

Pré-inscrição online

Quando
: Sábados 10:00-12:00
Local:
d’Orfeu Associação Cultural, Águeda
Inscrições:
gratuitas
Idade:
a partir dos 6 anos

Maestrina:
Stanislava Pavlov
Pianista:
Ann Marie Simões / Miguel Rodrigues

9 de junho de 2009

Deolinda : Clandestino [Canção ao lado, 2008]

a noite vinha fria
negras sombras a rondavam
era meia-noite
e o meu amor tardava

a nossa casa, a nossa vida
foi de novo revirada
à meia-noite
o meu amor não estava

ai, eu não sei aonde ele está
se à nossa casa voltará
foi esse o nosso compromisso

e acaso nos tocar o azar
o combinado é não esperar
que o nosso amor é clandestino

com o bebé, escondida,
quis lá eu saber, esperei
era meia-noite
e o meu amor tardava

e arranhada pelas silvas
sei lá eu o que desejei:
não voltar nunca...
amantes, outra casa...

e quando ele por fim chegou
trazia flores que apanhou
e um brinquedo pró menino

e quando a guarda apontou
fui eu quem o abraçou
o nosso amor é clandestino

Pedro da Silva Martins

Deolinda: The Times elogia a sensualidade de Ana Bacalhau

A crítica ao concerto do projecto português em Londres destaca as "ancas infinitamente agitadas" e o "humor contagiante" da cantora.

O jornal The Times deu quatro estrelas (em cinco) ao concerto dos Deolinda na sala ICA, em Londres. A crítica assinada pelo jornalista Clive Davis destaca a prestação de Ana Bacalhau: "uma figura sensual, abençoada com umas ancas infinitamente agitadas e um humor contagiante", que esteve no centro das atenções "ajudada pelo facto de falar um inglês excelente".

O sucesso foi tal que o jornalista começa o texto da seguinte forma: "Não há dúvidas: da próxima que voltarem, vão estar a tocar numa sala maior". Além de dizer que o projecto pode vir a fazer concorrência séria à "rainha do fado", Mariza, os elogios estendem-se ao álbum de estreia Canção ao Lado , uma das mais "animadoras edições do ano".

Depois de elogiar o fado dos Deolinda, a crítica diz ainda que uma ou duas melodias acústicas têm "uma subtil pitada de indie-rock" e que "se Jarvis Cocker [Pulp] tivesse crescido em Lisboa talvez tivesse escrito algo tão aguçado quanto 'Mal por Mal'".

Para ler a crítica na íntegra, basta seguir o link para o Times Online.


fonte ~ blitz

7 de junho de 2009

Cristina Branco : Bomba relógio [Kronos, 2009]

O teu amor quando palpita
verdade seja dita
põe rastilho no meu peito
trinta batidas num só beijo
sem defeito.

Feito tac e tic
o teu amor rebenta o dique
feito tic e tac
o teu amor passa ao ataque
feito tac e tic
o teu amor rebenta o dique
feito tic e tac
eu à defesa ele ao ataque
e toca e foge e toca e foge
é uma bomba relógio

O teu amor quando palpita
verdade seja dita
faz-me atrasar os ponteiros
como a ostra esconde a pérola
aos viveiros.

Feito tac e tic
pérola solta-se a pique
feito tic e tac
faz-me o coração um baque
feito tac e tic
pérola solta-se a pique
feito tic e tac
faz-me o corpo todo um baque
e toca e foge e toca e foge
é uma bomba relógio.

Sérgio Godinho



Arquivos do Fado - Amália, Maria Alice, Ercília Costa

A nova colecção 'Arquivos do Fado' devolve aos nossos dias gravações originalmente lançadas em discos de 78 rotações. Amália Rodrigues, Ercília Costa e Maria Alice surgem nos três primeiros volumes.

Com coordenação executiva de José Moças e João Afonso e editada pela Farol, apresenta fonogramas históricos digitalmente restaurados.


Amália Secreta (1953-1958)

Este último disco contém uma importantíssima investigação, levada a cabo por um jovem argentino – Ramiro Guinazú - que fez da sua vida uma busca contínua acerca da carreira da grande diva do fado. Nele poderemos ouvir, fruto dessa investigação, além de outras importantes interpretações, 11 temas inéditos em CD, uma preciosidade para a qual não precisamos de adjectivos!

É Amália no seu esplendor, num documento único da história discográfica da cantora, no ano em que se comemoram 10 anos sobre o seu desaparecimento físico!


Maria Alice (1929-1931)

Maria Alice evidenciou-se nas lides do Fado mercê das suas invulgares faculdades de intérprete da humilde canção do povo, que ela sabia valorizar com a sua voz privilegiada. Ingressou nas fileiras do fado, tornando-se na década de 20 a estrela do pitoresco retiro “Ferro de Engomar”.

Foi nessa época de oiro, que agora aqui começamos a revelar quem mais disco gravou.

Neste CD apresentamos as suas primeiras 20 gravações.


Ercília Costa (1929-1930)

O fado tem em Ercília Costa uma das suas mais legítimas e fiéis intérpretes.

“Sereia peregrina do Fado”, no dizer de alguns críticos, “Santa do Fado”, no dizer de outros, Ercília foi inquestionavelmente uma grande cantadeira.

Acompanhada na maioria das suas interpretações pelo grande Armandinho, a sua linda voz é agora recordada na sua plenitude, através das primeiras 20 gravações da sua carreira.

6 de junho de 2009

Augusto Canário e Naty à desgarrada


O que é a desgarrada?

Se falarmos com qualquer alto-minhoto, e lhe perguntarmos que é uma "desgarrada", logo a seguir dizem: então a senhora não sabe? é o cantar ao desafio. Mas, o facto de cantar ao desafio não é privativo de alto-minhotos, nem sequer de minhotos, dado que existe em outras regiões de Portugal, como também não é privativo de portugueses, já que existe, com outras denominações, é claro, em diversas regiões pelo mundo fora.
Desgarrada, tal e como reza o dicionário, é aquela canção popular que se caracteriza por ser entoada alternadamente por duas ou mais pessoas, ao desafio, sendo a letra geralmente improvisada.
Canta-se pois ao desafio em Portugal, e não só. Na Galiza, este género é denominado "regueifa" e era cantado antigamente nos casamentos. Em verdade, a regueifa era o bolo de casamento que os noivos ofereciam a quem, de entre os moços, for o melhor cantador a desafiar aos outros, sempre improvisando, a reclamar a regueifa. Por extensão é que o cantar ao desafio na Galiza é chamado regueifa, e os seus cantadores regueifeiros.
Hoje em dia ficam alguns (poucos) regueifeiros velhos na zona de Bergantiños -infelizmente acaba de falecer o "Calviño"-. Mas desde a Associação ORAL estão a tentar revitalizar esta tradição, organizando work-shops e encontros, e estão a consolidar-se cantadores novos como Luís "O Caruncho" ou "Pinto de Herbón", que estão a puxar da regueifa com muita força.
Se formos para a América do sul, temos, quer no Brasil, quer na Colómbia, os "repentistas". Os repentistas são as pessoas que cantam aquilo que sai num "repente", isto é, num impulso, sem pensar. Assim tão lindamente é definido o improviso por aquelas bandas onde, ainda hoje, é uma tradição em toda a sua vigência.
Em Portugal não é só no Minho que se canta ao desafio. "... por vezes chegava lá à festa uma daquelas pessoas que tinha jeito para cantar ao desafio. Na altura encontrava-se com outra pessoa das mesmas características ... e vê lá, que da alegria do encontro começavam a sair quadras, era uma maneira da saudar, de começar o encontro na festa.." Eis o que nos contavam em S. Pedro do Sul, na Beira Alta, a Rosa Branca e o Zé Fernando, elementos do grupo Alafum.
Os beirões chamam a este género "fado beirão" ou "fado à desgarrada", mas normalmente abreviam para fado. E, tal como os minhotos, apreciam o segundo sentido no fado. Mas reconhecem que, para a desgarrada não há como os minhotos, com a sua alegria e a sua facilidade para a piada.
Na zona de Lisboa também há desgarrada, mas em forma de fado, fado castiço. Também é divertido, mas não é tanto no improviso.
No Alentejo canta-se ao desafio em duas formas diferentes: ao baldão e ao despique. No cantar ao despique parte-se de um "mote" e daí se pega num tema que se desenvolve. O cantar ao baldão já o próprio nome diz: à balda, isto é canta-se, vai-se respondendo e vai-se improvisando. Na Madeira chamam-lhe também despique e é muito parecido com o minhoto.
Nos Açores há também uma forma de cantar que é "As Velhas", que se adapta a um improviso.
Fernando Peneiras

[1 em 2] Lisboa que amanhece

Sérgio Godinho, 1987



Tuna Académica de Lisboa, 2007

2 de junho de 2009

Ana Laíns edita "Vida" em Outubro

Após a boa recepção por parte da critica e do público ao seu disco de estreia "Sentidos", Ana Laíns regressa agora a estúdio para gravar o seu 2º álbum "Vida".
A tournée de "Sentidos" passou por Portugal, Espanha, Itália, França, Grécia, Bélgica, Alemanha e Luxemburgo.
Este novo trabalho! conta com a produção de Diogo Clemente que assume também os arranjos e a gravação da viola de Fado. Tem ainda os músicos: Marino de Freitas e Nando Araújo no Baixo, Bernardo Couto e Ângelo Freire na guitarra portuguesa, Ruben Alves, Paulo Loureiro e Filipe Raposo no piano, Pedro Santos no acordeão e Vicky na percussão.
"Vida" faz uma incursão pelo Fado e pela música tradicional portuguesa. As composições são maioritariamente originais e têm a assinatura de Diogo Clemente, Amélia Muge, Miguel Rebelo, Filipe Raposo, José Manuel David, Samuel Lopes entre outros. Quanto a palavras, a própria estreia-se na escrita com o poema "Não sou nascida do Fado" e podemos encontrar também poemas de Amélia Muge, Natália Correia, Carlos Drumond de Andrade entre outros ilustres, havendo lugar também para duas recuperações de clássicos da música portuguesa.

"Vida" é uma edição Difference e tem lançamento previsto para Outubro deste ano.

Carminho : Escrevi teu nome no vento [Fado, 2009]

Escrevi teu nome no vento
Convencido que o escrevia
Na folha dum esquecimento
Que no vento se perdia

Ao vê-lo seguir envolto / Na poeira do caminho
Julguei meu coração solto / Dos elos do teu carinho

Em vez de ir longe levá-lo / Longe, onde o tempo o desfaça
Fica contente a gritá-lo / Onde passa e a quem passa

Pobre de mim, não pensava / Que tal e qual como eu
O vento se apaixonava / Por esse nome que é teu

E quando o vento se agita / Agita-se o meu tormento
Quero esquecer-te, acredita / Mas cada vez há mais vento


Jorge Rosa / Raúl Ferrão *fado carriche*


Fados dos tempos das grafonolas na era digital

A nova colecção 'Arquivos do Fado' devolve aos nossos dias gravações originalmente lançadas em discos de 78 rotações. Amália Rodrigues, Ercília Costa e Maria Alice surgem nos três primeiros volumes.

Gravações de finais dos anos 20 e inícios dos anos 30 de Ercília Costa e de Maria Alice, e um conjunto de temas originalmente registados por Amália Rodrigues nos anos 50, correspondem aos três primeiros volumes de uma nova série de edições discográficas que a partir de hoje chega às lojas. Com o título Arquivos do Fado, a série, com coordenação executiva de José Moças e João Afonso e editada pela Farol, apresenta fonogramas históricos digitalmente restaurados.

Estamos assim, além do reencontro com gravações históricas de Amália Rodrigues, perante o reencontro com duas vozes marcantes do fado na primeira metade do século XX. Ercília Costa (1902-1985) foi a primeira fadista portuguesa a ter grande exposição internacional, tendo realizado digressões em França, Estados Unidos e Brasil, e mantido também uma carreira como actriz de revista e, mais tarde, no cinema. As suas gravações são quase todas anteriores a 1950 e, por isso, um tanto esquecidas nos nossos dias. No disco agora editado são recuperados o seu histórico Fado de Alfama, entre outros, em gravações de 1920 e 1930.

Maria Alice (1904-1997) foi outra das primeiras vozes do fado a conhecer gravação. Cantou em diversas casas de fado e chegou a actuar no Brasil. O disco desta colecção que lhe é dedicado recorda-a em gravações efectuadas entre 1929 e 1931.

Já o volume dedicado a Amália Rodrigues revela outra etapa na história do fado, recuperando uma série de gravações editadas em discos de 78 rotações originalmente lançados entre 1953 e 58, e que correspondem a uma etapa de grande projecção internacional da sua carreira.

Esta nova colecção surge após mais de uma década de investigação entre colecções privadas, arquivos públicos e alfarrabistas. Como explica depois Maria de São José Côrte-Real no booklet de um dos volumes da colecção, "a qualidade sonora dos fonogramas originais das grandes empresas discográficas da época a operar em Portugal e no Brasil (...) foi agora refinada". Os discos foram submetidos a um processo de tratamento áudio que mantém as características técnicas das gravações de então, "de modo a oferecer a máxima fidelidade possível relativamente ao som captado na época".

O objectivo principal desta nova série é o de "dar a conhecer ao grande público uma parte significativa e totalmente desconhecida das gravações realizadas em Portugal desde o seu ponto de partida", no início do século XX.

Os três primeiros volumes, que hoje chegam ao mercado, evocam três das maiores vozes femininas do fado na primeira metade do século.

Nuno Galopim